Genial nome da arte de emocionar Aclamado por público e crítica, Gilberto Braga é biografado por Maurício Stycer e Artur Xexéo. "Vale Tudo", obra-prima do roteirista, volta às telas em 2025

ROBSON GOMES

Publicação: 18/03/2024 03:00

Para quem escreveu cerca de trinta obras audiovisuais para a TV Globo entre episódios de Caso Especial, novelas para todos os horários e minisséries, ter cerca de 350 páginas para resumir sua vida e obra em um livro parece pouco. Principalmente quando nos referimos a um dos nomes que revolucionou a teledramaturgia brasileira. Assim foi Gilberto Braga, um dos grandes autores da emissora carioca, que faleceu aos 75 anos, em outubro de 2021, e agora está imortalizado na obra biográfica Gilberto Braga, o Balzac da Globo (Editora Intrínseca, 2024), escrita pelos jornalistas Artur Xexéo e Maurício Stycer.

A concepção do livro por si só já chama a atenção. Por dentro do projeto desde o começo, Gilberto começou a dar entrevistas para Xexéo em 2019. O processo seguiu até meados de junho de 2021, quando o jornalista veio a falecer. Três semanas depois, o autor de novelas contatou Maurício Stycer para dar prosseguimento e finalização à publicação. E exatos quatro meses após a partida do primeiro autor, o biografado também veio a óbito.

Mas para Stycer, foi um prazer poder mergulhar no universo de um Gilberto Braga que poucos conheciam até então. "Foi surpreendente porque conhecia muito pouco, apenas as coisas mais clichês que se falavam sobre o Gilberto antes de ser autor de novelas", conta o autor por telefone, em entrevista ao Diario.

Como se fosse uma novela, a publicação divide-se em duas fases: na primeira, somos apresentados ao Gilberto Tumscitz. Aquele que nasceu no bairro de Vila Isabel, no Rio de Janeiro. Filho de um escrivão de polícia e de uma dona de casa, que estudou em colégios tradicionais e cursou a faculdade de Letras. Que trabalhou dando aulas na Aliança Francesa e, posteriormente, como crítico de teatro e cinema do jornal O Globo.

Na segunda fase, aí sim, conhecemos o Gilberto Braga de maneira aprofundada, com seus amores e dissabores de ser um novelista, regado a muitos segredos de bastidores. E daí vem o apelido que está no subtítulo desta biografia, o Balzac da Globo, ou seja, uma comparação justificada pelo fato de fazer do dinheiro, da ambição e da vingança os temas centrais de suas obras. Pois por muitas ocasiões, Gilberto deixava claro que escrevia novelas apenas para ganhar bem e pagar suas contas.

"Ele nunca mentiu quando revelou que trabalhava por dinheiro. Mas quando ele começa a fazer sucesso, como em A Escrava Isaura (1976), e ele vê que realmente o país estava acompanhando a novela, ele começa a olhar o ofício com outros olhos", justifica Stycer.

Entre sucessos e fracassos, Gilberto Braga chegou ao fim da vida sem poder se reerguer do fiasco da novela das nove, Babilônia (2015). No livro, ficamos sabendo que ele idealizou e escreveu duas novelas (Intolerância e Feira das Vaidades) e uma minissérie, mas todos estes projetos foram engavetados pela TV Globo.

Vale remake?

Considerada a novela carro-chefe de Gilberto Braga e uma das principais obras da teledramaturgia brasileira, Vale Tudo está sendo invocada pela TV Globo para voltar às telas numa nova versão em 2025. Ainda não anunciado oficialmente pelo canal, já é certo que Manuela Dias - autora da série Justiça (2016) e da novela Amor de Mãe (2019) - está à frente da atualização do texto.

Maurício Stycer comenta que remexer na "obra prima de Gilberto" é um movimento natural e industrial. E não deve ser visto como algo que vai macular a novela original: "Acho que faz sentido você pensar que determinados públicos que não conhecem a obra possam ter acesso a uma versão nova. Ao mesmo tempo, não deixa de ser uma aposta. Pois assim como as novelas inéditas, você nunca sabe se um remake vai dar certo ou não. É esperar para ver o que vai ser".

Segundo o colunista Leonardo Ferreira, do jornal Extra, o processo de escalação do elenco já começou nos bastidores do canal. Taís Araújo é até agora o nome mais cotado para o papel de Raquel, vivida por Regina Duarte em 1988. Já Cauã Reymond foi cogitado para interpretar o mau-caráter César Ribeiro, personagem de Carlos Alberto Riccelli. A jovem Bella Campos, a Muda de Pantanal, faz teste para Maria de Fátima, que marcou a carreira de Glória Pires.

Para o emblemático papel de Odete Roitman, a Globo tem estudado duas possibilidades: Débora Bloch e Fernanda Torres. Além da atualização do texto, também está confirmado que o remake de Vale Tudo terá menos capítulos que a obra original.