Ingredientes de origem conhecida Saber a procedência de frutas, legumes, carnes e grãos é princípio de fornecedores e empreendimentos que adotam orgânicos

Publicação: 13/01/2018 03:00

Tudo começa na feira de orgânicos, produtos atualmente disponíveis também em grandes redes de supermercados, devido à demanda. Recanto para quem quer se ver livre de alimentos contaminados por agrotóxicos, esses mercados estão espalhados pela Região Metropolitana do Recife operam com periodicidades diferentes - a maioria funciona uma vez por semana - e clientes cativos. Nesses casos, saber de onde vêm os alimentos faz parte de um processo que também envolve confiança no comerciante e no método de produção utilizado pelos fornecedores.

Essa é uma das preocupações da empresária Renata Nascimento ao administrar o Tulasi Mercado Orgânico, espaço responsável por comercializar mais de 600 tipos de produtos com rígida verificação. É preciso garantir que tudo seja saudável, sem conservantes industriais e ofereça baixo impacto ao meio ambiente. Para além de vender, o estabelecimento atua como unidade de processamento e controle de qualidade dos alimentos guarnecidos por quatro agricultores parceiros, devidamente certificados, que abastecem as prateleiras do local com carnes vermelhas e brancas, arroz, feijão, massas, hortaliças e outros alimentos orgânicos. O que não pode ser fabricado dentro do grupo Tulasi vem de cooperativas parceiras.

“Estamos acostumados a uma forma de consumir meio cega, apenas olhando as embalagens e o que o fornecedor diz. Na verdade, o processo produtivo tem um impacto político, social e ambiental abrangente e profundo, mas invisível. Dizem que comprar produtos orgânicos é caro, mas só porque não colocaram na ponta do lápis o preço de consumir sem responsabilidade ambiental e ingerir venenos de verdade em altas doses”, explica Renata.

Ela vê o esmero nas etapas iniciais de produção - nutrição adequada do solo, uso de sementes saudáveis etc -, como fator importante no resultado final dos alimentos, quando estão preparados, além da questão socioecológica. A crença é compartilhada por Elizabeth Cardeal, à frente do Orgânico 22. O restaurante, situado nas Graças, compartilha o cuidado em oferecer alimentos mais naturais e frescos com pratos igualmente elaborados. Os pães têm fermentação natural e a farinha de trigo, os ovos, a manteiga, as hortaliças e frutas e verduras têm procedência orgânica, com exceção do grão de bico, cujo preço da versão mais “saudável” se torna inacessível, diz ela, por precisar ser importado.

Elizabeth também começou mas feiras orgânicas. “Sempre cozinho em casa alimentos naturais e queria oferecer isso a outras pessoas. São produtos saudáveis, vindos de produtores locais e que não precisam passar por atravessadores ou sites de compras”, diz. No Orgânico 22, o cardápio sofre baixas ao longo do ano por estar sujeito à sazonalidade de alguns ingredientes. “É primordial que a fruta seja da época. Se não está na época do cajá, então não servimos, adaptamos a receita. Algumas pessoas não entendem, reclamam, mas não faz sentido eu importar algo de São Paulo ou outro lugar se teremos aqui, mas em outro momento. Não podemos forçar a natureza”. O espaço também opera como padaria, aos sábados.

É justamente essa ideia que defende Tatiana Peebles, dona da Yaguara Ecológico. O negócio de família funciona desde 1978 oferecendo um “ciclo fechado” de produção de diversos tipos de alimento. “Ser orgânico não é suficiente. O foco maior hoje em dia é ser ecológico, visar a proteção do meio ambiente, dos animais e a sustentabilidade. Tudo isso é preocupação do consumidor”, detalha. Da fazenda  Várzea da Onça, em Taquaritinga do Norte, no interior do estado, são distribuídos produtos para São Paulo, Espírito Santo e outros lugares do país, além da capital pernambucana. Os destaques são os embutidos, suínos, café e mel.

Cuidado até a mesa

O queridinho do menu do Orgânico 22 é o bolo de cacau (R$ 11 a fatia), que leva na receita ovos, leite, trigo, cacau em pó vermelho, trigo e calda de chocolate meio amargo. A casa também serve um sanduíche de abacate com shiitake (pão integral, shiitake, abacate, molhos de mostarda, queijo montanhês, tomatinhos e alface, R$ 21) e saladinhas variadas, cujos componentes variam de acordo com as estações. Outro destaque é o suco verde (coco, rúcula, limão galego e hortelã, R$ 12), servido com uma folha de hortelã ou alecrim, que pode ser levada pelo cliente para reaproveitamento em casa. A bebida deve ser consumida sem canudo, que deixou de ser usado no local para diminuir a produção de lixo e preservar as tartarugas marinhas, recorrentes vítimas deste tipo de resíduo nos mares.