O samba chamou Maria Rita Abençoada pelo gênero, a cantora é uma das atrações do festival Clássicos do Brasil, que movimenta o Classic Hall de quinta até domingo

Allan Lopes

Publicação: 08/04/2025 03:00

 (RENATO NASCIMENTO/DIVULGAÇÃO)

Maria Rita não precisou do nome da mãe, Elis Regina — que completaria 80 anos no último 17 de março — para brilhar. Destinada a ser ela mesma, superou até o ceticismo da comunidade do samba para se tornar uma de suas maiores intérpretes. No domingo (13), a cantora se apresenta no festival Clássicos do Brasil, no Classic Hall, em uma noite dedicada ao gênero, que ainda trará Alcione e Diogo Nogueira. O evento, que celebra a diversidade musical brasileira, começa nesta quinta, reservando também espaço para a música pernambucana, o rock e o pop, com nomes que vão da Academia da Berlinda aos Paralamas do Sucesso.

Quando lançou seu primeiro disco, em 2003, Maria Rita não apenas conquistou prêmios de revelação do ano, mas matou a curiosidade de muita gente que queria saber se ela era tão afinada como Elis. Sobretudo, provou ser capaz de honrar esse legado enquanto começava a escrever seu próprio capítulo na música brasileira. “Os relatos de famílias com diferentes gerações que iam aos shows eram emocionantes. Não tem como negar esse laço. Essa missão é também minha função como artista e intérprete”, frisa, em conversa exclusiva com o Viver.

Foi no ano de 2007 que veio a virada na carreira de Maria Rita, quando ela deixou o circuito da MPB e mergulhou de corpo e alma no universo sambista com Samba Meu. Mesmo tendo como pai César Camargo Mariano, mestre na mistura do ritmo com o jazz, a cantora foi procurar sua própria turma. Nomes como Arlindo Cruz  e Leandro Sapucahy passaram a figurar em suas fichas técnicas. “A minha relação com o samba surgiu de forma muito pessoal. Nasceu da minha admiração, curiosidade e amor pelo gênero, pelo carnaval e pelos grandes mestres”, conta ela.

Hoje abençoada por lendas  do porte de Zeca Pagodinho e da própria Alcione, Maria Rita confessa que a aceitação da comunidade não veio de imediato. “O samba é generoso, mas não admite aventureiros”, diz. Com o passar do tempo, sua dedicação e talento mostraram que não estava de passagem. “Tenho uma ligação profunda que, até hoje, eu não entendo por completo. É muito gratificante me perceber inserida, acolhida, relevante nesse universo. Por vezes, ainda me emociono quando realizo essa minha história”.

Em 2013, o samba já dançava em seu peito, mas foi no Rock in Rio que a cantora ouviu seu chamado definitivo. Quando levou algumas músicas de Gonzaguinha ao palco Sunset, Maria Rita sentiu suas raízes fincarem. “Eu tinha esse desejo de cantar as músicas dele há muito tempo, mas não me sentia segura”, destaca ela, que já havia gravado O Homem Falou em Samba Meu, o divisor de águas em sua vida de intérprete.

Vencedor do Grammy Latino de Melhor Álbum de Samba/Pagode, Samba Meu abriga uma joia rara no coração de Maria Rita: Tá Perdoado, que Arlindo Cruz ofereceu à cantora quando nem existia a ideia do disco. “Ele me enxergava como sambista antes mesmo de eu entender esse compromisso”, relata.

Maria retorna a Pernambuco no Clássicos do Brasil com seu festejado Samba da Maria, show que ela define como uma autêntica festa do gênero. No repertório, além de clássicos como Cara Valente (de Marcelo Camelo), Num Corpo Só e Desse Jeito, a cantora homenageia ícones como Jorge Aragão e as saudosas Beth Carvalho e Jovelina Pérola Negra, em uma noite que promete reverenciar as raízes e a contemporaneidade do samba. Uma celebração ao ritmo que ela vem ajudando a eternizar.