ESPECIAL EDUCAÇÃO » No Recife, as mães voltam a sonhar O programa Infância na Creche, da Prefeitura do Recife, cresce a cada ano e se tornou essencial e parte da rede de apoio de milhares de mulheres

Publicação: 31/05/2025 03:00


"Ela faz isso porque tem um amor muito grande por essas crianças, sabe? E por  nós mães também”.

Genay Silva Santos, Mãe de Hadassa

“Com o meu filho na creche, eu voltei a sonhar e comecei a redescobrir o meu lugar no mundo”. É assim que Jéssica Grécia, 31 anos, descreve o impacto da rede municipal de ensino do Recife na sua vida nos últimos meses. Mãe de Ezequiel Alberto, de 9 meses, e Samara Emanuelly, de 8 anos, ela vê na creche uma oportunidade de retomar os seus próprios sonhos enquanto tem a certeza que seu filho está em segurança.

Ela conheceu a Creche Municipal Padre Lourenço, localizada no próprio bairro. A matrícula foi confirmada em janeiro, e, no mês seguinte, com apenas cinco meses de idade, o pequeno Ezequiel começou a frequentar a creche. Com o filho acolhido, Jéssica viu a oportunidade de retomar sua vida profissional. Há duas semanas, deu início ao seu próprio negócio no ramo de confeitaria e passou a vender trufas artesanalmente. “Estou tentando conciliar a casa, o trabalho, o marido e as crianças. Ainda estou me redescobrindo nessa vida. Mas eu sei que não vou desistir”, comenta.

Pensando em fortalecer a educação infantil na capital pernambucana e aumentar o número de vagas de creches para garantir que mães e familiares consigam realizar as suas atividades profissionais, a Prefeitura do Recife, por meio da Secretaria de Educação do Recife, lançou o programa “Infância na Creche” em 2021.

CRESCIMENTO
Antes do lançamento, a rede contava com 6,5 mil vagas em 86 unidades. Em pouco mais de três anos de atuação, o número aumentou em 142%. Em 2025, a prefeitura do Recife iniciou o ano letivo com 16,2 mil vagas em creches. O avanço representa 40% da meta estabelecida para o segundo mandato do prefeito João Campos, que é triplicar a oferta de vagas para esta etapa de ensino.

Mas o programa vai além de devolver sonhos, ampliar o números de vagas e inaugurar novas unidades: ele também resgata a esperança na vida de famílias com histórias marcadas pela dor. Esse é o caso de Genay Silva dos Santos, 38 anos, mãe de Hadassa Vitória, de 4 anos, e Gabrielly Vitória, de 11.

Em 2023, a autônoma enfrentou uma tragédia inesperada: perdeu o marido por complicações cardiovasculares. Viúva repentinamente, ela viu a dor se estender à filha Hadassa, que tinha apenas dois anos e era muito apegada ao pai. Sem entender a perda, a criança teve dificuldades para lidar com o luto e chegou a culpar a própria mãe pela ausência paterna.

E foi na Creche Escola Municipal Miguel Arraes, localizada na comunidade Roda de Fogo, no bairro dos Torrões, que a mãe encontrou apoio e acolhimento. A gestora da unidade, Wilnne Barros, foi essencial durante o processo de luto da mãe e da filha.

“Hadassa tinha acessos de raiva, vinha para cima de mim e me agredia. Eu abraçava ela, beijava e dizia que a amava, mas não sabia o que fazer. Quem me deu o suporte como mulher foi a creche e a ‘tia’ Wilnne”, explicou emocionada. Com a ajuda da gestora, Genay iniciou um acompanhamento psicológico com a filha. “Ela faz isso porque tem um amor muito grande por essas crianças, sabe? E por  nós mães também”.

Muito além do simples brincar


Além do acolhimento às famílias e às crianças, as creches são, principalmente, um espaço de aprendizagem. Elas são responsáveis por iniciar o contato das crianças com a socialização e o mundo da educação durante os primeiros anos de vida. É durante a primeira infância que elas desenvolvem habilidades cognitivas, sociais, emocionais e afetivas para o futuro.

Segundo a coordenadora pedagógica da Creche Escola Miguel Arraes (Roda de Fogo), Severina Gomes, o dia a dia vai além da recreação e cada fase é acompanhada de perto pelos professores e auxiliares de desenvolvimento infantil (ADI), que usam o brincar como uma ferramenta pedagógica, com a utilização de formas, números, cores e letras de forma lúdica, para promover o crescimento desses alunos de forma integral.

“Então, quando alguém diz ‘Ah, a criança vai só brincar’, nós respondemos com: o brincar é da criança, mas a intencionalidade é do professor, é da coordenação, é de quem está ali planejando e observando. E é nesse brincar que se constróem as habilidades”, explica Severina.

Investimentos:
R$ 150 milhões
Crescimento do número de vagas:
142%
Vagas oferecidas em 2025: 16,2 mil
Creches da rede municipal: 183
Creches em unidade própria: 104
Creches em parceria: 79
Inaugurações em 2025: 2
Inaugurações na primeira gestão: 43
Salas de aula entregues: 170
Requalificações entregues em 2025: 27
Plano de requalificação para a segunda gestão:
90

ESPECIAL EDUCAÇÃO:

Edição: Pupi Rosenthal
Textos: Adelmo Lucena e Marina Costa
Diagramação: Ira Oliveira
Fotografia: Sandy James
Tratamento de imagem: Cláudio Coutinho