Voando no asfalto Em "F1", o diretor Joseph Kosinski, de "Top Gun: Maverick", joga a plateia na mais célebre pista de corrida do mundo com tração quase maníaca

André Guerra

Publicação: 26/06/2025 03:00

 (WARNER/APPLE (DIVULGAÇÃO))


As memórias da pista seguem assombrando o piloto veterano Sonny (vivido por Brad Pitt) muitos anos depois de ele ter deixado as corridas - particularmente a dolorosa lembrança do motivo do fim da sua carreira. O passado bate na porta, no entanto, quando um antigo amigo, Ruben (Javier Bardem), o convida para um grande retorno à Formula 1, no qual terá de formar uma improvável parceria com o jovem piloto Joshua Pearce (Damson Idris). Dois gênios fortes vão se cruzar, portanto, e a situação que já envolve uma série de riscos ganha uma dose extra de adrenalina. 

É com esse ponto de partida bastante tradicional que F1, já em cartaz nos cinemas do Recife, dá a largada e nele se agarra até a linha de chegada. Em outras palavras, esse filme do diretor Joseph Kosinski (de Top Gun: Maverick) assume todo o pacote da narrativa heroica esportiva, do conflito geracional como centro do drama até a ideia clássica do protagonista que é chamado para voltar à ativa após tantos anos. 

Damson Idris estrela o longa ao lado do galã veterano (WARNER/APPLE (DIVULGAÇÃO))
Damson Idris estrela o longa ao lado do galã veterano


Com mais de 2h30 de duração e um ritmo de fluência quase maníaca, F1 teve produção do heptacampeão Lewis Hamilton, além do próprio Brad Pitt, e possui participações de pilotos reais do esporte, buscando proporcionar a mais autêntica e cinematográfica experiência possível. O esforço pela verossimilhança tem efeito notável: a cada corrida, o público visualiza e vivencia a Fórmula 1 com textura, variedade de ângulos e doses generosas de tensão.

Toda a carreira de Kosinski como diretor é especializada em ação de alta velocidade e beleza plástica. Antes do estrondoso sucesso de Top Gun: Maverick, ele já havia dirigido Tron: O Legado e Oblivion, mais elogiados pelos seus prodígios visuais do que pelas estruturas narrativas. F1 fica no meio do caminho entre os primeiros longas dele e a parceria aclamada com Tom Cruise.

A presença de Brad Pitt como herói experiente cheio de rebeldia é um elemento clássico que o filme trabalha com competência, e Damson Idris, em oposição a ele, incorpora bem a impetuosidade e arrogância jovial do personagem. Kerry Condon, no papel da diretora técnica Kate, traz o carisma feminino que se amortece os egos masculinos inflados que dominam o filme.

A dramaturgia infelizmente é mediada por uma montagem excessivamente comercial, que impede a plateia de sentir consequências e respiros. A trilha de Hans Zimmer está sempre acelerando os desdobramentos, então tudo se resolve em um nível meio industrial - excelente para a ação, mas ruim para o componente humano.

Quando aplicada a Top Gun, essa estrutura similar sofreu menos talvez porque a lógica visual dos aviões evocava um aspecto instantaneamente romântico, que fugia da pegada publicitária que pesa em F1. Mas como o projeto existe prioritariamente pelas corridas, o alvo mais importante foi acertado: a imersão no espetáculo. Para os que gostam ou não do esporte.