ENTREVISTA // JANGUIê DINIZ » 'O Brasil não pode parar' Presidente do Conselho de Administração do Grupo Ser Educacional lança, nesta segunda-feira, seu 16º livro

Publicação: 24/06/2017 03:00

Defensor ferrenho do desenvolvimento do Brasil e da educação como principal caminho para o crescimento, o empreendedor, doutor em direito, reitor do Centro Universitário Maurício de Nassau (Uninassau) e presidente do Conselho de Administração do Grupo Ser Educacional, José Janguiê Bezerra Diniz, vê um futuro brilhante para o país, mesmo considerando que esses dias ainda não estão visíveis. “O futuro do Brasil está na criação de uma nova consciência política e social”, afirma. Em entrevista ao Diario, o fundador da maior organização privada no setor de ensino superior com atuação no Nordeste se posicionou a favor da Operação Lava-Jato e vê a corrupção como um dos maiores problemas da atualidade, mas que não se restringe à política. Pondera, no entanto, que “é uma generalização abusiva dizer que todo brasileiro, em sua essência, é corrupto”. Pensamentos do empreendedor que saiu de Santana dos Garrotes, no Sertão da Paraíba, e dominou o mercado educacional do Norte e Nordeste sobre política, sociedade e desafios do país foram reunidos em seu 16º livro, que será lançado nesta segunda-feira, às 19h, no campus de Boa Viagem da Uninassau. A obra, prefaciada pelo ministro da Defesa, Raul Jungmann, reúne mais de 200 artigos escritos por Janguiê e publicados em jornais e portais de notícias do Brasil. “Os meus textos têm o objetivo de comentar e, também, de fazer uma análise de como é possível superar tais situações, contribuindo, assim, com o desenvolvimento socioeconômico do país”, ressalta.

O senhor é um defensor do desenvolvimento do Brasil. O que acha que está faltando?
Falta muita coisa para chegarmos ao desenvolvimento. O Brasil é um país com uma população batalhadora, que luta para sobreviver diariamente. Sou a favor da Operação Lava-Jato e acredito que ela veio para mudar a forma como os políticos estavam acostumados a pensar: que poderiam enriquecer ilicitamente sem nenhum tipo de punição. Acredito que a corrupção seja o maior problema do nosso país. Pagamos altos impostos e eles não são revertidos em serviços de qualidade porque são desviados pelo caminho. Temos uma Constituição enorme, já repleta de emendas e que precisa ser repensada. É preciso pensar e executar as reformas da Previdência e trabalhista, além da reforma política e tributária. O Brasil precisa qualificar sua população e inovar nesta sociedade disruptiva para evoluir.

Nos últimos meses muito tem se falado sobre as reformas constitucionais. Elas são de fato necessárias?
Existem três prioridades para o Brasil que dependem diretamente do ajuste fiscal. A primeira delas é a reforma da Previdência, com a definição da idade mínima para aposentadoria. Já não somos mais um país de jovens e a expectativa de vida vem aumentando gradativamente, assim, é possível que as pessoas permaneçam mais tempo no mercado de trabalho. A segunda é a educação. As políticas educacionais do Estado que promovem o acesso à educação devem continuar como prioridade. Acesso à educação não é concessão de privilégios, é necessidade. É através dela que se promove igualdade de oportunidades e de condições. Este é o papel exercido pelo Fies e ProUni, por exemplo, que permitem que pessoas sem recursos financeiros realizem um curso superior. Em terceiro lugar, as políticas de proteção social, como o Bolsa Família e o Minha Casa Minha Vida, ainda são necessárias e não podem ser extintas.

Então os ajustes são necessários?
Sem dúvida, precisamos dos ajustes fiscais. No entanto, o corte orçamentário neste ano foi de R$ 42,1 bilhões. A diminuição das despesas refletiu na retirada de benefícios e direitos dos trabalhadores. Entendemos que essas são tentativas de controlar inflação, conquistar a confiança de empresas, empresários e atrair investidores para fazer a economia crescer e normalizar as contas do país. Entretanto, é preciso manter o foco e as prioridades.

A economia do Brasil está em recessão há mais de 3 anos. Na sua avaliação, a situação está perto ou longe de melhorar?
A realidade atual diz que o Brasil vive sua pior recessão nos últimos 25 anos. O índice de desemprego no mês de fevereiro bateu o recorde das últimas décadas, em aproximadamente 13%. A virada da situação em que o Brasil se encontra dependerá de como o país conseguirá mudar a cultura da corrupção. Isso vai levar tempo, mas não é impossível. Não devemos nos iludir: para o mercado econômico, o impeachment produziria uma solução de curto prazo, elevando os pontos da Bolsa de Valores e fazendo o dólar baixar. Mas isso não é o bastante, porque a Operação Lava-Jato tem atingido grande parte da elite política e econômica. Novas eleições podem oferecer um novo começo, mas a solução definitiva está na aprovação de reformas, essenciais para a recuperação da confiança do mercado.

Como o senhor enxerga o futuro do Brasil?
O futuro do Brasil está na criação de uma nova consciência política e social. É preciso limpar a casa e acreditar em um mundo mais consciente e, consequentemente, em um Brasil melhor. Nosso país tem provavelmente um futuro brilhante pela frente, mas esse futuro ainda não está visível. O desenvolvimento econômico brasileiro carece de mais investimento do estado. Não sou defensor do capitalismo estatal, mas prego o investimento público na infraestrutura. Ele provoca o espírito animal do empresariado. O investimento público deve estar acompanhado da iniciativa privada. As parcerias público-privada estão sendo constantemente implantadas por vários gestores públicos. Tais parcerias precisam continuar a existir, já que, através delas, é possível aumentar a capacidade do investimento estatal e, por consequência, dotar o Brasil de atrações para investimentos privados, inclusive estrangeiros.

Há algum tempo, o senhor publicou um artigo que falava sobre corrupção. Alguns acreditam que é fácil ser corrupto. Por que?
A corrupção é um dos maiores problemas na atualidade e enganam-se aqueles que pensam que este é um problema ligado apenas à política. Na prática, ser corrupto é utilizar poder ou algum tipo de facilidade para conseguir vantagens que atendam aos próprios interesses ou de familiares e amigos. É uma generalização abusiva dizer que o brasileiro, em sua essência, é corrupto. Em todos os países do mundo, a percepção do nível de corrupção é bem menor quando as instituições funcionam direito. E aqui me refiro a todos os serviços comuns à população, como saúde, habitação, segurança pública, educação, saneamento, etc. Infelizmente, e mesmo que hoje existam medidas de combate à corrupção, como a Lei de Responsabilidade Fiscal, a Lei da Ficha Limpa e a modernização dos instrumentos de controle interno e externo dos órgãos públicos e das empresas, não temos visualizado melhoras. Aparentemente, a inclinação para o ganho fácil, para tirar vantagem em tudo e para enriquecer às custas do dinheiro público, parece ter se transformado, para alguns, em um projeto de vida a curto prazo.

O senhor está preparando o lançamento de um novo livro, intitulado O Brasil da Política e da Politicagem: perspectivas e desafios. Do que se trata?
A obra é uma compilação de mais de 200 artigos publicados, em dezenas de jornais e portais de notícias do Brasil e do mundo. A partir de 2014, o Brasil começou a viver um declínio na economia, que mais tarde culminaria na pior crise econômica e política da história. Foram inúmeras CPIs, políticos presos, delações premiadas, irregularidades e protestos. O Brasil da Política e da Politicagem foi um dos artigos que escrevi em 2013, mas que ainda é bastante atual. A verdade é que política e politicagem se confundem e a maioria das pessoas não tem uma noção muito clara de o que realmente é política. Infelizmente, o Brasil de hoje está mais para politicagem do que para política. Por um simples motivo: a impressão negativa inicialmente se mostra mais forte que a positiva, então, os políticos corruptos acabam por sujar a imagem do todo, levando o povo a generalizar. A escolha desse artigo para intitular o livro é decorrente do momento atual do nosso país, onde a decepção popular com a postura e os atos de corrupção dos políticos está externada e tem feito a população clamar por dias melhores, exigindo punição aos corruptos.

Quais os textos mais importantes do livro?
O livro é dividido em cinco capítulos: Política, Economia e Desenvolvimento, Atualidades, Educação, Empreendedorismo, Esportes, Tecnologia e Meio Ambiente. Na política, eu destacaria o artigo que intitula este livro: O Brasil da Política e da Politicagem. Ele traz a diferenciação das palavras e a importância de estarmos atentos aos políticos que escolhemos para nos representar. Já no capítulo de Atualidades, destaco o Racionamento de energia e o risco de apagão, um tema que nunca deixa de ser atual em um país que vive períodos prolongados de seca. Na área de Economia e Desenvolvimento, Transparência nas contas públicas merece relevância em meio a tantos escândalos de corrupção. Pela Educação, sem dúvidas Educação e esportes: poderosas ferramentas de integração é um texto que pode ajudar algumas pessoas a perceber a importância de aliar atividades para obter resultados positivos na educação. No capítulo de Tecnologia e Meio Ambiente, destaque para Energia limpa e sustentabilidade, que discursa sobre como devemos pensar em como produzir energia suficiente e sem prejudicar o planeta.

Esta é o seu 16º. livro. Ainda há ideias para tantos assuntos?
Sempre. O mundo não para e os assuntos que trato nos artigos são sempre do cotidiano. Todos queremos ler e aprender um pouco mais sobre política, religião, esportes, sustentabilidade e outros temas. Então, sempre há o que se falar. Os meus textos têm o objetivo de comentar e, também, de fazer uma análise de como é possível superar tais situações, contribuindo, assim, com o desenvolvimento socioeconômico do país e esses assuntos nunca se esgotam. A leitura é necessária para se manter atualizado. Todos os dias, leio os principais jornais do país e acesso vários sites para ver o que está acontecendo pelo mundo. Além de se atualizar, ler nos ensina a escrever melhor, a compreender diversos assuntos.