O Brasil se despede de Preta Gil
Corpo da cantora, que faleceu no último domingo aos 50 anos, foi velado no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, com a presença de familiares, amigos e uma legião de admiradores
Derick Souza
Publicação: 26/07/2025 03:00
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Emocionado, Gilberto Gil beija a testa da filha durante o velório |
No meio da tarde, o corpo da cantora seguiu para a capela ecumênica do Crematório e Cemitério Vertical da Penitência, no Caju, a cerca de seis quilômetros do teatro. Em uma cerimônia restrita aos mais próximos, a artista recebeu seu último adeus antes da cremação.
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Dona de uma identidade única, Preta Gil construiu uma carreira marcada pela autenticidade, versatilidade e coragem. Em 2003, aos 29 anos, deixou a publicidade para lançar seu primeiro álbum, Prêt-à-Porter, dando início a uma trajetória que incluiria projetos como Preta (2005), Noite Preta (2010), Sou Como Sou (2012) e Todas as Cores (2017), além do DVD Bloco da Preta (2013) e do sucesso em parceria com o filho, Fran Gil, Meu Xodó (2021). Criou o icônico Baile da Preta e apresentou o programa Vai e Vem, no GNT. Também atuou em novelas como Mutantes, filmes e séries, levando sua presença carismática para além da música.
Filha de Gilberto Gil e Sandra Gadelha, a Drão, Preta nasceu envolta em arte, afeto e brasilidade. Era afilhada de Gal Costa e cresceu no coração de uma das famílias mais simbólicas da música popular brasileira. Tinha sete irmãos: Nara, Marília, Maria, Bela, Bem e José, além de Pedro, falecido em 1990. Fran, seu único filho, é fruto do casamento com o ator Otávio Müller. Também era avó coruja de Sol de Maria, de 9 anos. Ao longo da vida, teve na família sua maior fonte de força, inspiração e pertencimento.
Diagnosticada em janeiro de 2023 com um câncer no intestino, ela encarou o tratamento com franqueza e coragem, dividindo com o país os altos e baixos da doença, sem filtros e sem heroísmo forçado. Com milhões de seguidores, suas redes sociais viraram um espaço de acolhimento, onde ela falava abertamente sobre dor, medo, fé e resistência.
Ao longo de mais de duas décadas de carreira, Preta construiu um legado que ultrapassa os limites da música. À frente do Bloco da Preta, que existe desde 2009, ela foi uma das responsáveis pela renovação do carnaval de rua no centro do Rio de Janeiro, transformando a folia em um espaço de celebração da diversidade e da liberdade.
Protagonista da própria história, destacou-se como ativista, inspirando seus fãs a enfrentarem o bullying, o preconceito, a gordofobia e a se expressarem sem medo. Com coragem e autenticidade, sua trajetória abriu caminho para muitas outras pessoas que encontraram nela um espelho e uma referência de força.
Gilberto Gil prestou uma homenagem breve, mas carregada de emoção. "Celebraremos sua vida, arte e legado", escreveu o artista, sintetizando o sentimento de orgulho e saudade que atravessou o país nos últimos dias. O filho Fran compartilhou um texto comovente que relembrou a última noite ao lado de Preta. "Você foi e sempre será tão amada, minha mãe. Que privilégio ter vindo pra esse mundo de dentro de você", escreveu. A atriz Carolina Dieckmmann, amiga de longa data da cantora, declarou que continuará vivendo com a presença de Preta em seu coração. "Nosso amor é muito maior. Vou morrer de saudade, mas vou viver com você perto de mim", disse.
Se existe uma imagem que resume quem foi Preta Gil é a de uma mulher que brilhou intensamente por onde passou. Ela partiu, mas sua luz seguirá brilhando, seja através das músicas que conquistaram as rádios, como Sinais de Fogo e Só o Amor, ou pela verdade com que tratava qualquer assunto. Preta foi e será sempre um símbolo de vitória.