O teatro através da crítica
Pesquisador Leidson Ferraz lança amanhã, no Santa Isabel, o livro "Ponto de Vista: Crítica e Cena Pernambucana", em que resgata os primórdios das publicações sobre o teatro que se fazia no estado
André Guerra
Publicação: 09/07/2025 03:00
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O autor destaca a importância do arquivo do Diario de Pernambuco para sua pesquisa |
Deixando o jornalismo para se dedicar ao universo teatral, como crítico e pesquisador — concluindo seu doutorado em Artes Cênicas em 2023 —, Leidson se lançou recentemente sobre o imenso desafio de estudar os primórdios da cena local.
Ao Viver, ele relembra a dificuldade de encontrar registros para além do Rio de Janeiro e de São Paulo. “Fui convidado para dar aula sobre as origens do teatro e percebi como havia poucos relatos da história teatral pernambucana e também de outros estados, então parti em busca dos jornais. As primeiras publicações do Diario, por exemplo, foram muito importantes para mim neste processo”, explica.
A intenção principal de Ponto de Vista é mostrar como surgiu a crítica de teatro por aqui, revelando a importância dela tanto na formação de público como na compreensão da própria ideia de espetáculo. Leidson narra que, no século 19, período estudado por ele, os primeiros escritos considerados como crítica eram opiniões não tão embasadas. Mas é através desses registros que, hoje, é possível historicizar o teatro com amplitude.
“É a partir dos arquivos de crítica que você consegue identificar que tipos de cenário, de figurino, de atores e de atuação eram valorizados na época. É por isso que escolhi a crítica para nortear a minha pesquisa”, afirma.
O livro destaca também a fase de mudanças de paradigma, quando o teatro musicado invadiu a cena brasileira, importado dos franceses. Através desses escritos reunidos, o autor revela como a crítica perdeu o ponto de referência nesse momento em que um novo tipo de interpretação começou a tomar conta de vários espetáculos.
“Os críticos frequentemente são iluminados e anteveem tendências, mas podem ser também retrógrados e elitistas em várias questões”, ressalta. “Eles exigiam naturalidade dos atores, por exemplo, e por isso ficaram desnorteados quando o teatro musicado chegou por aqui”, revela na conversa, discorrendo ainda sobre como os relatos trazidos pela publicação incluem uma série de dados importantes sobre o comportamento do público na época.
A pesquisa de Leidson segue desde os primórdios da crítica até as três primeiras décadas do século 20, com outros gêneros surgindo, além das novidades trazidas por companhias estrangeiras. Ele salienta que o Recife sempre foi um polo essencial no Brasil. “O porto da nossa cidade era estratégico geograficamente. Estávamos na rota do comércio e na rota teatral. As companhias que saíam do Rio de Janeiro necessariamente passavam por aqui”, pontua. “Todos os grandes artistas do século 19 vieram para cá, como o pioneiro João Caetano, que dá nome a um dos principais teatros cariocas. Sem falar em Furtado Coelho, Eugênia Câmara, Adelaide Amaral, entre tantos outros nomes”. Com tanta história, personagens e movimentos, o livro digital Ponto de Vista: Crítica e Cena Pernambucana, que pode ser acessado gratuitamente, é uma ode ao poder transformador da crítica e da encenação. Bravo!