Uma carta de despedida ao amigo Eugenio Jerônimo

Chico Shimada
Jornalista

Publicação: 29/04/2025 03:00

Era fim de noite do sábado (26/4), quando recebi a ligação da amiga e fotógrafa Ely Freitas: “Chico, tenho uma notícia triste para te dar...”. O silêncio de segundos deu lugar a inúmeras lembranças com apenas uma palavra: “Eugenio...”.

Eugenio Pacelli Jerônimo Santos (1966 –2025) foi meu último chefe antes de eu assumir os cargos de adjunto e assessor de Comunicação Social do Tribunal Justiça de Pernambuco (TJPE) em junho de 2016, onde fiquei até outubro de 2024. Trabalhamos juntos entre maio de 2014 e fevereiro de 2016, quando ele coordenou o então Núcleo de Comunicação Social do Tribunal Regional do Trabalho da 6ª Região (NCS/TRT6), e fui um dos contratados para integrar a equipe de Jornalismo do órgão. Na verdade, Eugenio jamais foi chefe; ele foi gestor, parceiro, entusiasta, defensor, simples, gentil, solidário, inovador e amigo.

Lembro-me da defesa dele pela garantia dos empregos da nossa equipe terceirizada de Comunicação que prestava serviço ao NCS/TRT6. No segundo semestre de 2015, houve um corte considerável de investimentos na Justiça do Trabalho. A partir de articulação dele em parceria com a presidenta do TRT6 à época, desembargadora Gisane Barbosa de Araújo, nosso contrato foi mantido até o momento que foi possível. A estagiária Jacqueline Fraga, a jornalista Larissa Correia, a designer Micaela Freitas, o fotógrafo Danilo Galvão e eu ficamos no Tribunal por um tempo considerável, sempre contando com o apoio de todas as pessoas daquela casa. Seguimos rumos distintos depois. Mas tudo isso só foi possível graças à intervenção de Eugenio.

Particularmente, aprendi muito com Eugenio enquanto gestor humanista. Somadas às experiências vividas com a jornalista Rosa Miranda, no TJPE; e os jornalistas Christian Dawes e Daniel Varsano, no Comitê Olímpico do Brasil (COB), foi com Eugenio que aprendi a humanizar o cotidiano da Comunicação Social em instituições públicas, alternando iniciativas horizontalizadas e verticalizadas, com gestão participativa, respeito à hierarquia e defesa justa de minhas equipes. Esse é um legado único, que espero honrar também até o fim de minhas funções enquanto jornalista e servidor público.

Mestre em Linguística, graduado em Letras, professor e poeta, Eugenio tinha verdadeira paixão e respeito pelo Jornalismo. Natural de Iguaracy (PE), cidade do Sertão do Pajeú, onde veio a falecer, ele era um entusiasta da Comunicação voltada para o Social, feita de forma simples e para o povo. Tanto que foi reconhecido pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), em 2024, em razão da publicação da obra A Linguagem Simples na Justiça do Trabalho, lançada em 17 de junho passado. Com versos do amigo e xilogravuras do saudoso J. Borges, o cordel buscou traduzir a complicada linguagem dos processos judiciais, como no exemplo dos “autos conclusos”:

Autos conclusos a gente
Pode assim traduzir
A papelada tá pronta
Pra justiça decidir.


Foi com Eugenio, ainda, que aprimorei os sentidos de responsabilidade, companheirismo e atuação conjunta dentro e fora do ambiente de trabalho, valores apreendidos ao longo dos tempos, seguindo os exemplos de minha mãe Lúcia e meu pai Ivo. Tudo aquilo que a gente faz, ou deixa de fazer, tem impacto profundo na vida de outras pessoas. Decisões implicam em cisões, e elas têm de ser tomadas com sabedoria. Suas “broncas”, na verdade, eram orientações de um pai para um filho.

Sempre recorreu à máxima “corrigir em particular e elogiar em público”, também reconhecendo as próprias limitações e abrindo espaço para que os outros pudessem brilhar. Foi graças a ele que, por quase dois anos, fui produtor e redator do Justiça do Trabalho num Minuto, programete veiculado na Rádio Jornal do Commercio e narrado pelo “Comunicador da Maioria”, o radialista Geraldo Freire, de quem Eugenio foi biografo no livro O Que Eu Disse e o Que Me Disseram: a improvável vida de Geraldo Freire, lançado na 11ª Bienal Internacional do Livro de Pernambuco, em outubro de 2017.

Nós nos falamos pela última vez no final do ano passado, em novembro de 2024. Eugenio e Ely estavam na aula de pilates — há alguns anos, após problemas antigos com a saúde, ele estava se cuidando —, quando recebo uma ligação dela ao lado dele, que me disse: “Chico, cabra safado, você passa no concurso e nem avisa?! Sucesso, meu amigo. A gente se encontra para comemorar. Um beijo”. Eu já estava em Palmas, onde me encontro neste exato momento, para me despedir à distância do amigo. Mas o coração, o pensamento e a saudade estão em Pernambuco.

Espero, amigo, como prometi, realizar o filme e levar para as telonas o conto de sua obra que mais me chamou atenção e o tenho comigo até hoje. Aqui, guardo segredo sobre essa escolha. Obrigado por confiar a mim essa honra. Que possamos cumpri-la!

Obrigado, Eugenio! Muito obrigado!