Os azulejos coloridos do 'Gaudí brasileiro'
Obra de Estevão Silva da Conceição, ex-jardineiro e pedreiro, chama a atenção com moedas e carcaças de celulares, entre outros objetos
Publicação: 11/11/2024 03:00
Uma ladeira de Paraisópolis, a segunda maior favela de São Paulo, é o pedestal da obra de Estevão Silva da Conceição: um pitoresco castelo de geometria irregular que rendeu ao seu criador o apelido de “Gaudí brasileiro”. A obra deste ex-jardineiro e pedreiro, de 67 anos, construída ao longo de quatro décadas em que foi sua casa, se destaca em meio a uma rua particularmente, chamando a atenção com seus azulejos coloridos e quebrados, pratos de cerâmica e pedras marrons instaladas na fachada.
O “Castelinho”, como é chamado na região, tornou-se uma atração turística nesta comunidade carente por sua semelhança com o Parc Güell, uma das criações emblemáticas do arquiteto catalão Antoni Gaudí (1852-1926) em Barcelona.
Mas este homem de bigode grisalho e fala pausada, nascido em Santo Estevão, na Bahia, não sabia quem era o gênio espanhol quando começou sua criação. “Eu fiz parecido com o trabalho de Gaudí, sem copiar. Eu faço o que vem na minha cabeça”, diz à AFP. “Fazer uma obra de arte dessa para ser conhecida mundialmente. Me sinto mesmo reverenciado (...) Hoje, me sinto um artista”.
BARCELONA
A semelhança do “Castelinho” com os desenhos de Gaudí foi descoberta por um estudante no início do século. O cineasta brasileiro Sergio Oksman se interessou pela história e gravou o documentário “Gaudí na favela” (2002).
Após o filme, o castelo se tornou um local de visitação para moradores e estrangeiros em Paraisópolis, que tem mais de 100.000 habitantes. A entrada custa R$ 30. “Achei incrível. À primeira vista, indo lá de fora, como um espaço tão pequeno foi crescendo, crescendo, crescendo. E tanta coisa, se você parar para olhar, num buraquinho tem muita informação, muitos objetos. É super incrível, superinteressante. “, opina Celly Monteiro Mendes, um visitante de Manaus.
De uma sala com ares de caverna, essa pianista de 24 anos observa, admirada, os detalhes presentes em cada canto da fortaleza de Estevão, erguida em um terreno de sessenta metros quadrados e quatro andares, com passagens quase labirínticas e tetos baixos construídos a partir de conhecimentos empíricos.
O “Gaudí brasileiro” chegou a São Paulo em 1977 em busca de um futuro melhor. Trabalhou em jardinagem, construção e vigilância. Em 1985, comprou o terreno onde está o castelo e deu asas à sua imaginação.
“Quando eu fiz aqui, eu não pensei que iria virar uma obra de arte conhecida mundialmente. Eu fiz para usar. E aí virou um ponto turístico”, explica.
DESIGUAL
No começo, Estevão plantou um roseiral e construiu uma estrutura de ferro para sustentá-lo, mas as plantas cresceram muito rápido e deixaram muitas folhas para serem recolhidas.
Optou, então, por arrancar o mato e cobrir o ferro com concreto. Adições pedras na superfície, para “refrescar o ambiente”, e um prato quebrado que tinha à mão.
Um sem-fim de azulejos, conchas, bolinhas de gude, garrafas e moedas dão importância às paredes interiores, decoradas com brinquedos de plástico, carrinhos de metal, canecas, bandejas, animais de lata, carcaças de celulares e telefones antigos comprados em bazares ou doados por visitantes.
A vista do telhado revela a desigualdade: a favela no primeiro plano; um pouco mais longe, os imponentes bairros brancos do Morumbi.“Eu tenho 39 anos fazendo isso aqui.” (AFP)
O “Castelinho”, como é chamado na região, tornou-se uma atração turística nesta comunidade carente por sua semelhança com o Parc Güell, uma das criações emblemáticas do arquiteto catalão Antoni Gaudí (1852-1926) em Barcelona.
Mas este homem de bigode grisalho e fala pausada, nascido em Santo Estevão, na Bahia, não sabia quem era o gênio espanhol quando começou sua criação. “Eu fiz parecido com o trabalho de Gaudí, sem copiar. Eu faço o que vem na minha cabeça”, diz à AFP. “Fazer uma obra de arte dessa para ser conhecida mundialmente. Me sinto mesmo reverenciado (...) Hoje, me sinto um artista”.
BARCELONA
A semelhança do “Castelinho” com os desenhos de Gaudí foi descoberta por um estudante no início do século. O cineasta brasileiro Sergio Oksman se interessou pela história e gravou o documentário “Gaudí na favela” (2002).
Após o filme, o castelo se tornou um local de visitação para moradores e estrangeiros em Paraisópolis, que tem mais de 100.000 habitantes. A entrada custa R$ 30. “Achei incrível. À primeira vista, indo lá de fora, como um espaço tão pequeno foi crescendo, crescendo, crescendo. E tanta coisa, se você parar para olhar, num buraquinho tem muita informação, muitos objetos. É super incrível, superinteressante. “, opina Celly Monteiro Mendes, um visitante de Manaus.
De uma sala com ares de caverna, essa pianista de 24 anos observa, admirada, os detalhes presentes em cada canto da fortaleza de Estevão, erguida em um terreno de sessenta metros quadrados e quatro andares, com passagens quase labirínticas e tetos baixos construídos a partir de conhecimentos empíricos.
O “Gaudí brasileiro” chegou a São Paulo em 1977 em busca de um futuro melhor. Trabalhou em jardinagem, construção e vigilância. Em 1985, comprou o terreno onde está o castelo e deu asas à sua imaginação.
“Quando eu fiz aqui, eu não pensei que iria virar uma obra de arte conhecida mundialmente. Eu fiz para usar. E aí virou um ponto turístico”, explica.
DESIGUAL
No começo, Estevão plantou um roseiral e construiu uma estrutura de ferro para sustentá-lo, mas as plantas cresceram muito rápido e deixaram muitas folhas para serem recolhidas.
Optou, então, por arrancar o mato e cobrir o ferro com concreto. Adições pedras na superfície, para “refrescar o ambiente”, e um prato quebrado que tinha à mão.
Um sem-fim de azulejos, conchas, bolinhas de gude, garrafas e moedas dão importância às paredes interiores, decoradas com brinquedos de plástico, carrinhos de metal, canecas, bandejas, animais de lata, carcaças de celulares e telefones antigos comprados em bazares ou doados por visitantes.
A vista do telhado revela a desigualdade: a favela no primeiro plano; um pouco mais longe, os imponentes bairros brancos do Morumbi.“Eu tenho 39 anos fazendo isso aqui.” (AFP)