Senhoras e senhores, o auge Documentário "Cazuza: Boas Novas", em cartaz no Recife, mergulha na fase mais intensa da vida e obra de um dos maiores ícones da cultura brasileira

André Guerra

Publicação: 22/07/2025 03:00

 (MIRIAM PRADO/DIVULGAÇÃO)

Toda noite ecoa para todo o país, na abertura de Vale Tudo, um dos maiores hinos da música brasileira, eternizado na voz de Gal Costa. Brasil foi composta pelo saudoso Cazuza, em parceria com o baixista Nilo Romero e o saxofonista George Israel (Kid Abelha), e lançada no disco Ideologia, terceiro álbum de estúdio do artista carioca. Esse e outros marcos que ele concebeu em sua curta, porém incrivelmente produtiva, passagem pela Terra são relembrados e depurados no documentário Cazuza: Boas Novas, já em cartaz no Cinema da Fundação (Museu).

Dirigido pelo próprio Nilo, amigo íntimo do cantor e profundo conhecedor de toda a sua obra, em conjunto com Roberto Moret, que, durante a produção, transformou o colega também em personagem, o filme situa o espectador entre os anos de 1987 e 1989, época em que Cazuza, nascido Agenor de Miranda Araújo Neto, viveu o auge de sua carreira, ao mesmo tempo em que enfrentou a piora da Aids, que o levou à morte em 7 de julho de 1990, com apenas 32 anos de idade. O lançamento de Cazuza: Boas Novas está acontecendo exatamente no mês que marca os 35 anos do seu falecimento.

Com impressionantes imagens de arquivo, bastidores de apresentações e depoimentos inéditos de grandes artistas que conviveram de perto com Cazuza, o documentário compreende o período em que ele lançou três dos álbuns mais importantes da MPB e que consagrariam sua história para sempre: Só Se For a 2 (1987), Ideologia (1988) e O Tempo Não Para: Cazuza ao Vivo (também de 1988). Além disso, neste mesmo período ele realizou shows antológicos e foi amplamente premiado.

Nilo Romero e Ricardo Moret dividem a direção do doc (DIVULGAÇÃO)
Nilo Romero e Ricardo Moret dividem a direção do doc
Entre as entrevistas trazidas por Nilo Romero e Ricardo Moret, destacam-se o cantor Ney Matogrosso, que foi uma de suas grandes paixões, Gilberto Gil, parceiro em Um Trem Para as Estrelas, Leo Jaime, que o indicou para o Barão Vermelho, e Frejat, figura fundamental em sua trajetória, com quem compôs vários clássicos, como Bete Balanço e Pro Dia Nascer Feliz.

Também participa do filme a mãe do biografado, Lucinha Araújo, que - além de ter criado a Sociedade Viva Cazuza - escreveu o livro Cazuza: Só as Mães São Felizes, principal inspiração para a cinebiografia Cazuza: O Tempo Não Para, dirigida por Sandra Werneck e Walter Carvalho e lançada em 2004, tendo Daniel de Oliveira como protagonista. Vale lembrar que, em 2025, Cazuza também marcou a ficção através da interpretação de Jullio Reis no longa de grande sucesso Homem com H, dirigido por Esmir Filho, que narra a vida de Ney Matogrosso.

Cazuza veio a Pernambuco para uma apresentação histórica em 3 de novembro de 1988, no Teatro Guararapes, trazendo canções como a que dá título ao documentário, além de Vida Louca Vida, Todo Amor que Houver Nessa Vida, Codinome Beija-Flor, Só as Mães São Felizes, Faz Parte do Meu Show, Ideologia e uma (então) inédita, que logo batizaria o álbum ao vivo, O Tempo Não Para. Ele voltaria ao estado no dia 24 de janeiro de 1989 para o que seria o último show de sua carreira, no Pavilhão do Centro de Convenções. Na ocasião, já bastante debilitado por conta do avanço da sua doença, ele precisou se ausentar do palco para tomar oxigênio.

A vida e o talento incandescentes de Cazuza estão contidos em Boas Novas tanto a partir das pessoas que conheciam o artista quanto pelos que conviveram com o ser humano, revelando um legado incomparável que, em uma carreira de fim tão precoce, ele foi capaz de deixar.