Um culto vivo na periferia de Olinda
Terreiro de Santa Bárbara, que mantém tradições da Nação Xambá, busca recursos para requalificação
Ana Paula Neiva
aneiva@diariodepernambuco.com.br
Publicação: 29/04/2017 03:00
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Filhas de santo participam de rituais e ajudam a manter o terreiro na comunidade de Portão de Gelo |
Apesar de extinto em alguns lugares do Brasil, o culto à Nação Xambá está vivo e ativo em Olinda. No bairro de São Benedito, a comunidade Portão do Gelo é reconhecida desde 2006 como único quilômbo urbano no Nordeste e um dos três do país. No mesmo local fica o Terreiro de Santa Bárbara, considerado um dos mais antigos do Brasil.
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Pai Ivo de Xambá administra centro desde a morte de sua mãe |
Há oito anos, o babalorixá pai Ivo de Xambá lutava para que o terreiro passasse a responder por pessoa jurídica. Em dezembro passado, conseguiu a regulamentação, o que facilitará o acesso para a busca de financiamentos em instituições bancárias e junto ao governo. O terreiro precisa ser reformado, mas a comunidade não tem recursos. “Precisamos suspender o piso porque, quando chove, as salas ficam alagadas”, explicou. Um projeto para reforma já foi apresentado à prefeitura e aguarda a aprovação do Conselho de Preservação da Secretaria de Patrimônio. A obra deve custar R$ 1,5 milhão. Doações podem ser depositadas na conta corrente 010.6979-5, agência 4890-9 do Banco do Brasil.
No Brasil, há 2.431 comunidades quilombolas. Em Pernambuco, são 130 reconhecidas e dez em processo de reconhecimento. Segundo o Censo do IBGE de 2010, 6.693 pessoas declararam ser ligadas ao candomblé no estado, mas o número pode ser maior. “As pessoas têm medo e vergonha de dizer. Tem muita gente que vem ao terreiro, mas mantém outra religião”, explicou Pai Ivo, o estivador aposentado Adeildo Paraíso da Silva, 63, responsável pela comunidade. Diariamente, o terreiro abre as portas para receber quem quer ajuda. Gente como Naria da Conceição Silva, que frequenta a casa desde menina, levada pela mãe. Uma vez por mês, a casa realiza rituais de toque de atabaque para reverenciar os orixás.
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Memorial guarda objetos usados pela mãe Severina Paraíso, a Biu |
Os cultos são realizados a partir das 16h e abertos aos filhos de santo e convidados. Durante a celebração é servido café e mungunzá. Não se toma bebida alcoólica. Ao som de ritmos africanos, os integrantes dançam em uma roda. Durante o toque também é proibido fotografar. Ultimamente, o terreiro tem encerrado a festa por volta das 20h. “É para não seremos acusados de perturbação de sossego. É injusto, porque ninguém reclama com o padre nem com o pastor por tocarem sinos das igrejas”, diz Pai Ivo.
O terreiro tem função social. Independentemente da religião, acolhe a comunidade. Em Xambá, no dia 13 de maio, a casa estará aberta para a campanha de vacinação contra a gripe em crianças e idosos. “Será num sábado. Vamos atender a todos que nos procurarem para receber a vacina”, garantiu pai Ivo.
Entenda
- BABALORIXÁ e IALORIXÁ - Pai ou mãe de santo, chefe do terreiro, último degrau da hierarquia. Ele recebe o santo e joga buzios
- TOQUE - Cerimônia, festa no terreiro, que abre canais e convoca os orixás. Realizados sempre com atabaques
- ORIXÁS - Deuses africanos que correspondem a pontos de força da Natureza e os seus arquétipos estão relacionados às manifestações dessas forças
- GUIAS - Colares de contas coloridades que representam o orixá plea cor. Dão proteção aos filhos de santo
EXU
Orixá mensageiro entre homens e os deuses. Colar na cor vermelha e preta
OGUM
Deus da guerra, do fogo e da tecnologia. Colar na cor azul marinho
OXÓSSI
Deus da caça. Grande patrono do candomblé. Colar na cor azul claro
OBALUAIÊ
Deus da peste, das doenças de pele e da Aids. Colar na cor preta e vermelha ou vermelho, branco e preto
OXUM
Deusa das águas doces, do ouro, da fecundidade e do amor. Colar na cor amarelo ouro
IANSÃ
Deusa dos ventos e das tempestades. Colar na cor vermelho ou marrom escuro
OSSAIM
Deus das folhas e ervas medicinais. Colar na cor branco rajado de verde
NANÃ
Deusa da lama e dos fundos dos rios. Colar na cor branco, azul e vermelho
OXUMARÉ
Deus da chuva e do arco-íris. Colar na cor amarelo e verde
IEMANJÁ
Deusa dos mares e oceanos. Colar na cor transparente, verde ou azul claro
XANGÔ
Deus do fogo e do trovão. Colar na cor branco e vermelho
OXALÁ
Deus da criação. Colar na cor branca
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Chegada a Pernambuco há 97 anos