Brasil, um país multicultural

Sérgio Ricardo Araújo Rodrigues
Advogado e Professor Universitário

Publicação: 16/01/2023 00:30

Um país multicultural é aquele onde diversas culturas podem conviver de forma harmônica, com respeito e interação entre elas.

O Brasil é reconhecidamente um dos países de maior abrangência multicultural. Desde o período da colonização, o país é constituído de hábitos e costumes oriundos de europeus, africanos e os próprios nativos de cada região.

Pude experimentar um pouco de algumas manifestações culturais diversas no último final de semana ao caminhar um pouco nas belas ruas do Recife e Olinda, pude dançar novos ritmos, cantar novas músicas, ouvir belos poemas e compreender a fé e ancestralidade dos movimentos de nossas cidades.

E como é bonita e construtiva a diversidade.

Mas vi também segregação, divisão e desvalorização.

Conversei um pouco com um poeta de rua de nossa cidade, chamado Sérgio Ricardo, que pôde me contar um pouco de sua história batalhadora de caminhar pela cidade entoando suas lindas poesias, em busca de algum trocado, sem ser valorizado devidamente.

Pude participar de um ensaio de um grupo cultural de Olinda que literalmente tiveram que passar o chapéu para manter sua arte viva.

E como a segregação econômica tem empobrecido nossa vocação multicultural.

Edilberto C, professor e poeta potiguar já disse: “Em vez de multiplicar, se divide. Divide-se em classes sociais bem distintas; divide-se territorialmente por regiões, como também entre territórios de negros e de brancos; favelas e asfaltos; Norte e Sul…”

E como temos vivido essa separação nos últimos dias, depois do evento tenebroso que nos assombrou no último domingo em Brasília, onde prédios e um vasto acervo artístico e cultural foi destruído.

Não precisamos ser iguais para darmos as mãos de forma construtiva, basta querer ter vontade de ser relevante e não viver a mediocridade, o lindo poema de Bráulio Bessa, Amor às Diferenças, assim nos ensina:

O amor é a própria cura
remédio pra qualquer mal
cura o amado e quem ama
o diferente e o igual.
Talvez seja esta a verdade:
é pela anormalidade
que todo amor é normal.
Entenda que nesse mundo
com todo tipo de gente,
dá pra praticar o amor
de mil formas diferentes,
talvez uma opção
seja amar com o coração
e respeitar com a mente.


Frente à nossa característica única no mundo, não podemos aceitar que um só pensamento seja imposto à sociedade como único e regente de nosso futuro de um forma programada e que nos envolva como amarras à liberdade.

O diálogo e aprendizado com as diferenças deverá dominar nosso ambiente cultural, político, social e jurídico, para que nossas Instituições não sejam enfraquecidas, como temos infelizmente enxergado.

Não deveríamos ter cidadãos esquecidos, emudecidos pela tentativa infame de dominação de uma ideia única, como se nossas mentes pudessem ser entorpecidas em nome de uma ideologia mesquinha e empobrecedora.

Viva nosso país e viva a diversidade aqui existente e que possamos combater a mediocridade da autonegação do que somos.