Arte de erros e risadas Natural de Garanhuns, o jovem artista Pedro Vinicio desmonta os conceitos de beleza e seriedade na arte com suas ilustrações bem-humoradas sobre a vida adulta

Allan Lopes

Publicação: 22/07/2024 03:00

Com 18 anos, o pernambucano Pedro Vinicio, de Garanhuns, não tem respostas para perguntas como “com que idade tudo dá certo?” ou “como chegar psicologicamente saudável em dezembro?”, mas consegue arrancar risadas de seus milhares de seguidores no Instagram com suas histórias engraçadas do cotidiano ilustradas por desenhos ‘ruins’, como ele mesmo descreve. E a diversão está longe de acabar, com um acervo digital que já ultrapassa as 3.400 criações.

Em 2020, no auge do isolamento provocado pela pandemia, o país estava inundado por um otimismo artificial de que “tudo vai passar”. Enquanto gurus e especialistas de fachada tentavam empurrar fórmulas de superação, Pedro só queria motivos para rir -  e muitas pessoas compartilhavam desse desejo. Seu estilo único de zombar do cotidiano fez com que seu número de seguidores disparasse e o tornasse conhecido entre figuras públicas como Taís Araújo, Selton Mello, Débora Falabella, Patrícia Pillar e Fernanda Lima. Atualmente, seu perfil @pedrovinicio80 possui pouco mais de 750 mil seguidores.

Apesar da pouca idade do jovem artista, a maioria dos comentários em suas postagens vem de millennials (nascidos entre 1982 e 1994). Isso ocorre porque ele aborda temas universais da vida adulta, como saúde mental, trabalho e a rotina das sextas-feiras em casa. Na visão dele, a constante exibição de vidas perfeitas nas mídias sociais faz com que as pessoas recorram ao humor autodepreciativo. “Todos estão um pouco transtornados devido ao excesso de influência das redes sociais e essa ideia de vida feliz”.

Cores intensas, um charme infantil e uma aparência desordenada definem o ambiente cheio de urgência e inocência que transparece na arte despretensiosa, porém rica em expressão, de Pedro. “A minha ideia era trabalhar em cima do erro. Quando erro, percebo logo. Ou seja, quando coloco aquele rabisco, posso ter errado. Às vezes erro, às vezes não. No começo, errei uma vez, e aí desfiz. Apaguei, mas ficou legal, então decidi deixar.” A paixão pelas artes surgiu ainda na escola, quando uma professora o convidou a pintar um muro. Em seguida, experimentou óleo sobre tela e, no início da pandemia de Covid-19, começou a usar aplicativos de ilustração no computador e no celular.

Ciente da sua responsabilidade, o artista não aborda temas sensíveis ou comentários pejorativos sobre grupos minoritários. “Eu não gosto de fazer aquelas piadas machistas. Mal me envolvo com essas coisas, não estou preocupado com isso. Penso em trazer um mundo mais... mais inclusivo. É uma risada que não envolve rir de minorias, sabe? Já estamos cansados disso. Prefiro fazer algo que todo mundo consiga rir, sem ofender ninguém”.

Pedro mantém uma média de 20 desenhos semanais, inspirado por amigos, familiares, estranhos e até pelo autor desta matéria. “Eu me inspiro em conversas, sabe? Tipo, estou tomando um café e tem um casal do meu lado. Ou quando uma amiga minha fala algo, já é uma fonte de inspiração. Essa conversa que estamos tendo agora, tudo isso me inspira”. O artista está criando uma série inédita de pinturas, com uma abordagem mais escura, marcando uma mudança em relação ao estilo que costuma compartilhar nas redes sociais.

Elogiado por renomados artistas como Laerte e Cildo Meireles, Pedro resume o sucesso de sua breve carreira com uma mistura de modéstia e timidez. “Já aconteceu muita coisa legal”. Ainda indeciso sobre o curso que irá escolher, ele afirma que não pretende deixar Pernambuco no curto prazo, mesmo estando distante dos principais centros da arte brasileira. “Eu decidi me mudar para ficar mais próximo da arte, mas hoje em dia, com a tecnologia, sinto que estou sempre conectado”.