Batuque eterno  Vida e obra de uma das maiores lendas da percussão são relembradas na fotobiografia "Naná: Do Recife para o Mundo", que ganha lançamento no Recife

Publicação: 13/02/2025 03:00

 (JOÃO ROGÉRIO FILHO/ACERVO NANÁ)

Uma trajetória marcada por transformar o berimbau na extensão do seu corpo e do Brasil a matriz do seu ritmo é rememorada através da fotobiografia Naná: Do Recife para o Mundo, que, através de mais de 200 imagens, busca fazer justiça à dimensão de uma das maiores lendas da música brasileira. A obra, organizada pelo designer e jornalista Augusto Lins Soares, será lançada amanhã, às 19h, na Torre Malakoff.

A permanência de Naná nos cânones da cultura se revela não apenas pela sua repercussão internacional — vitorioso no Grammy e eleito duas vezes o melhor percussionista do mundo pela respeitada revista de jazz norte-americana DownBeat —, mas por uma linha do tempo impressionante que levou o artista, nascido Juvenal de Holanda Vasconcelos, até o estrelato. Ele, que ainda criança, nos anos 1950, aprendeu a tocar bongô e maracas em um conjunto de músicos no Recife, ganhou o Brasil e, depois, o mundo, encantando plateias em Nova York e em países da Europa, como a França e a Suíça.

Naná faleceu em 9 de março de 2016 e, quase uma década depois, as suas facetas humanas e artísticas ganham vida e permanência com as fotos feitas por Deborah Feingold (capa e contracapa), Lizzie Bravo, Luiz Fernando e Franklin Corrêa, além dos acervos do próprio Naná e de nomes como Sérgio Kyrillos, Edy Star, Guy le Querrec, Claude Barouh e Merrie Robin Monroe, entre outros. Os jornalistas Michelle de Assumpção, Renato Contente e José Teles, o professor Daniel B. Sharp e, sobretudo, Patrícia Vasconcelos, viúva do músico, assinam textos sobre o homenageado.

Em entrevista exclusiva ao Viver, o organizador Augusto Lins Soares, também responsável pela apresentação do livro, fala sobre a motivação para prepará-lo, destacando o peso global que o nome de Naná tem na história da música. “Como já tinha organizado três fotobiografias de personalidades brasileiras, mas nenhuma pernambucana, escolhi Naná, um conterrâneo tão singular e consagrado quanto o carioca Chico Buarque, o cearense Dom Helder Camara e a paranaense Sonia Braga”, exalta. “A narrativa visual segue pelas três cidades onde ele viveu e criou sua obra na linha do tempo, que são Recife, Paris e Nova York. Eu parti de uma frase célebre do próprio biografado para revelar sua biografia fenomenal: ‘Sou o Brasil que o Brasil não conhece’”.

O fotógrafo João Rogério Filho, uma das pessoas mais próximas a Naná em seus últimos anos de vida, também fala ao Viver sobre o tempo que passou fazendo registros do mestre, de 2010 até seu falecimento. “Ele foi o maior exemplo de generosidade com que já me deparei. Tratava um grupo de meninos que estava aprendendo percussão da mesma forma que falava com um astro internacional. Essa capacidade humana e musical dele de congregar, de ensinar às pessoas, de se doar, faz muita falta”, lamenta.

A viúva do artista, Patrícia Vasconcelos, principal responsável pela manutenção de seu legado, se mostra feliz com o resultado da fotobiografia. “A minha sensação é de que esse livro marca o início de uma segunda etapa de valorização de todo o trabalho de Naná. A história foi recriada de uma maneira muito atenta aos detalhes, já que a trajetória dele se espalhou pelo mundo de uma forma extensa e Augusto Lins Soares teve o cuidado de rastrear todo o caminho percorrido, partindo da infância até a consagração”, enaltece Patrícia.