THATIANA PIMENTEL
thatianapimentel..pe@dabr.com.br
Publicação: 09/05/2016 03:00
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Uma missão que em outros momentos da casa seria tranquila mas, com o atual cenário nacional de instabilidade política e econômica, se mostra recheada de desafios. Segundo o próprio, retração do consumo e desemprego são apenas parte dos obstáculos que estão “congelando” o setor. “É hora de refletir, traçar novas estratégias e replanejar”, resume o presidente da Ademi, que ficará no cargo no biênio 2016-2017. Para Tinoco, em tempos de crise a ordem do mercado imobiliário deve ser diminuir as despesas e os custos, buscando eficiência e produtividade. Após morar sete anos na Europa, o gestor ampliou sua visão de metrópole e quer reproduzir conceitos modernos de capital expandida na pauta da Ademi. Questões como mobilidade e sustentabilidade também devem ser foco da associação sob sua gestão. No currículo, Tinoco traz 16 anos como diretor financeiro da Construtora Santo Antônio, que já tem 27 projetos concluídos em Pernambuco. O administrador defende que, mesmo com a lentidão no mercado, ainda existe um déficit habitacional grande no estado (cerca de 300 mil imóveis) e que é com esse público, as pessoas que ainda não têm sua casa própria ou querem melhorar sua moradia, que as construtoras locais devem se preocupar agora.
Como o cenário atual do país está influenciando o mercado imobiliário?
Os nossos clientes estão com medo. Todos estão em dúvidas sobre onde investir. Mas a necessidade por habitação ainda continua muito grande. Quando a gente tem um cenário de indefinição política, deve se preparar. No momento em que esse caminho ficar mais claro, com uma definição de qual será a gestão do país, as pessoas vão voltar a correr atrás dos seus sonhos e o maior deles, sabemos, é a casa própria. Então, para os empresários, essa é uma fase de reflexão, é a hora de pensar estratégias, de juntar forças com nossos parceiros. Devemos mostrar ao poder público que estamos dispostos a colaborar e contribuir com soluções para nossa cidade e nossa região metropolitana e, consequentemente, trazer mais benefícios para nosso cliente final, nosso consumidor, que é o cidadão.
Essa definição depende do impeachment?
Não. O setor precisa de uma definição dos rumos econômicos do país, uma definição dos programas de governo, do que o governo vai fazer para os programas sociais ligados à construção civil, como o Minha Casa, Minha Vida, que é muito importante. Queremos entender quais estratégias serão usadas para a retomada dos empregos, o que é essencial na cadeia de consumo. Tudo está atrelado ao emprego.
O programa Minha Casa, Minha Vida ainda é atraente para o setor?
A terceira fase, lançada recentemente, no quesito alteração dos valores, não veio dentro do que os empresários do ramo estavam esperando. O que dificulta a viabilização de projetos junto à Caixa Econômica no Recife e na Região Metropolitana. A conta não fecha. Os terrenos aqui estão muito caros. Houve um aumento da renda familiar, que passou de R$ 1,6 mil para R$ 1,8 mil, mas isso nos dias de hoje pode até ser um dificultador, porque a gente vive um cenário em que é difícil, na prática, visualizar esse aumento de salário.
A nova faixa, 1,5 e a faixa 1, são viáveis para a realidade de Pernambuco?
A faixa 1,5, que foi criada agora, é muito interessante por causa dos subsídios, que podem chegar até R$ 45 mil. Se isso será eficaz ou não, é realmente uma questão de vermos a renda familiar. Temos que saber se vamos encaixar a demanda por esse produto na localidade que as pessoas querem, com a faixa de renda exigida no programa. Na realidade, a oferta de imóveis para as faixas mais baixas, 1 e 1,5, depende também de parcerias com prefeituras e o governo de Pernambuco, que pode doar áreas e agilizar a aprovação desses projetos, assim como a liberação de habite-se. O poder público pode oferecer melhores estruturas como pavimentação, saneamento, água, telefonia, iluminação e transporte público e desenvolvê-las em bairros menos consolidados. Tudo isso influencia na viabilização econômica do negócio.
Quais são os novos bairros ‘queridinhos’ para o mercado imobiliário local hoje?
A expansão natural da Zona Sul são os bairros de Piedade e Candeias. Eles estão em Jaboatão dos Guararapes e existe uma resistência por conta disso, mas a tendência é pensarmos na Região Metropolitana alargada. Há efetivamente pessoas que moram em Olinda e trabalham no Recife, moram em Jaboatão e trabalham no Recife. Temos que pensar como um todo. Para tornar o dia a dia dos nossos clientes mais prático, precisamos buscar o desenvolvimento de toda a metrópole. Um bairro com muito potencial é Campo Grande. É um espaço com muito potencial para construir, muitos terrenos, muitas casas. Na Zona Norte, temos ainda o Arruda e, na Oeste, a Cidade Universitária. Petrolina e Caruaru, falando de interior, estão também com um mercado imobiliário aquecido.
Essa aposta do mercado passa pelo debate da mobilidade. Como vocês analisam esse gargalo, que é claro no Recife?
Nós organizamos um grupo, que tem uma consultoria por trás, que está neste momento fazendo um estudo sobre quais pontos podem ser melhorados em toda a Região Metropolitana do Recife. A Ademi-PE e o Sinduscon-PE lançaram no dia 23 de novembro de 2015 a Rede Empresarial de Articulação da Construção Urbana – Redeprocidade, com o objetivo de alinhar os interesses dos empresários da construção civil aos do poder público e da sociedade. No nosso entendimento, iremos apontar boas soluções para a mobilidade. Faremos um relatório e iremos disponibilizar esse material para as prefeituras envolvidas. Temos interesse em contribuir nisso, porque fazemos parte da cadeia produtiva. É muito fácil apontar erros. O mais difícil é apontar e trazer soluções viáveis aos problemas urbanos. Queremos participar do planejamento da cidade de forma positiva.
Atualmente, qual custo pesa mais na construção de um imóvel?
O que pesa mais é a mão de obra. Mais especificamente em relação à produtividade. Os custos burocráticos entram em segundo lugar. Hoje temos inúmeras taxas para legalizações, regulações, muitas leis para a gente adequar os projetos. A falta de tecnologia dos órgãos públicos e cartórios também atrapalha bastante. Não existe um sistema único. São coisas que dificultam a celeridade e tudo o que demora, torna o projeto mais caro, pois demanda custos desnecessários.
E em relação aos preços, o que os pernambucanos podem esperar do valor dos imóveis este ano?
No curto prazo, os preços vão continuar congelados. Nem sobe e nem desce. Tudo vai depender da situação política. Após esse momento de indefinição, é difícil ver os preços caírem porque os terrenos, que são nossa principal matéria-prima, não estão se reproduzindo. As pessoas ainda buscam os bairros já consolidados como preferência para morar. Já na questão dos aluguéis, apesar de também ser complicado afirmar que os preços vão mudar de forma expressiva, podemos esperar um ajuste dos preços pela queda de demanda neste momento, mas temos esperança que, com a atividade plena da refinaria (Abreu e Lima, em Suape), haja um aumento de demanda e, consequentemente, dos preços de aluguéis, principalmente na Zona Sul.
Nestes termos, qual a expectativa do mercado imobiliário para 2016?
O momento é de reflexão. Segurar projetos e rever estratégias. De repente, modificar desenhos. Um produto poderia estar planejado para um mercado diferente do que temos hoje. Isso faz com que o mercado repense seu calendário. As empresas do mercado imobiliário pensam a médio e longo prazos. Na minha concepção, teremos uma mudança de cenário apenas no final de 2016. Começa a haver uma mudança, uma acomodação do cenário político e econômico. As empresas já vão retomar seus projetos. Em 2017, já no começo, teremos um ano diferente para nosso setor.
E, em relação à sustentabilidade, a quais processos e ações o setor imobiliário tem aderido e contribuído?
Pernambuco está num debate bem avançado em busca de obras sustentáveis, tanto na construção, quanto nos produtos prontos. A grande maioria dos prédios lançados nos últimos anos trabalha com reutilização e aproveitamento de água para as áreas comuns. Desde 2015, temos a Lei Municipal 18.112/2015, que é a lei do telhado verde. Ela é exclusiva do Recife e exige o plantio de hortaliças, gramas, arbustos e árvores de pequeno porte em prédios residenciais com mais de quatro pavimentos e lajes acima de 400 metros quadrados. Isso é obrigatório agora e significa um avanço muito grande para a cidade. Também estamos vendo o crescimento dos painéis fotovoltaicos nas edificações residenciais. Com isso, a conta de energia elétrica dos condomínios pode ser zerada e estes ainda podem conseguir gerar créditos com a Celpe. É uma tendência que deve crescer nos próximos anos. Inclusive em prédios comerciais. Ainda é muito caro instalá-los, mas o caro hoje é cada vez mais relativo.
Saiba mais
- Carlos Tinoco tem MBA em marketing pelo Cedepe Business School e em finanças pela Fundação Getúlio Vargas (FGV)
- Fez sua graduação na Universidade do Minho, em Braga, Portugal, onde morou por sete anos
- Casado com Vanessa Rafaella de Oliveira Souza Tinoco e pai de Carlos Filho, 3 anos, e Maria Helena, seis meses
- Também administra a empresa Kit Portas e a Fazenda Santo Antônio, que produz vinhos
- Foi responsável pela diretoria de Administração e Recursos Financeiros da Ademi nos últimos oito anos.