Quem vai pagar a conta dos investimentos em inteligência artificial?

Alexandre Rands Barros
Economista

Publicação: 12/08/2023 03:00

Em texto recente aqui no DP, defendi a tese de que os desenvolvimentos de inteligência artificial (IA) não vão destruir os empregos. A sociedade se ajustará às atividades que exigem engajamento humano. Mas nesse processo de ajuste alguns vão perder e serão aqueles que vão precisar passar por ajustes nas suas qualificações. Enquanto outros vão se beneficiar do momento de rentabilidade extra pelas suas qualificações que serão valorizadas ao longo do processo de ajuste. As ocupações mais atingidas já estão sendo aquelas que envolvem tarefas rotineiras e repetitivas que podem ser automatizadas de forma mais eficiente pela tecnologia. Isso geralmente inclui trabalhos que dependem de processamento de dados, análise estatística simples, tarefas de escrita ou de atendimento ao cliente que seguem padrões previsíveis.

Algumas ocupações que serão fortemente atingidas são: (i) operadores de telemarketing, pois a IA pode ser usada para automatizar tarefas de atendimento ao cliente, como responder a perguntas comuns e fornecer informações básicas, reduzindo a necessidade desses operadores; (ii) trabalhadores de manufatura e montagem, que desempenham tarefas repetitivas em linhas de produção que podem ser automatizadas com a ajuda de robôs e automação de processos; (iii) assistentes administrativos, que desempenham tarefas administrativas rotineiras, como agendamento de reuniões, gerenciamento de e-mails e organização de documentos, pois muitas dessas tarefas também podem ser automatizadas; (iv) operadores de caixa e atendentes de supermercado, pois a automação em estabelecimentos comerciais, como caixas de autoatendimento em supermercados, já está sendo feita por IA e cada vez mais esta deverá avançar nessas funções; (v) trabalhadores de data entry, pois as ocupações que têm como tarefa principal a entrada de dados que envolve copiar informações de um local para outro serão cada vez mais automatizadas, recorrendo-se a tecnologias de reconhecimento de texto; (vi) contadores e analistas financeiros de nível básico que desempenham tarefas de análise financeira que envolvem a organização e análise de grandes conjuntos de dados. Enfim, várias ocupações sofrerão bastante com a difusão da IA.

Vale salientar que algumas das ocupações de nível superior também serão fortemente afetadas e sofrerão redução na demanda de profissionais. Entre elas inclui-se: (i) médicos clínicos gerais e outros envolvidos em levantamento de informações, inclusive por exames, para gerar diagnóstico. A IA poderá realizar tais serviços bem melhor do que o ser humano; (ii) advogados que leem e organizam argumentos, pois a IA avançada pode ser usada para analisar grandes volumes de dados legais e pesquisas, potencialmente reduzindo a necessidade de advogados de pesquisa de nível básico; (iii) jornalistas que recebem informações e escrevem textos descrevendo-as, pois, a redação de textos a partir de um conjunto de informações pode também ser feito por IA.

As ocupações de menor nível de qualificação já estão sofrendo fortemente com a concorrência da IA, porque as novas tecnologias são mais fáceis de serem implementadas nesses casos. Na medicina, advocacia e jornalismo, países desenvolvidos já estão mais avançados na implementação das novas tecnologias e por isso os profissionais já estão sentindo. No Brasil, essas aplicações ainda estão engatinhando.