Deus e o Diabo na Terra do Sol completa 60 anos Filme exibido pela primeira vez no Festival de Cannes, competindo pela Palma de Ouro, dando início à carreira de repercussão internacional de Glauber Rocha

André Guerra

Publicação: 10/07/2024 03:00

Um dos maiores clássicos do cinema brasileiro completa hoje 60 anos de sua estreia em território nacional. Dirigido por Glauber Rocha (1939-1981), grande expoente do Cinema Novo, Deus e o diabo na terra do sol foi exibido pela primeira vez no Festival de Cannes, competindo pela Palma de Ouro, e estreou oficialmente em 10 de julho de 1964, dando início à carreira de repercussão internacional do diretor baiano, então no seu segundo longa-metragem.

Protagonizado por Othon Bastos e Yoná Magalhães, o filme conta a história do sertanejo Manoel e da esposa Rosa, que levam uma vida de seca e sofrimento, mas com a esperança de conseguir uma partilha do gado com o coronel para poder, assim, comprar uma pequena terra para morar. No trajeto para fazer a divisão, porém, parte dos animais morre e o coronel se recusa a dar qualquer coisa a Manoel, que o mata com um facão e foge com a mulher mato adentro.

Escrito pelo próprio Glauber, Deus e o diabo na terra do sol possui as principais características que marcaram o movimento do Cinema Novo, em especial a chamada ‘Estética da Fome’, defendida pelo próprio cineasta em manifesto de 1965 e caracterizada pelo retrato cru do Sertão – transmitido através dos cenários reais, câmeras na mão e profunda liberdade artística para romper com convenções narrativas –, rejeitando a abordagem limpa e polida do cinema estrangeiro e da visão exótica diante daquela dura realidade.

Professor e doutor em Estudos Cinematográficos e Audiovisuais pela Université Paris 3, especializado na obra de Glauber Rocha, Alexandre Figueirôa destaca ao Viver a relevância histórica do longa para a cinematografia nacional. “O filme representou uma ruptura com uma certa esquematização que havia em torno da temática do cangaço. Os filmes de cangaceiro até então tinham sempre uma conotação de faroeste, que buscava um ‘bem e mal’ definidos, mas Glauber capta que existe uma contradição nesse tema, já que o cangaceiro é tão mocinho quanto bandido, e joga isso tudo no Deus e o diabo, que pega elementos do imaginário do sertão nordestino e traz para a tela de maneira ao mesmo tempo muito regional mas também universal. A repercussão que o filme teve na Europa, principalmente, foi de muita fascinação por parte dos críticos. É até hoje um dos maiores marcos do cinema brasileiro”, afirma.