Disputa já mostra que será bem acirrada Competição do Festival de Cannes já tem alguns nomes de grande repercussão entre os presentes. E foi só a primeira semana de exibições

ANDRÉ GUERRA

Publicação: 19/05/2025 03:00

Sirat foi um dos filmes que causou a maior perplexidade até agora no festival e foi considerado tenso e impactante (QUIM VIVES/DIVULGAÇÃO)
Sirat foi um dos filmes que causou a maior perplexidade até agora no festival e foi considerado tenso e impactante

A mostra competitiva do Festival de Cannes 2025 começou oficialmente no dia 14 de maio e já trouxe filmes que intrigaram a crítica e mobilizaram as discussões. O evento colocou as garras para fora logo no primeiro longa da disputa pela Palma de Ouro, o longo e carregado drama alemão Sound of Falling, da diretora Mascha Schilinski, que colecionou elogios da imprensa internacional.

Na trama, acompanhamos diferentes gerações de mulheres em uma mesma casa na zona rural da Alemanha, começando na década de 1930 e seguindo até o contemporâneo, através de transições abstratas e narrações que versam sobre o sofrimento existencial feminino e sobre a fantasmagoria da assimilação da finitude.

Igualmente difícil, mas com uma abordagem bem mais seca e discreta, o filme histórico Two Prosecutors, do ucraniano Sergei Loznitsa, mostra os período de torturas aos prisioneiros durante a época mais brutal da Era Staling da antiga União Soviética, em 1937, através do ponto de vista de um idoso que exige a visita de um jovem promotor de justiça à sua cela.

PROTESTOS
O que falta de urgência temática no drama ucraniano, porém, sobra em Dossier 137, de Dominik Moll. O filme recria os protestos franceses de 2018, que reivindicavam o fim da progressão de impostos sobre produtos energéticos de origem fóssil, e foca em um caso de violência policial investigado pela inspetora Stéphanie (vivida por Léa Drucker, que chega forte na disputa pelo prêmio de Interpretação Feminina). Desiludido, o longa mostra uma realidade cada vez mais global e critica duramente a dificuldade das instituições em solucionar o problema da impunidade.

Enquanto o esperado western americano Eddington, do diretor Ari Aster (de Hereditário), provocou reações mistas com sua sátira surtada dos diferentes grupos sociais dos Estados Unidos durante a pandemia de covid-19, o tenso e impactante Sirat, do francês Oliver Laxe, gerou a maior perplexidade do festival até o momento.

BUSCA
No chocante filme, uma jovem desaparece em uma rave e seu pai (Sergí Lopez), acompanhado pelo seu irmão caçula (Bruno Núñez Arjona) adentram no deserto profundo do Marrocos com um grupo punk em sua procura – uma história que rapidamente se transforma em algo completamente diferente do que se imagina.

Apesar de completamente distintos, todos os filmes da competição até aqui compartilham de uma densidade nem sempre vista em tão pouco tempo no festival. Enquanto começam a pipocar as reações  e apostas aos esperados Die, My Love (de Lynne Ramsey), Nouvelle Vague (de Richard Linklater) e, principalmente, do representante brasileiro O Agente Secreto (do pernambucano Kleber Mendonça Filho), exibido ontem, Cannes já tem assunto para esquentar as rodas de cinefilia por bastante tempo.