Memórias do Sertão Livro de Adriano Mendes e Anselmo Alves retrata a região sob um olhar de resistência

DERICK SOUZA

Publicação: 29/05/2025 03:00

 (NIVALDO FRAN/DP)

Em meio ao calor que molda a paisagem e o povo do interior, nasce uma obra que é, ao mesmo tempo, documento, celebração e resistência. Sertão – O Imaginário das Grandes Imensidões será lançado neste sábado, às 15h, no Recife Expo Center. Com fotografias de Adriano Mendes e produção do jornalista, pesquisador e documentarista Anselmo Alves, o livro transforma a terra rachada em imagem, memória e poesia.

Durante visita ao Diario, a dupla conversou sobre o processo de criação. “Esse é um documento histórico para que as pessoas saibam o quão bela é a região. Nossa ideia principal é mostrar um Sertão diferente. Um Sertão da superação. Um Sertão que gerou Luiz Gonzaga, Padre Cícero e Lampião”, exalta Anselmo.

Com 300 páginas, o trabalho apresenta uma leitura sensível e orgânica. “Cada página dessas, eu vivi intensamente”, lembra Adriano. O trajeto percorre paisagens do Agreste e Sertão pernambucanos, passando por Belo Jardim, Salgueiro, Serra Talhada, Triunfo e Exu, além de alcançar a cidade paraibana de Princesa Isabel. Ao lado das imagens, convivem versos de poetas populares e referências da literatura regional. “Exploramos várias cidades. Não tínhamos um roteiro a seguir. A única coisa que seguíamos era a nossa intuição. Queríamos transmitir toda a cultura que existe, tudo junto com a literatura”, pontua o produtor Anselmo Alves.

Mais do que um registro visual, a obra é também um instrumento de reeducação simbólica. “O que a gente deseja é tirar a imagem estereotipada do Sertão desde os anos 1920 até os anos 1970, que é algo completamente distorcido. Aqui, não há fome romantizada nem sofrimento como estética. A proposta é olhar para a região como centro e não como margem”, reforça o fotógrafo.

Para além das imagens e narrativas, o livro também faz um apelo pela preservação cultural e ambiental. “É imprescindível que aquele bioma seja cuidado. Pode até parecer inóspito, mas é um cenário de muita beleza”, diz Adriano, exaltando o valor dos símbolos da identidade regional. “A caatinga é algo único no mundo”.

A fotografia, neste contexto, ganha um papel central. “É um documento que você vai prorrogar pelos anos, pelos séculos”, afirma Adriano. A publicação também contou com o apoio das Baterias Moura, empresa fundada no Agreste em 1957 e que, segundo Anselmo, representa um símbolo de superação regional. “Fizemos questão de que o livro fosse patrocinado por uma empresa empreendedora, que saiu de Belo Jardim para conquistar o mundo. Assim como Luiz Gonzaga deixou Exu para tocar Brasil afora”.

Do bordado das roupas às moedas que adornam chapéus, do canto dos poetas às ruas de barro onde nascem os festejos, tudo no livro é grande, colorido e simbólico. “Por mais que seja curioso, por ser uma obra que representa bem a nossa cultura, ele revela com clareza a verdadeira situação do nosso Sertão”, pontua Adriano Mendes, emocionado. Ele acredita que essa região por vezes maltratada é, na verdade, o retrato mais fiel da resistência estética de um povo.

Como o sol que derrama sua luz sobre a caatinga e tinge o horizonte de laranja, Sertão – O Imaginário das Grandes Imensidões convida o leitor a revisitar não só as paisagens, mas os modos de existir. Uma travessia que começa quando a primeira página é aberta e que talvez nunca se encerre.