Quem ensina aprende em dobro
Conheça pais que se dedicaram a orientar os filhos não só a dirigir, mas
a serem motoristas com cidadania
Marília Parente
Especial para o Diario
mariliaparente.pe@dabr.com.br
Publicação: 10/08/2014 03:00
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Ráguia Silva transmitiu para a herdeira, Raguiara, lições de cidadania no trânsito |
“Jornalismo é assim: eu dou um ponto e você constrói um linha”. Quem disse isso foi Ráguia Silva, escritor, diretor, pai de Raguiara Silva e personagem desta matéria. Coberto de razão, Ráguia não estava errado quando intuiu que não precisava falar muito para que esta reportagem constatasse que ele é capaz de tudo por sua filha e pudesse contar sua história hoje, no Dia dos Pais. Ele trocou fralda, deu mamadeira e ensinou Raguiara a ser confiante através do volante.
O professor garante que o carro foi instrumento dos bons. “Pai você já nasce, mas o automóvel foi mais uma oportunidade de construir amizade. Eu não ensinei minha filha a dirigir, ensinei a confiar em si. Dei noções básicas, a coloquei na direção e acreditei em seu potencial. Hoje, aos 22 anos, ela é uma mulher independente”, comenta Ráguia. Para além do nome, a moça herdou outras características do pai. “Raguiara costuma brincar que vivo sendo ultrapassado pelos ônibus no trânsito. Acho que passei para ela que a forma como dirigimos tem muito a ver com a maneira com que encaramos a vida. Dificilmente um bom cidadão é um motorista ruim”, coloca.
Muito além da auto escola
Depois de tirar as rodinhas da bicicleta de seu filho, o designer Gabriel Lins, durante sua infância, o funcionário público Nilton Angelim se viu obrigado a executar a tarefa mal desempenhada pelas auto escolas de dar-lhe aulas de direção. “Essas instituições quase não fazem os alunos dirigirem na rua e dedicam a maior parte do tempo a exercícios repetitivos”, opina. Nilton assume que às vezes faltava paciência nas aulas de direção, mas se lembra de que elas fizeram-lhe prestar mais atenção na própria condução. “Quando uma pessoa começa a dirigir, o receio de cometer uma infração torna-lhe mais atenta ao trânsito. Então quando eu procedia de maneira incorreta, ele reclamava. Quem ensina é obrigado a dar exemplo”.
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Para Nilton Angelim, pai de Gabriel, as escolas de trânsito oferecem muita teoria |
Eles ensinam
Para Ráguia, “dirigir é aprender a andar com pé de borracha”. O escritor acredita que a maior inimiga da boa condução é a tensão. “Quando minha filha relaxou na direção, os sentidos dela naturalmente foram se libertando. Como muitos recém-habilitados, ela olhava para o asfalto ao invés de conseguir manter a atenção à sua frente e aos retrovisores”. Nilton deu algumas dicas pertinentes para quem está dando os primeiros passos com as rodas. “O material não é o mais importante. Não dá para aprender a dirigir em pânico com a possibilidade de arranhar o carro. Também cabe aos pais ter tolerância com os erros dos filhos”, comenta.