Abuso sexual no trabalho: um flagelo mundial O abuso sexual no ambiente de trabalho é um problema endêmico. Dos esportes aos meios de comunicação, do cinema à moda ou ao mercado financeiro, as denúncias abalam várias indústrias após o escândalo de Weinstein

Publicação: 28/10/2017 03:00

CINEMA

Desde o começo de outubro, mais de 50 mulheres denunciaram que, ao longo de décadas, foram vítimas de abuso, assédio sexual e estupros por Harvey Weinstein, o outrora superpoderoso produtor de Hollywood. Suas vítimas incluem as famosas atrizes Angelina Jolie e Gwyneth Paltrow. Nesta semana, a atriz Dominique Huett apresentou uma denúncia contra a Weinstein Company por ser cúmplice, já que sabia e não fez nada para impedir os abusos de seu cofundador e “seus atos repetidos de conduta sexual imprópria com mulheres”.

A ganhadora do Oscar Reese Witherspoon relatou que tinha só 16 anos quando foi abusada pela primeira vez por um diretor, que não identificou, e disse que sentiu raiva dos “agentes e produtores que fizeram eu sentir que o silêncio era uma condição para manter meu emprego”.

O diretor James Toback foi alvo de dezenas de acusações.

MODA

O grupo Conde Nast demitiu Terry Richardson, fotógrafo nova-iorquino conhecido por suas imagens sexualmente explícitas, inclusive com cantoras como Miley Cirus, vetando assim seu trabalho de várias das
principais revistas do mundo.

Apesar de ter recebido denúncias durante anos, a companhia de mídia só tomou uma atitude após um jornal britânico apontar que Richardson era “o Harvey Weinstein da moda”.

A modelo norte-americana Cameron Russell lançou uma campanha no Instagram chamada #MyJobShouldNotIncludeAbuse (#MeuTrabalhoNãoDeveriaIncluirOAbuso) que rapidamente recebeu mais de 70 relatos anônimos de abuso sexual, conduta libidinosa e assédio.

GASTRONOMIA

O famoso chef norte-americano John Besh, garoto-propaganda de culinária de Nova Orleans que já cozinhou para líderes mundiais e apareceu em programas de televisão, também renunciou na segunda-feira ao cargo em sua empresa após várias mulheres alegarem que o assédio sexual é comum em seus restaurantes.

Besh reconheceu uma “aventura amorosa”, mas negou uma cultura abusiva em sua companhia, onde mulheres asseguraram que seus companheiros de trabalho e supervisores as tocavam e faziam comentários de forma inapropriada, e por vezes tentavam coagi-las a ter relações sexuais.

O Times-Picayune publicou que 25 mulheres foram vítimas de assédio sexual por parte de funcionários do Besh Restaurant Group, que administra 12 restaurantes.

ESPORTE

A ginasta olímpica McKayla Maroney, vencedora de uma medalha de ouro, revelou em 18 de outubro que sofreu abuso durante anos do ex-médico da equipe nacional de ginastas, Larry Nassar.

Nassar, que enfrenta um julgamento por mais de 20 acusações de abuso sexual, começou a assediá-la aos 13 anos, e a agressão continuou ao longo de sua carreira, inclusive nos Jogos de Londres-2012 e no Mundial de Tóquio-2011, contou Maroney.

Mais de 350 ginastas foram abusadas sexualmente por diversos homens, segundo o jornal Indianapolis Star. O escândalo forçou a renúncia do chefe da equipe de ginástica dos Estados Unidos, Steve Penny.

FINANÇAS

O Fidelity Investments, um dos fundos de investimentos mais poderosos do mundo, demitiu dois altos executivos após denúncias de abuso, inclusive o diretor de um fundo de US$ 16 bilhões. A imprensa indicou que a presidente da empresa, Abigail Johnson, considerada a mulher mais poderosa do setor financeiro norte-americano, uma indústria dominada por homens, foi fundamental nestas demissões. “Não toleramos este tipo de comportamento”.

IMPRENSA

Há muitos anos, a Fox News é alvo de denúncias de assédio sexual por parte de seu ex-presidente, o falecido Roger Ailes, e de seu ex-apresentador Bill O’Reilly. Ambos chegaram a acordos de indenização amistosos com diversas funcionárias da empresa.

O jornal The New York Times relatou, no sábado passado, que em janeiro O’Reilly, demitido quando as denúncias vieram à tona, fez um acordo de US$ 32 milhões com a assessora legal da Fox, Lis Wiehl.

POLÍTICA

O ex-presidente norte-americano George H. W. Bush, de 93 anos, pediu na quarta-feira desculpas, após uma atriz acusá-lo de ter tocado nela há quatro anos. “Apalpou meu bumbum da sua cadeira de rodas, com sua mulher Barbara Bush ao lado. Me contou uma piada suja”, disse Heather Lind. Uma carta aberta que circula no estado de Illinois desde segunda-feira, sem nomes, detalha incidentes de políticos fazendo comentários inapropriados às funcionárias mulheres.