A peleja d'O Matuto Pernambucano Rapha Santacruz é o primeiro nordestino no campeonato mundial de mágica e disputa troféu com espetáculo baseado no cordel

Pedro Ferrer

Publicação: 12/07/2025 03:00

 (FERNANDO NOGUEIRA/DIVULGAÇÃO)

A compreensão da mágica enquanto expressão da identidade cultural permeia o espetáculo O Matuto, enfiado na mala (de vaqueiro) do pernambucano Rapha Santacruz rumo à participação inédita de um mágico nordestino no maior campeonato do gênero no mundo, que acontece a partir de segunda, em Turim, na Itália. O artista garimpou elementos das raízes regionais para formatar uma encenação com narrativa cultural – estrutura atípica no segmento baseado em linguagens universais – em condições de concorrer ao posto mais alto do ilusionismo internacional em disputa na Europa. O torneio com aproximadamente três mil nomes de destaque no circuito mundial é organizado pela Federação Internacional das Sociedades Mágicas e só teve a bandeira brasileira no topo do pódio uma única vez, em 1988, com a dupla Vick e Fabrini. 

O espetáculo desenvolvido por Rapha para abocanhar o troféu é inspirado na tradicional literatura de cordel e se vale de intensas pesquisas nas manifestações tradicionais para costurar mágica com a cultura popular. Além dele, classificado em quinto lugar no Campeonato Europeu de Mágica, na Suíça, no ano passado, estão confirmados outros quatro mágicos brasileiros.

“Eu me senti muito honrado e feliz de poder ter sido selecionado com esse trabalho, com o qual eu levo Caruaru, Pernambuco e o Nordeste do Brasil. Para mim, ser selecionado é também uma vitória. Estar entre os melhores do mundo é uma grande realização”, celebra o artista, já acostumado a públicos internacionais. Rapha esteve em palcos, festivais e concursos em Portugal, Itália, Suíça, Espanha, França, Argentina, Chile e Uruguai.

 (FERNANDO NOGUEIRA/DIVULGAÇÃO)


Em uma linguagem típica do Nordeste brasileiro, O Matuto convida o público para mergulhar em um universo de encantamento. A encenação se desenrola a partir dos itens retirados de uma mala de vaqueiro sertanejo, como um pífano. Nascido em Caruaru, cidade do Agreste pernambucano, ele tece referências estéticas e cênicas do Brasil e as complementa com uma animada trilha sonora, composta por forró, xaxado, coco e cavalo-marinho. 

A formatação de um espetáculo de mágica a partir de elementos culturais alça o gênero artístico a um patamar de representatividade incomum às apresentações convencionais ou de festivais – em geral, calcadas em números universais (com apelo a itens tradicionais do ilusionismo) e releituras permitidas pela incorporação da tecnologia ou do desenvolvimento de efeitos cenográficos. A montagem de O Matuto se distingue por ser autoral e transpor, para o palco e a fantasia, a identidade geográfica, sentimental, cultural e histórica de um recorte do Brasil refletido na oralidade, na indumentária, na música e em outros itens de expressão.

“A proposta é enxergar a mágica com a cara do Brasil, fazer as pessoas se reconhecerem durante a encenação. Para os espetáculos, eu faço um profundo trabalho de pesquisa e investigação”, explica o artista, cujas produções incorporam técnicas e conceitos do teatro, circo, dança, música e palhaçaria. Mágico, ator, professor e palestrante, ele atua profissionalmente há mais de 20 anos e se divide entre apresentações em teatros, festivais, eventos sociais, culturais, palestras, cursos e mentorias. É idealizador e produtor do Festival Internacional de Mágica, considerado o maior evento dedicado ao ilusionismo no país, com cinco edições realizadas, participações de artistas de calibre nacional e internacional, atividades de formação para inúmeros profissionais e atração de um público estimado em mais de 25 mil pessoas.

Ao longo da trajetória, criou inúmeros projetos com linguagens e proposta distintas, de formação a turnês internacionais. O pernambucano tem em seu repertório nada menos que seis espetáculos simultâneos: AbraCASAbra, Sonho de uma Profissão, Haru: A Primavera do Aprendiz, Roda, Figuras Mágicas e, claro, O Matuto, com os quais circula pelo Brasil e exterior. Desde 2023, tem consolidado também a carreira internacional.