Eu sei que nada sei

Sérgio Ricardo Araújo Rodrigues
Advogado e professor Universitário

Publicação: 03/02/2023 00:30

A popular frase só sei que nada sei ou sei uma coisa: que eu nada sei, por vezes compreendida como um paradoxo socrático, é um dizer muito conhecido derivado da narrativa de Platão sobre o filósofo Sócrates.

Esta frase significa que não é possível saber algo com a certeza absoluta e não significa que Sócrates não sabia absolutamente nada.

Com esta frase, é possível aprender e adotar uma maneira de viver. É melhor assumir que não se tem conhecimento sobre alguma coisa, do que falar sem saber. Quem pensa que sabe muita coisa, normalmente tem pouca disponibilidade ou vontade de aprender mais. Em contraposição, quem sabe que não sabe, muitas vezes quer mudar essa situação, mostrando desejo de aprender.

Uma convicção pode ser a mais perversa das prisões, como diz meu sócio Guilherme Guerra, grande incentivador de meus pensamentos.

Quando o que sei não pode ser questionado, escuto apenas o que me confirma. O que é diferente, recuso. Quando tenho toda a razão e o outro, nenhuma, não existe diálogo, dogmatiza se e engessa o discurso.

O mundo das possibilidades e conhecimento é libertador e muito mais interessante do que o cenário que se vislumbra.

Daí nascem as polarizações, pensamentos emburrecidos e sem alvos de crescimento.

Basta ligar a televisão, ouvir o rádio ou abrir folhas de periódicos que temos a notícia de um pais polarizado, sem metas programáticas ou mesmo significância sobre nossa grandiosidade como país e como pessoas.

Nesta quarta-feira aconteceu a eleição da mesa diretora das casas do Congresso Nacional onde o que mais se ouviu foi o termo polarização e não uma programação de votação de leis e instrumentos que venham a trazer crescimento ao nosso povo e país.

É preciso retornarmos ao pluralismo democrático.

Trago as palavras de Luiz Ruffato em Maniqueísmo é ópio do povo:

“O dramaturgo e cronista Nelson Rodrigues definiu certa vez o Brasil como a “pátria de chuteiras”. Dizia-se, na década de 1970, auge do futebol nacional, que éramos 90 milhões de técnicos, tal a paixão despertada pelo chamado esporte bretão. O país mudou, o futebol entrou em decadência, e transferimos e aprofundamos nosso ardor para a política. É no campo de batalha da internet que exercitamos hoje o papel de julgadores de nossos adversários, tornados de maneira sumária nossos inimigos. Envergando a toga da intolerância e sentados na cadeira das certezas absolutas, avaliamos implacáveis uns aos outros, condenando, cegos pelo ódio e pelo ressentimento, todo aquele que de nós ousar divergir, mesmo que minimamente.”

Mais do que uma reforma política, tão alardeada nos últimos vinte anos, precisamos de uma reforma mental nas esferas de Poder, quer seja Executivo, Legislativo e Judiciário, voltados ao frescor das garantias e liberdades de nossa Nação.

Como nos aproximamos do carnaval trago o lindo Samba Enredo de composição de Jurandir / Niltinho Tristeza / Preto Jóia / Vicentinho, Liberdade, Liberdade abre as Asas sobre Nós, que nos faz pensar:

Liberdade, liberdade!
Abra as asas sobre nós (bis)
E que a voz da igualdade
Seja sempre a nossa voz
Vem, vem, vem reviver comigo amor
O centenário em poesia
Nesta pátria, mãe querida
O império decadente, muito rico, incoerente
Era fidalguia.
Surgem os tamborins, vem emoção
A bateria vem no pique da canção
E a nobreza enfeita o luxo do salão
Vem viver o sonho que sonhei
Ao longe faz-se ouvir
Tem verde e branco por aí
Brilhando na Sapucaí


Que possamos ter a liberdade de respeitar a igualdade dentro das diferentes formas de pensar de agir, de ser.

Tenho um outro sócio, Yuri Oliveira, que resolveu parar um pouco e fazer uma caminhada em busca de questionar e meditar sobre seu conhecimento de mundo, chamada de Caminho da Fé, que fica entre os municípios de Águas da Prata e Aparecida do Norte, buscando outras formas de pensar, de encarar o mundo, trazendo em mente que tudo ainda pode ser pensado diferente.

As instituições precisam também de um “Caminho da Fé” para caminhar em busca da Grande Nação que um dia se perdeu, mas que ainda pode ser uma Grande Democracia.