O risco da onda de mandar nudes "Pornografia de vingança" afeta milhões de norte-americanos, aponta estudo

texto: Rob Lever
da Agência France-Presse

Publicação: 13/05/2017 03:00

 (Silvino/DP)

Washington - Pode ser um amante abandonado procurando vingança após o término. Ou então um hacker, amador ou profissional, publicando imagens íntimas de uma celebridade. A chamada “pornografia de vingança” - a publicação de nus, ou de fotos explícitas sem o consentimento da pessoa retratada - afeta um em cada 25 norte-americanos, de acordo com um novo estudo sobre o fenômeno. A questão chamou a atenção do público em 2014, quando fotos de nus de celebridades, entre elas a atriz Jennifer Lawrence e a modelo Kate Upton, foram postadas por um hacker na Internet, no escândalo que ficou conhecido como Celebgate.

A principal autora do estudo, Amanda Lenhart, do Data & Society Research Institute, disse que esta foi a primeira pesquisa nacional sobre pornografia de vingança, ou não consensual. Segundo o estudo, 2% da população tiveram uma foto, ou vídeo, explícitos postado na Internet sem sua permissão, e muitos outros enfrentaram tal ameaça. No total, 4% foram vítimas de publicações de imagens, ou de ameaças, o que equivale a cerca de 10,4 milhões de pessoas, de acordo com a pesquisa.

“A pornografia não consensual pode ter um impacto devastador e duradouro sobre as vítimas. Por isso, é essencial que entendamos o quão comum isso é e quem é afetado”, disse Lenhart. “Mesmo que as imagens não cheguem a ser publicadas, os agressores podem usar ameaças como um método de controle, ou de intimidação das vítimas”, acrescentou. Em alguns casos de pornografia de vingança, imagens explícitas foram roubadas de servidores privados online, ou na nuvem, enquanto outras vítimas foram fotografadas, ou filmadas, secreta, ou forçosamente.

Atrizes, modelos e atletas que foram vítimas da pornografia da vingança no Celebgate falaram da angústia emocional que experimentaram. “Só porque eu sou uma figura pública, só porque eu sou uma atriz, não significa que eu pedi isso”, disse Lawrence, em uma entrevista após o incidente. “Não é um escândalo. É um crime sexual, é uma agressão sexual”, denunciou.

Os jovens de entre 15 e 29 anos são mais propensos a relatar terem sido ameaçados, e há mais mulheres afetadas do que homens: uma em cada 10 mulheres com menos de 30 anos disse ter sofrido ameaças desse tipo. Entre os internautas que se identificam como lésbicas, gays, ou bissexuais, 15% disseram que alguém ameaçou compartilhar fotos, ou vídeos, deles nus, ou quase nus.

Problema atinge até o Pentágono


Washington - O Pentágono solicitou que os militares reportem a seus comandantes todo site que esteja compartilhando fotos de marines nuas sem que elas saibam, um escândalo que atinge o corpo dos fuzileiros. “Queremos que as pessoas que tenham conhecimento ou sejam testemunhas deste compartilhamento online denunciem rapidamente para sua cadeia de comando”, indicou Jeff Davis, porta-voz do Pentágono, ao oferecer outras opções disponíveis para informar sobre o acontecido, como os serviços de prevenção ao assédio sexual ou de ajuda familiar.

A publicação das fotos nestas circunstâncias representa uma “violação escandalosa dos valores fundamentais no Departamento de Defesa”, disse Jim Mattis, secretário de Defesa e general da reserva do Corpo de Marines.

O prestígio do Corpo de Marines foi atingido pela revelação da existência de uma página no Facebook na qual marines da ativa e da reserva compartilham fotos de suas colegas de corporação nuas.

As imagens foram compartilhadas sem o conhecimento das mulheres em questão, por exemplo, por pessoas que trabalharam com elas, acompanhadas de comentários chulos. Várias destas mulheres foram identificadas com nome e unidade.

A página do Facebook chamada Marines United e que agora está fechada tem cerca de 300.000 seguidores. O serviço de investigação do corpo de Marines abriu um processo.

O site Business Insider informou que existe outra plataforma, que não envolve apenas as marines, mas outras integrantes das Forças Armadas norte-americanas.

O comandante dos Marines, general Robert Neller, reconheceu que “há um problema”. “Não consulto as redes sociais, talvez seja um erro”, explicou em tom grave. Neller admitiu que “ao menos uma dezena” de marines denunciou a situação a seus superiores.

O investigador do caso, o marine da reserva Thomas Brennan, disse que são “duas dezenas” de denúncias. O governo do então presidente norte-americano Barack Obama eliminou no ano passado as últimas restrições em função do sexo dos militares, abrindo a porta para as mulheres a todos os postos de combate.

“É importante reconhecer que os homens também são vítimas da pornografia não consensual. As vítimas do sexo masculino são muitas vezes invisíveis, mas espero que este relatório nos desafie a pensar de forma diferente”, Amanda Lenhart, autora de estudo sobre pornografia de vingança feito com três mil internautas


Dinamarca decide endurecer punição

A Dinamarca apresentou medidas para combater o revenge porn (pornô de vingança), que consiste na divulgação de fotos ou vídeos íntimos nas redes sociais sem a autorização das pessoas afetadas, incluindo a punição dessa prática com dois anos de prisão. “Fotos de nus de ex-amantes estão sendo compartilhadas online em uma escala chocante”, disse o primeiro-ministro dinamarquês, Lars Lokke Rasmussen, em sua conta de Facebook.

“As vítimas têm cicatrizes em suas almas que elas têm que suportar pelo resto de suas vidas”, acrescentou. Na Dinamarca, 17% dos homens e 13% das mulheres de 15 a 25 anos tiveram fotos suas nus publicadas na internet, segundo dados do governo. Nenhum dado indica se essas fotos foram publicadas na rede com ou sem o seu consentimento.

O projeto do governo, apresentado pelos ministros da Justiça, da Igualdade de Gênero e da Educação, busca informar as vítimas sobre o procedimento que devem seguir quando apresentam denúncias. Até agora, este tipo de assédio sexista era punido com seis meses de prisão. O governo prevê fazer um estudo sobre a percepção que os jovens têm de gêneros, corpos, sexualidade e comportamento digital, e lançar um programa educativo nas escolas.