Discriminada por causa da idade

Publicação: 17/02/2018 03:00

“Você tem certeza de que vai conseguir fazer o mestrado? Isso é para gente jovem.” Com essa pergunta, a administradora Helena (nome fictício), 53 anos, foi recebida na entrevista da seleção do Programa de Pós-Graduação em Administração da UFPE. Percebeu que as pressões de ingressar em um mestrado já haviam começado. Até então, sabia que sairia menos, encontraria os amigos com menor frequência, mas não tinha consciência de que a idade poderia ser considerada um empecilho para estudar. “Tendo terminado o mestrado, sei que o que ela (a entrevistadora) disse não pode ser levado em conta. Não existe idade para estudar. Ainda sonho em fazer o doutorado”, afirma.

Helena acreditava que tinha a maturidade como vantagem sobre os mais jovens. “Meus filhos já estavam crescidos e eu tinha um emprego estável que me dava condições de estudar. Conciliar estudo e trabalho não é fácil, mas estar em uma empresa que me incentivava foi fundamental”, afirma. Ela conversava com os filhos, na época com 15 e 17 anos, sobre a importância do que estava fazendo. Nem sempre eles entendiam, mas foi possível concluir o curso com o apoio deles.

“Meu marido e filhos nem sempre compreendiam minha ausência e cobravam que eu estivesse mais com eles. Em determinada altura do campeonato, decidi mudar o lugar de estudo do quarto, onde eu ficava isolada, para a sala, onde todos ficavam reunidos. Certo dia, minha filha disse que não aguentava mais olhar para as minhas costas, pois eu estava lá, mas sempre de costas e sem interagir. Porém, de maneira geral, me apoiaram muito”, conta.

Além de considerar que é preciso “estar bem da cabeça” para encarar uma pós-graduação, chegou à conclusão de que o projeto de vida do pós-graduando precisa ser um projeto de toda a família. “O apoio de quem está com você, seja filhos, parceiros, pai, mãe, é fundamental, pois todos acabam sendo afetados pela sua nova rotina. Lembro que eu deitava com o meu marido, conversávamos e eu esperava ele dormir para levantar de mansinho e ir estudar. Conciliar a vida em família com os estudos é, sem dúvida, um desafio, mas se você tem vontade, planos e metas, consegue êxito sem maiores prejuízos. Acho que a pessoa se estressa mais se pensar que gostaria de estar fazendo outra coisa. Se você for estudar pensando que queria estar na praia, em uma festa ou em outro lugar, a ansiedade aumenta. Procurei esvaziar minha mente para focar nos livros”, diz.