Neiff vai ao FIG O cantor de brega funk Anderson Neiff se apresenta no 33º Festival de Inverno de Garanhuns, na próxima sexta-feira, no Palco Mestre Dominguinhos

Camila Estephania

Publicação: 07/07/2025 03:00

 (REPRODUÇÃO/REDES SOCIAIS)
Principal expoente do brega funk atualmente, o cantor e influenciador Anderson Neiff vê a sua atividade na música como um hobby. Sua principal fonte de renda vem, na realidade, do trabalho nas redes sociais, mas ainda assim ele é conhecido pela dedicação à carreira musical, que mantém para “levantar a bandeira do brega”. 

Com show marcado para esta sexta-feira, no 33º Festival de Inverno de Garanhuns, o artista conquista o palco principal de mais uma grande festa pernambucana. O convite veio depois de circular por eventos como o Carnaval do Recife, onde se apresentou no Marco Zero, o No Ar Coquetel Molotov e Carvalheira Na Ladeira, que comprovaram a sua capilaridade. 

Como reconhecimento desse sucesso, recentemente Neiff alcançou o cachê de R$ 100 mil por show, antes impensável para um MC do mesmo gênero musical que o seu. O pagamento tem um valor inestimável para quem vem de uma cena que foi marginalizada durante anos.

Entrevista - Anderson Neiff // cantor

Os produtores de brega funk geralmente faziam uma música em menos de um dia, pois novos sucessos surgiam e sumiam muito rápido. Você vem mudando um pouco isso com “Tua ex é uma delícia”, por exemplo, que levou muitos dias para ser finalizada. O objetivo é produzir músicas que resistam mais ao tempo? 
Existe uma grande diferença hoje entre música de Tiktok, que são músicas virais, e músicas que viram hit, isso vale para todos os gêneros musicais, não só para o brega funk. Acho que “Tua ex é uma delícia” foi um hit porque eu consegui acertar, foi um trabalho de dedicação total em cima dessa produção, e também de outras que não “hitaram”, mas não deixam de ser uma obra, uma arte. O brega funk era muito discriminado porque fazia muito remix com vozes de outros artistas e a gente só cantava 15 segundos. Hoje, eu tenho a minha autoria, todas as músicas são somente com a minha voz praticamente, pego só um pedacinho de outra voz para uma participação rápida. 

O brega funk mudou bastante desde que surgiu no início dos anos 2010. A estética já foi mais marcada por MCs como Shevchenko e Elloco, MC Troia e MC Cego. Hoje, você se considera o principal representante do brega funk?
Digamos que tem que dar a César o que é de César. Eu trabalho muito. Todos os dias eu estou na internet vendo beat diferente, vendo uma melodia, vendo um flow. Mesmo que eu não tenha uma potência vocal tão legal - porém a tecnologia tá aí para ajudar a gente. Então, sim, eu hoje me considero uma das principais ferramentas para galera ver o brega funk de outra forma. Hoje, a gente não pode parar de inovar, porque caso contrário a galera vai enjoar .

Mas você vem buscando melhorar sua potência vocal, né? Isso é reflexo da profissionalização da cena do brega funk?
A gente tem que aprimorar tudo no meio artístico. Não conseguimos ser os melhores em tudo, porém, a gente tem noção do que está fazendo. Estou fazendo minhas aulas de canto com o professor Jorge Music e elas são muito essenciais para mim. Eu quero uma estética nova, um brega funk mais cantado, com mais melodia, afinado, na nota, no tom.

Pouco depois do carnaval, você comemorou nas suas redes sociais que teve boa agenda no período até mesmo em estados fora de Pernambuco e que, finalmente, havia conseguido emplacar um cachê de R$ 100 mil. O que você acha que isso representa para a cena? 
Isso representa valorização. Eu já fiz show por R$ 4 mil, R$ 2 mil… Muitas vezes, os produtores daqui do Recife não tinham condições de pagar o cachê que eu realmente pedia, que era R$ 10 mil, R$ 15 mil... Eu já tinha um público bom, sempre lotava as casas. Porém, como alguns MCs aceitavam o que muitos contratantes propunham, acho que isso meio que prostituiu o nosso gênero musical. Quando a gente vai para fora, a gente pede um cachê e eles não reclamam. Agora, quando venho tocar aqui, peço o meu cachê e pagam, porque estão com saudade, estão querendo ver o meu show.

O brega funk também tem sido bastante explorado nas últimas campanhas políticas. Certamente, a cena tem conquistado muitas coisas a partir desse reconhecimento político, mas você acredita que o movimento também ajuda os políticos que apoia a se elegerem?

É aquele ditado, né? Uma mão lava a outra. E foi um jogo justo, porque a gente precisava dessa valorização e desse espaço, que não tinha. Reginaldo Rossi, Nega do Babado, Dani Miller e outros do brega romântico e do brega funk que trabalharam tanto, mas não conseguiam tocar nos polos públicos, porque nosso movimento era marginalizado. O brega funk ficou muito forte no ciclo que eu cheguei e os políticos precisavam da nossa visibilidade. Depois, João Campos tornou o brega em Patrimônio Cultural Imaterial e isso foi sensacional. O que ele prometeu, ele cumpriu.