Uma rainha que só quer xodó Responsável por criar inúmeros clássicos da MPB, Anastácia se apresenta na Casa Estação da Luz, recebendo Mestre Genaro e Daniel Gonzaga

Allan Lopes

Publicação: 27/06/2025 03:00

 (KARINA BURIGO/DIVULGAÇÃO)
O São João pode até ter passado, mas o forró segue vivo, especialmente para Lucinete Ferreira, a quem o Brasil conhece como Anastácia. O relógio avança, mas sua voz e seu gingado permanecem intocados, tal qual sua coroa de Rainha do Forró, símbolo de um reinado que já dura 85 festas juninas e não dá sinais de fraqueza. Para celebrar essa trajetória, ela se apresenta hoje, na Casa Estação da Luz, em Olinda, a partir das 20h, acompanhada do Mestre Genaro e do convidado especial Daniel Gonzaga.

Anastácia comanda o ritmo com a mesma animação desde que, nos anos 1960, gravou seu primeiro disco pela Chantecler e o levou, debaixo do braço, para conquistar o Brasil. "Na época, fazia muitos shows em circos, e o locutor me anunciava como Rainha do Forró. Eu era a única mulher que cantava forró em São Paulo", recorda a artista pernambucana ao Viver. Assim, sem coroação formal, ela assumiu uma missão que logo ultrapassou as divisas do Nordeste. "Sempre acreditei que meu papel era fortalecer a música regional", reforça. 

E encontrou um aliado poderoso para essa missão: Dominguinhos. Ele com a sanfona, ela com a poesia. Ao longo de 11 anos, dividiram a vida, a estrada e mais de 250 composições, mostrando que, no forró, juntar a fome com a vontade de comer dá um prato cheio. "Quando nos conhecemos, ele só fazia músicas instrumentais. E aí surgiu essa parceria", explica Anastácia. "A nossa contribuição foi verdadeira, bonita, e eu sinto muita alegria por isso", celebra. Entre centenas de hits, a icônica Só Quero um Xodó brilha como o maior símbolo dessa união, seguida por pérolas como Tenho Sede.

No meio desse percurso, os dois conviveram com a saudosa Gal Costa quando Dominguinhos levou seu indefectível acordeom para várias faixas do disco Índia e apresentações ao redor do país.  "Tive a sorte de acompanhar tudo de perto", diz Anastácia. Até hoje, quando Gal aparece na abertura de Vale Tudo, ela se emociona. "Sua rica trajetória permanece viva", diz.

Não foi só no forró que a sensibilidade da artista floresceu. Ela também assinou baladas românticas que ganharam as rádios nas vozes de Lindomar Castilho, Waldick Soriano e Cláudia Barroso. Até a diva Angela Maria, que Anastasia via como "uma estrela distante", gravou a música Amor Que Não Presta Não Serve Pra Mim.

Com a autoridade de quem está no trono, a cantora diz que o forró vive hoje seu melhor momento. "Fico feliz em testemunhar cada vez mais pessoas fortalecendo essa expressão tão rica", exalta. Ela, que viu Marinês desbravar o caminho, hoje se orgulha com o trabalho de Mariana Aydar, paulistana de berço mas nordestina de coração. "O forró é música para o mundo", diz Anastácia, guardiã dessa história, que reina soberana.