O nome dela é frevo Comemorando 25 anos do hit "Chuva de Sombrinhas", Nena Queiroga se prepara para brilhar em mais um carnaval

Publicação: 18/02/2025 03:00

A cantora, que nasceu no Rio de Janeiro, começou a carreira aos 12 anos, gravando jingles para publicidade (FRANCISCO SILVA/DP FOTO)
A cantora, que nasceu no Rio de Janeiro, começou a carreira aos 12 anos, gravando jingles para publicidade

Samba e frevo são manifestações populares que travam um duelo acirrado, tanto de ritmo como de tradição. Poucos entendem tão bem essa disputa quanto Nena Queiroga, carioca de nascimento, mas recifense de coração, passo e compasso. Ainda menina, ela aterrissou em Pernambuco sem imaginar o quanto, anos depois, se tornaria uma figura indispensável no carnaval do estado, consagrada como sua rainha absoluta e uma das autoras da canção Chuva de Sombrinhas —  hit que faz arrepiar os foliões mais experientes e simboliza uma trajetória vitoriosa de 25 anos.

Na família Queiroga, a arte é praticamente um batismo para a vida. Nena, filha do radialista Luiz Queiroga e da cantora Mêves Gama, dois ícones do rádio pernambucano, cresceu rodeada de música e trilhou o mesmo caminho ao lado de quatro de seus irmãos: Lula, Mevinha, Luciano e Tostão. Ela começou a cantar ainda criança, soltando a voz enquanto brincava de boneca. Aos 12, seu talento foi reconhecido pelo mestre Claudionor Germano, que a transformou na principal voz dos jingles no Recife, numa época em que adultos costumavam imitar o timbre infantil. Naquele período, também passou a integrar o grupo Quarto Crescente, liderado por Lula Queiroga, o mais velho dos irmãos. “As pessoas começaram a notar minha voz e fui conquistando meu espaço”, relembra em conversa exclusiva com o Viver.

Maria Consuelo na carteira de identidade, Nena estreou nos clubes carnavalescos do Recife ao lado do Maestro Duda e, pouco depois, tornou-se crooner da orquestra do Maestro Guedes Peixoto, que nos deixou em 2020. Por pouco, no entanto, o palco não cedeu lugar à sala de aula. Ela se formou em pedagogia, fez cursos paralelos e chegou a considerar uma carreira na educação, incentivada pela mãe, que conhecia as dificuldades impostas a uma mulher na indústria musical. Mas o frevo, teimoso e irresistível, mandou lhe chamar — e Nena respondeu com voz e alma. “A música, de uma forma ou de outra, me escolheu. Não tinha como fugir”.

O ritmo de 118 anos encontrou nela uma de suas mais fieis defensoras, mas a trajetória da cantora não se limitou a isso. Ela passeou por outras sonoridades e se consolidou como cantora popular. Esse caminho foi influenciado por André Rio, outro ícone da música pernambucana, de quem foi backing vocal e a quem considera seu “padrinho artístico”. Foi ao lado dele que assinou sua primeira composição, Te Amo Tanto, embora, no início, tenha hesitado: “Ele começou a compor e pediu: ‘Termina essa música aqui’. Eu disse: ‘Menino, eu não sou compositora’”. Mas a parceria seguiu, e dessa ousadia nasceu Chuva de Sombrinhas.

“Ai que calor, ô, ô, ai que calor, ô, ô”... Cantar e dançar esse trecho se tornou uma das experiências carnavalescas que atravessam gerações e multidões  — seja nas ladeiras de Olinda ou no Galo da Madrugada. Chuva de Sombrinhas fez Nena descobrir um mar de possibilidades. “A partir dela, me identifiquei como compositora de frevo, fiz várias músicas e até escrevi para outros artistas. Hoje, me considero uma das poucas a seguir esse caminho”, afirma.

Na comemoração dos 25 anos da música, a sombrinha será a estrela da festa. “Quero mostrar suas cores, explicar seu significado, como ela surgiu. É importante que as pessoas compreendam que não é apenas um enfeite ou brinquedo, mas sim um símbolo poderoso da nossa identidade”, enfatiza. “Se o frevo tivesse uma ‘carteira de identidade’, a foto seria da sombrinha”.

Além de sua militância pelo frevo, a artista também se engaja em causas sociais, como no Lar Manuel Quintão, em Olinda, uma instituição filantrópica que ajudou a fundar e que beneficia mais de 200 famílias em situação de vulnerabilidade social. “Através desses projetos, me vejo como ativista da cultura. A minha arte, o meu canto, sempre será dedicado a transformar vidas e a fazer o bem”, garante.

Ela também levanta bandeiras de inclusão, acessibilidade e combate à violência de gênero, causas que irão se derramar no palco como confetes de resistência. “Este carnaval marcará uma celebração de tudo o que sou e do que sempre defenderei”. Nesse espírito, em resposta ao clamor dos súditos, a rainha vai ordenar que uma chuva de sombrinhas eleve ainda mais a temperatura da alegria. “Ai que calor, ô, ô”...