Maria, a Senhora de mil títulos Atribuir nomes a Maria, cujo mês se comemora em maio, é tradição desde os primórdios do catolicismo

JAILSON DA PAZ
jailson.paz@diariodepernambuco.com.br

Publicação: 19/05/2018 03:00

O primeiro nome, Maria. Poderia vir acompanhado de Amparo, Dores, Esperança, Fátima, Graças, Piedade ou Prazeres. Ou qualquer um dos mais de mil títulos atribuídos à mãe de Jesus. Ridete preferiu acrescer ao nome da filha “da Conceição” e o sobrenome da família, Dias Alves. A secretária Maria da Conceição Dias Alves, 52 anos, se orgulha disso e faz da escolha da mãe, falecida, motivo de comprovação da própria fé e daquela que confiou a saúde da filha à santa de devoção. “Não haveria nome melhor do que o da Mãe Santíssima”, acredita. A esta mãe, os católicos dedicam o mês de maio, nas celebrações do qual a secretária se integra na Basílica do Carmo.

São diárias as idas de Maria da Conceição às cerimônias religiosas na basílica e movidas à esperança de tempos melhores. Desempregada, a secretária se inspira na recuperação recente de uma cirurgia para crer na mudança, incerta em um cenário político e econômico nebuloso. Mas ela não é mulher de desistir. Acorda cedo e nas primeiras horas do dia deixa a casa, no bairro de Dois Unidos, e se dirige para o Centro do Recife. Em Santo Antônio, dedica a maior parte do tempo aos afazeres “para Nossa Senhora”. Vende bilhetes de rifas para reforma da basílica, participa dos terços e das missas. E reserva um período para ficar junto aos idosos do abrigo ao lago da igreja. Entende que uma forma de demonstrar a fé é ficando ao lado de quem precisa de ajuda.

Uma das inspirações para o agir de Maria da Conceição foi o convívio familiar. Por anos, ela se dedicou aos pais idosos. Outra inspiração, a figura da mãe de Jesus. “São muitas Nossas Senhoras e uma só Maria”, resume. A variedade de títulos marianos começa pelo próprio nome da recifense, reverência à padroeira do Morro da Conceição. O motivo da escolha do nome se assemelha a outras histórias devocionais: a mãe ao ver a filha doente, ainda bebê, recorreu à intercessão da santa. Em agradecimento, daria à menina o nome da intercessora. Assim fez, reforçando um dos quatro dogmas católicos da Virgem Maria, o da Imaculada Conceição. Em outras palavras, Maria não teve pecado original.

O percurso da devoção mariana é milenar. Ao longo dos séculos, agregou ou separou católicos, ortodoxos e protestantes. O teólogo Afonso Murad, na lista dos mais importantes mariologistas brasileiros, afirma que a versão ocidental do cristianismo católico apresenta características que levam Maria a ser a figura mais importante da espiritualidade.   “A ponto de ser mais citada que o próprio Jesus”, afirma Murad no artigo Perfil de Maria numa sociedade plural. De certo modo, isso se reproduz na organização das paróquias. Das 120 paróquias da Arquidiocese de Olinda e Recife, a mais antiga e populosa das dioceses pernambucanas, 62 têm Maria como patrona, sendo esta representada em 31 títulos diferentes. As referências a Jesus são apenas um quinto de Maria, com 12 paróquias. Dessas, sete estão no Recife, enquanto ao título de o Sagrado Coração de Jesus se devotou quatro paróquias da arquidiocese. O título mais popular de Maria na capital é o de Nossa Senhora do Rosário, com cinco paróquias.

Maria, no entanto, não é o centro, diz padre Rinaldo Pereira dos Santos, administrador da Paróquia São Frei Pedro Gonçalves, no Recife. “O culto de veneração a Maria não para nela porque ela sempre nos conduz ao filho, Jesus”, assegura. Um dos trechos bíblicos que ilustra tal concepção, segundo o sacerdote, é o relacionado às Bodas de Caná, na Galiléia, onde Cristo fez o milagre da transformação da água em vinho. Relata João que, embora Jesus tenha dito não haver chegado sua hora, Maria orientou os serventes da festa que fizessem tudo o que o seu filho lhes dissesse. Além de estar junto a Jesus, do nascimento à crucificação, complementa o padre, Maria esteve presente no nascimento da igreja. “Uma presença materna”, completa.

Saiba mais

TÍTULOS DEVOCIONAIS

  • Mais de 1.000 títulos são atribuídos à Maria no mundo.
  • 50 títulos são evocados na Ladainha de Nossa Senhora.
  • 7 títulos constam entre os mais antigos: Cheia de Graça, Virgem, Mãe de Deus, Estrela do Mar, Senhora, Santa Maria, Rainha do Céu.
  • 5 são as categorias dos títulos devocionais: das doutrinas, das aparições, sacramentais, da vida de Maria e ícones milagrosos.
Títulos doutrinais:
Reúnem os dogmas da Mãe de Deus, Virgindade perpétua, Imaculada Conceição e Assunção.
  • Títulos das aparições: Acrescentam o nome do lugar das aparições de Maria ao de Nossa Senhora, como Nossa Senhora de Lourdes e Nossa Senhora de Fátima.
  • Títulos da vida de Maria: Entre eles, o de Nossa Senhora das Dores.
  • Títulos sacramentais: Relacionados à consagração de Maria, a exemplo de Nossa Senhora da Medalha Milagrosa.
  • Títulos dos ícones milagrosos: Mantêm relação com imagens e pinturas de Maria. No Brasil o mais famoso é a do padroeira nacional, Nossa Senhora Aparecida, cuja devoção começou depois de pescadores encontrarem a imagem em um rio.
DOGMAS MARIANOS
4 são os dogmas, compreendidos como verdades de fé, da Igreja Católica relacionados à Maria: Mãe de Deus; Perpétua virgindade, Imaculada Conceição e Assunção.