No palco, Denise Fraga e Tony Ramos convidam a plateia a repensar as relações

Atriz, autora, figurinista, produtora, comediante e contadora de histórias: assim podemos sintetizar a sólida trajetória da carioca Denise Rodrigues Fraga, ou Denise Fraga, como conhecemos artisticamente. Estrela da TV, teatro e cinema, ela desembarca no Recife, muito bem acompanhada do ator Tony Ramos, para apresentar hoje, amanhã e domingo o espetáculo O Que Só Sabemos Juntos, no Teatro Santa Isabel.

Em entrevista exclusiva ao Viver, Denise conta que a montagem nasceu de um convite feito pelo próprio Tony após ele assistir a outro espetáculo dela: o elogiado monólogo Eu de Você – que ela também traz ao Recife, no mesmo palco, na próxima semana.

“Tony estava há 20 anos sem fazer teatro e disse que meu espetáculo provocou nele a vontade de voltar aos palcos. O modo que a gente fez o Eu de Você era ‘perigoso’, pois não era uma maneira tradicional de escolher um texto. Mas o próprio impulso do Tony, de querer se rever, está presente nesta peça”, conta a atriz, que assina o roteiro dos dois espetáculos. E neste que estreia hoje, ela ainda conta com a colaboração do marido e diretor, Luiz Villaça, e de Vinicius Calderoni.

Com uma carreira dedicada a retratar dilemas sociais e humanos por meio do humor e da crítica social, em O Que Só Sabemos Juntos o público é convidado a repensar as relações a dois, aguçando o poder de escuta ao outro e, principalmente, desenvolvendo a empatia. “Esse espetáculo trouxe para mim, de inédito, esse passinho a mais de ousadia na relação com a plateia. Pois quando você fala, e espera uma resposta de quem está ali, sentado, você estabelece uma conversa. E essa peça, ao mesmo tempo que tem terrenos escorregadios, também traz muita beleza e graça, porque acontecem coisas surpreendentes a cada noite. Aqui, nós escolhemos dar asas a esse ‘perigo’”, reflete a artista.

Em cena, Denise e Tony são um casal que, com humor e leveza, conduzem uma experiência com o público de emoções e ações. “Eu brinco que esta peça abre muito assunto para a pizza depois, pois acho impossível você sair dela sem falar com quem quer que seja sobre as reflexões colocadas ali. Ela recupera uma vontade de se debruçar sobre as relações que nos são caras, com quem temos afeto”, analisa a atriz, que completa: “Penso que o teatro, de uma certa maneira, não precisa ter final feliz. Não gosto dessa coisa da vida cor-de-rosa, pois ela não é assim. A vida é muito injusta. E vivemos num mundo muito injusto. Mas, ao mesmo tempo que ela é dura, também é bela, porque é rica, principalmente, de diversidade”.

Ao longo de 40 anos de estrada, Denise Fraga contribui de forma consistente para a produção cultural, à medida que pesquisa e propõe novos olhares, inclusive por meio de projetos de inovação da linguagem narrativa, que aproximam dramaturgia e personagens do cotidiano. E O Que Só Sabemos Juntos é uma prova viva desses projetos audaciosos.

“Talvez essa seja uma das funções maiores do teatro: você vai naquele templo para ter vontade de viver e sai com esse desejo. A arte dá essa compreensão de que a imperfeição humana é algo que não tem jeito. Mas quem está próximo dela, indo ao teatro, ao cinema, lendo, escutando boa música, tem mais chances de compreender essa imperfeição e, portanto, tem mais chances de viver melhor”, defende a atriz.

Com ingressos esgotados no Recife, o público terá o privilégio de descobrir no palco o que só ela e Tony Ramos sabem juntos. “O que sabemos, e temos sabido juntos, é que no teatro podemos esticar o possível até as fronteiras do impossível, e fazemos esse pacto para viver esse sonho comum. Em cena, nos reconhecemos não só naquilo que somos, mas naquilo que também podemos ser. Na potência que somos juntos, no que poderíamos fazer juntos e no que só nós podemos saber juntos”, enfatiza Denise Fraga.