Oito décadas de serenatas
Viver reconta a jornada de Adilson Ramos, voz que se tornou sinônimo de romantismo e hoje completa 80 anos de vida
Allan Lopes
Publicação: 07/04/2025 03:00
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A trajetória de Adilson Ramos (na foto, com Wanderléa) começou nas ondas do rádio |
Nos tempos em que o amor chegava através do chiado das rádios AM, Adilson Ramos foi o cupido que enfeitiçou milhões de brasileiros com sucessos como Sonhar Contigo, Olga, Relógio e Fim de Festa. Mesmo na era dos streamings, seu posto de ícone da música romântica permanece intacto. Hoje, em seu aniversário de 80 anos de vida e 65 de carreira, o cantor carioca radicado no Recife é a prova viva de que o verdadeiro romantismo não envelhece. Se eterniza.
E o seu primeiro amor, como não poderia deixar de ser, foi a música. Aos nove anos de idade, recebeu do pai uma pequena sanfona de quatro baixos. “Quando abri, fiquei doidinho”, recorda Adilson em conversa exclusiva com o Viver. Suas primeiras melodias, que aprendeu com as canções de Orlando Dias, revelaram um talento precoce a ponto do seu pai, emocionado, tomar duas decisões: matricular o menino no conservatório de música e o presentear com o tal acordeon maior que ele.
Na infância, Adilson participou de um concurso de calouros em um parque suburbano do Rio. “O apresentador avisou ao meu pai que não dava para cantar de qualquer jeito. Mas me deixaram tentar. E todo mundo foi chegando, parando para ouvir”, destaca. Ele ficou em primeiro lugar e chamou a atenção de um produtor que o levou para uma apresentação no programa infantil Clube do Guri, da extinta Rádio Tupi, onde durante dois anos Adilson começou a escrever, sem saber, o primeiro capítulo de uma trajetória extraordinária.
Em seguida, ingressou no grupo vocal Os Cornetas ainda garoto. Mas em 1963, aconselhado pelo pai que atuava como empresário, o jovem artista reuniu coragem para empreender voo solo. O primeiro fruto dessa decisão veio com um convite da RCA para gravar o LP Sonhar Contigo, composta em parceria com seu tio Armelindo Leandro. “Ele escreveu a letra depois de me ouvir assobiando a melodia”, revela Adilson. Mais que um sucesso, a canção se tornou sua identidade musical. “As pessoas não me dissociam dela, e eu também não. É meu hino pessoal”, confessa o cantor.
Naquele mesmo ano, Adilson partiu em turnê pelo Brasil para levar Sonhar Contigo a todos os cantos. “Onde eu chegava, as pessoas já sabiam quem eu era”, relembra. Foi assim que pisou pela primeira vez no Recife, para uma apresentação no programa Você Faz o Show, da Rádio Jornal do Commercio. Mas o caminho até o estúdio foi marcado por um engarrafamento inusitado — não eram carros que paravam o trânsito, mas fãs. “Foi impressionante ver as pessoas nas calçadas, acenando, me dando adeus, esperando o carro da rádio passar. Aquilo me marcou muito”, afirma, comovido.
Cansado das turnês exaustivas – com rotas de até 60 cidades seguidas –, Adilson encontrou um refúgio inesperado em Pernambuco. O ponto de virada foi um “showmício” em Goiana, na Zona da Mata Norte, seguido por convites de Gravatá e Caruaru. Depois, a maioria dos seus shows passaram a ser no interior do estado. Foi então que veio a decisão: “Minha esposa ficava quase um mês sem me ver. Aí eu disse: ‘Vamos mudar para o Recife”. Dessa forma, o cantor ganhou um novo endereço — e um novo coração.
Adilson atribui toda a sua trajetória de sucesso ao público que sempre o acompanhou: “Se sou Adilson Ramos com 65 anos de carreira, é por causa dos meus fãs. Eu termino o show, que geralmente dura duas horas, e passo mais duas tirando fotos, dando autógrafo, ouvindo histórias. Faço questão. Porque sei que, às vezes, o sonho de alguém é simplesmente dar um abraço em mim”. E assim, revela-se um pacto eterno entre artista e público: enquanto houver românticos no mundo sonhando com ele, Adilson Ramos terá um palco.
