A maior coleção de Blythes de todo o Nordeste Usadas para fotografias ou como conforto emocional, bonecas vão além de brinquedos para os colecionadores

Publicação: 25/11/2017 03:00

Com muita informação visual, as dolls, como ficaram conhecidas as bonecas Blythes, por possibilitar a customização, atraem artistas, fotógrafos e empresas, formando um elemento da economia criativa, com um mercado criado em torno de si mesmas, que envolve vendedores de peças de customização, cenários, acessórios personalizados, roupas adaptadas e outros produtos que, no Brasil, chegam a R$ 3 mil.

As Blythes de SanHelen fazem parte de um catálogo que conta com a história de cada boneca e, apesar de declarar abertamente o seu amor pelas dolls hoje, nem sempre foi assim. “Me interessei pelas peças ao me encantar com as fotografias que eram feitas delas e postadas na internet. Comprei a primeira no Mercado Livre. Quando ela chegou, eu achei horrível, me arrependi por ter gastado tanto dinheiro na aquisição e deixei a peça guardada no armário. Porém, 15 dias depois, resolvi fotografá-las e pude perceber que realmente saem incríveis nas imagens. Isso me fez gostar bastante e, a partir daí, comecei a pesquisar sobre”, explica a artista que faz questão de dizer que, na infância, teve todas as bonecas que desejava, incluindo um compêndio de “Susies” e que, no futuro, pretende transformar a coleção em um museu para visitação dos interessados.

Com fãs espalhados por todo o território nacional, as dolls inicialmente foram confeccionadas por uma empresa norte-americana, na década de 1970, pensadas para o público infantil. Porém, os traços fortes do rosto das peças acabaram assustando as crianças e a empresa faliu. Posteriormente, a japonesa Takara resolveu relançar o produto, não mais focado no universo infantil, mas, principalmente, em adultos apreciadores de bonecas. Desde então, elas têm sido responsáveis por eventos e encontros temáticos, que possibilitam trocas de peças, exposições fotográficas, venda de bonecas customizadas, assim como de acessórios e cenários. Isso desperta o interesse de pessoas das mais diversas áreas.

“Trazer o lúdico para um mercado de compra e venda foi um caminho que o Japão encontrou para superar o contexto da crise mundial. As Blythes, como economia criativa, entram nesse processo como uma opção para reaquecer o mercado”, diz SanHelen, que, além do acervo, também se envolve na promoção de encontros e eventos.

CUSTOMIZADAS

Sendo um exemplo vivo de que as bonecas fazem parte da economia, Madalena Malaquias, uma artesã de 63 anos, decidiu, há dois anos, criar uma loja online para vender os produtos e acessórios que confeccionava para as Blythes. Representando a empresa Duda Linda, Madalena, embora ainda muito nova na área, garante que tem mercado. “Ainda sou novata no mercado, tenho poucos clientes. Mas, ainda assim, vendo de 10 a 15 peças, em torno de R$ 250 a R$ 300 ao mês, utilizando a plataforma de venda Mercado Livre. Meu carro-chefe é o crochê, que me permite executar qualquer tipo de peça: blusas, xales, bandanas, chapéus, biquínis, vestidos, mas as preferidas pelos colecionadores são as toucas e boinas”, afirma.

Há quem recorra à coleção como meio de melhorar a si mesma. A advogada Jailde Lemos, 61, por exemplo, conta que, ao conhecê-las e fazer amizades com outros colecionadores, passou a perceber evolução considerável no combate a seu quadro de depressão. “Quando estou em atividade com as Blythes eu consigo esquecer a realidade. Saio um pouco do cansaço cotidiano e sou levada a um mundo mais tranquilo e com um cenário mais encantador. Brincar de Blythe alivia a alma”, comentou. Ela frisa que ainda não superou a doença, mas que o mundo lúdico e as relações que criou com outros fãs são uma ótima distração. “Elas são bonecas encantadoras, diferentes, trazem uma energia diferente. Elas cativam. Quando customizadas, podem ter um toque de doçura. Tenho afeição pelas bonecas, inclusive até nome elas têm, algumas até homenageando pessoas queridas que eu conheço. As bonecas me transportam para outro universo, é uma energia que me ajuda diariamente na luta contra a doença”.

Apesar da prática em torno das Blythes ser uma atividade lúdica, os fãs das dolls garantem que não se trata de uma brincadeira de criança, mas de um jeito adulto de se divertir com elas, como conclui Jailde: “Não nos comportamos como crianças. Somos adultos que têm um gosto em comum pelas bonecas”.

Visual e estilo para qualquer e todo gosto
Um dos grandes diferenciais das Blythes, ou dolls, é seu incentivo à personalização, o que envolve de vestuário à maquiagem, nem sempre “tradicionais”

Coletivo Doll

Para unir pessoas apaixonadas pelas Blythes, SanHelen criou o Coletivo Doll, que organiza encontros de interessados pelas bonecas. Por meio dele, a maior coleção do Nordeste passará a ser exibida aos poucos, numa espécie de casa-museu, ainda sem data para abertura.

Encontre-as

No Brasil, o principal meio de adquirir as bonecas, bem como acessórios, é através de venda direta entre colecionadores, por meio de plataformas como Mercado Livre ou OLX. Há variações de preço, podendo seguir de R$ 1,2 mil a R$ 3 mil, de acordo com a raridade,  customização de peças, tipos de roupas, cenários etc. Vale ressaltar que entre os brasileiros, principalmente, vendem-se bonecas Blythes com um custo bem inferior, chamadas de Factories, bonecas originais que apresentaram falha ou defeito de fabricação e acabaram desvalorizadas.