Santo Amaro é a estrela De hoje até domingo, Festival Reside Amaro ocupa diversos espaços do bairro para contar, com teatro, música, dança e vídeo, histórias de seus moradores

pedro ferrer
Especial para o Diario

Publicação: 07/02/2025 03:00

O quarteirão entre as ruas Capitão Lima e Rocha Pita, em Santo Amaro, é carinhosamente chamado de “Vila” por seus moradores. Para além da estrutura física remanescente da época em que foi fundada por trabalhadores de antigas fábricas das redondezas, como a Renda Priori e a Antártica, a dinâmica do local mantém características raras, como uma maior proximidade entre os vizinhos e uma relação de pertencimento com o território. Essa atmosfera especial foi uma das inspirações para a escolha da área para sediar o Reside Amaro, festival de artes integradas gratuito que acontece em espaços como residências, comércios, ruas e até na igreja, de hoje até domingo.

O projeto, inédito no Brasil, é inspirado no “Bombón Vecinal”, iniciativa argentina que propôs “ativar” um bairro, convidando seus moradores a construir juntos um festival. Para abrir as portas deste território, Paula contou com um anfitrião de peso: seu irmão Roger de Renor. Morador da “Vila”, seu olhar sobre o local é permeado por afeto e pertencimento. Foi a partir dele que os organizadores do projeto começaram, por volta de junho de 2024, a chegar nos vizinhos, distribuindo cartas, convidando-os para conhecer a proposta e ouvindo suas histórias. Várias mediações feitas por Monina despertaram neles a perspectiva de que suas histórias não só são importantes, como também podem ser teatralizadas e ganhar protagonismo, com eles próprios interpretando suas vivências.

“Aplicamos nossas ferramentas de mediação em um novo território, criando uma dramaturgia urbana única e ampliando sua metodologia. Como artista e curadora estrangeira, viver na comunidade, ouvir suas vozes, compartilhar o cotidiano e registrar histórias é um modo de estar perto e longe ao mesmo tempo. Mais que narrativas individuais, buscamos construir um olhar, uma dramaturgia do espaço. A colaboração com curadores e artistas locais permitiu entender identidades, formas de expressão e estéticas, uma troca inestimável que enriquece tanto essa ‘forasteira’ quanto os moradores”, pontua Monina Bonelli.

Ações como exibição de filme na rua, campeonato de dominó, karaokê, a revitalização de um beco com pinturas em homenagem a Roberto Carlos (cantor favorito de um dos moradores) e a produção de um álbum de fotografias dos vizinhos, clicados por Rogério Alves, estiveram entre as iniciativas para aproximar moradores dos artistas, estreitando laços.

O projeto gestou diversas performances originais, que terão os moradores como protagonistas. É o caso de Geraldo Lima, conhecido como Rei do Omelete, cujo restaurante é um dos mais badalados da região e sediará a performance documental sobre sua vida. Ou ainda do Padre Caetano, da Matriz Nossa Senhora da Piedade, que apresentará seu talento musical.

Ao todo, serão dez ações em espaços fechados e dez em espaços abertos. Nos espaços fechados, o número de espectadores será limitado a cerca de 20 pessoas por sessão, com a maioria das apresentações acontecendo simultaneamente e mais de uma vez por noite.

Diversos artistas locais se envolveram no projeto, como Newton Moreno, Giordano Castro, Márcia Cruz, Fabiana Pirro, Amanda Menelau, Anderson Leite, Augusta Ferraz, HBlynda Morais, Mônica Lira, entre outros.

Em diálogo com o caráter internacional do Reside, também serão apresentadas duas peças teatrais da Argentina. “Rainha”, protagonizada por Maiamar Abrodos; e “Da Melhor Maneira”, com Federico Liss e David Rubinstein.