Releitura da memória colonial Com 26 obras de 12 artistas contemporâneos, exposição Necrobrasiliana traz novos olhares, traços e interpretações nas telas, com releitura e reinvenção do acervo documental brasiliana

Publicação: 15/09/2022 05:45

Novas simbologias criadas a partir de registros de cartógrafos, fotógrafos, escritores e cientistas que vieram ao Brasil entre os séculos 16 e 19, como Albert Eckhout, Frans Post, Jean-Baptiste Debret e Auguste Stahl, compõem a exposição Necrobrasiliana. A mostra, com 26 obras de 12 artistas contemporâneos, será inaugurada hoje, às 18h, e ficará em cartaz até 29 de janeiro, na Galeria Vicente do Rego Monteiro, da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), campus Derby. A visitação é gratuita e ocorre nos seguintes horários: terça a sexta, das 14h às 19h, sábado, domingo e feriado, das 13h às 17h.

A mostra traz novos olhares, traços, memórias e interpretações nas telas, com a proposta de fazer uma releitura e reinvenção do acervo documental brasiliana. O curador e pesquisador da Fundaj, Moacir dos Anjos, ressalta que Necrobrasiliana faz uma crítica às imagens da memória colonial, ao racismo implícito nelas e que se perpetua nos livros de história, em propagandas e até mesmo no vestuário. “As obras dos 12 artistas que integram a exposição fazem essa crítica e defendem a construção de uma nova sociabilidade. Outra forma de vida, mais inclusiva e justa, onde se possa superar essa memória apaziguada que se tem deste país cordial. Reconhecendo, assim a violência no processo de colonização do Brasil  e, a partir desse reconhecimento, criar outras formas de vida no país”, destaca.

Necrobrasiliana foi apresentada entre junho e agosto deste ano no Museu Paranaense (Mupa). As obras são dos artistas Ana Lira, Dalton Paula, Denilson Baniwa, Gê Viana, Jaime Lauriano, Rosana Paulino, Rosângela Rennó, Sidney Amaral, Thiago Martins de Melo, Tiago Sant’Anna, Yhuri Cruz e Zózimo Bulbul. Única pernambucana na mostra, Ana Lira utiliza fotografias feitas em casas, praças e ruas para registrar desde celebrações familiares a eventos artísticos. Em sua obra, Ana Lira traz uma narrativa sobre os movimentos culturais e suas redes de expansão na Várzea, que teve uma contribuição muito importante  para a sua família, que reside na região há mais de 40 anos. O bairro da Zona Oeste do Recife é conhecido por território criativo fundamental na cidade. “Na Várzea, há práticas criativas que vão do bordado ao fazer das rezadeiras, do canto à pintura, da fotografia e cinema aos grupos de côco de roda, bois e maracatus, das criações têxteis ao teatro. Há diversas pessoas trabalhando cotidianamente para fortalecer a teia coletiva da região”, explicita a artista.

Durante a abertura da exposição, o público poderá conferir também a palestra e apresentação da performance inédita Angu, da artista visual maranhense Gê Viana. Viana é um dos nomes que compõem Necrobrasiliana. Na série Atualizações traumáticas de Debret, ela apresenta títulos como Cultivo de cogumelos e Sentem para jantar, revisitando as aquarelas do francês durante sua estadia no Rio de Janeiro no século 19. Em sua releitura, a maranhense redistribui a forma como os personagens negros ocupam as cenas das telas.