Capital nordestina do rock Rock Rec Festival estreia na agenda cultural pernambucana com atrações locais e nomes consagrados do rock nacional

Allan Lopes

Publicação: 29/04/2024 03:00

No próximo sábado (4), o Rock Rec Festival promete transformar o Grande Recife na capital nordestina do rock. A estreia do evento na agenda cultural da cidade contará com dois palcos, em uma estrutura montada na área externa do Centro de Convenções, onde uma programação repleta de artistas consagrados irá evocar a ‘época de ouro’ do rock brasileiro. O público poderá escolher entre o Rock Front e o Rock Open, com open bar. Os ingressos custam, respectivamente, R$ 90 e R$ 220 e podem ser adquiridos através do site Meep ou nas lojas físicas do Ingresso Prime, localizada nos shoppings RioMar, Recife e Tacaruna.

Destinado especialmente ao público millennial (nascidos entre 1982 e 1994), o festival supre uma carência por um evento de grande porte no cenário do rock, da mesma forma que o samba e o trap já possuem. “A gente faz vários tipos de shows grandiosos e sentia falta de um evento de rock brasileiro, de rock nacional, que foi o intuito de juntar os maiores nomes do rock nacional nessa noite”, aponta Augusto Acioli, idealizador e produtor do Rock Rec Festival, do Samba Recife e do Recife Trap Festival.

Os Paralamas do Sucesso, Capital Inicial, Nando Reis, Humberto Gessinger, Nação Zumbi, Biquíni e Charlie Brown Jr. são as atrações nos dois palcos principais. O Palco Downtown, com bandas locais no line-up, traz MacFly, Parachutes, Papaninfa, Downtown Band e VitRaiz. Acioli expressa satisfação com a presença de todos os nomes, mas um deles se destaca devido aos esforços realizados para garantir sua participação. “Era um desejo muito grande que tivesse uma banda nacional, mas que fosse daqui do nosso estado, e a gente teve a felicidade muito grande de ter a Nação Zumbi nessa grade de atrações”.

Rock Rec Festival ocorre logo após a turnê de despedida do Titãs e o I Wanna Be Tour, ambos projetados para suprir as demandas nostálgicas de seus respectivos públicos. Na visão de Jeder Janotti, professor do Departamento de Comunicação da UFPE, a tendência mercadológica de explorar a nostalgia foi desencadeada pela disponibilidade de conteúdo rápido e acessível no Youtube, Spotify e outras plataformas de streaming. “Há um revival de vários gêneros musicais que eu acho que não é só uma causa, mas está ligado diretamente ao modo como nós passamos a consumir, arquivar e acionar nossas memórias musicais a partir das plataformas digitais. Houve um grande boom nostálgico”.

O caráter disruptivo e rebelde do rock foi incorporado por outras correntes, como o rap, resultando na visão predominante de que o rock “está morto”. Acioli discorda: “De jeito nenhum. Tanto que são feitos vários festivais pelo mundo, inclusive um dos maiores é aqui no Brasil, o Rock in Rio”. Desvinculada da atmosfera nostálgica de vários festivais e shows, a nova safra do rock, representada por bandas como Black Panther ou Krypta, também contribui para a revitalização do gênero com suas letras politizadas. “O rock heteronormativo e tradicional, que é frequentemente o foco dessas revivências nostálgicas, não é necessariamente o estilo de rock que a juventude que frequenta shows do Black Panther ou da Krypta está buscando”, aponta Janotti.

Para o professor, o ressurgimento da velha guarda do rock é reflexo da forma que o público millennial deseja consumir música, como exemplificado pelo sucesso da turnê Titãs: Encontro, que teve os ingressos esgotados em todo o Brasil, incluindo suas apresentações no Grande Recife. “O sucesso da turnê do Titãs mostra efetivamente um público que, em sua maioria, consumiu aquela música naquele momento em que foi lançada. Eles vão lá para reviver uma espécie de efeito de presença, que é parte também dessa ideia de nostalgia, ou de uma reencenação daqueles momentos que não são mais os mesmos, obviamente”.

Augusto Acioli assegura a realização da segunda edição do Rock Rec Festival, mas reitera o foco neste ano. “A gente já está bolando o evento do ano que vem, para ser ainda maior. Porém, neste momento, nosso objetivo principal é entregar um grande trabalho, um grande festival. Estamos totalmente focados no evento que acontecerá daqui a alguns dias. No entanto, assim que o festival terminar, já começaremos a pensar na edição do próximo ano.”