André Sucena Afonso // biólogo, pesquisador pós-doutorado, UFRPE
Publicação: 17/04/2018 09:00
Desde 1992, um total de 64 incidentes com tubarões foram registrados na costa pernambucana, o último dos quais ocorrido a 15 de abril do presente ano. Com uma taxa média próxima a 3 incidentes por ano e uma proporção de óbitos rondando os 40%, Pernambuco, e mais precisamente a Região Metropolitana do Recife, segue figurando entre as regiões mais perigosas do mundo para a prática balnear no que se refere a risco de mordida de tubarão.
A solução para este problema não é simples nem imediata, obrigando a esforços prolongados e multidisciplinares por parte das autoridades e instituições pernambucanas. Nesse intuito, a constituição do Comitê Estadual de Monitoramento de Incidentes com Tubarões (Cemit), em 2004, veio proporcionar uma plataforma polivalente e promissora para abordar a situação. Incorporando instituições com competências complementares, incluindo pesquisa científica, educação, recuperação ambiental e segurança pública, o Cemit possibilitou a aquisição de conhecimento sobre as circunstâncias que contribuem para o elevado risco de incidente, como o desenvolvimento de estratégias mitigadoras desses incidentes, nomeadamente o Programa de Monitoramento de Tubarões de Recife (Protuba).
A implementação do Protuba veio revolucionar a ciência da mitigação do risco de incidente com tubarões no mundo. A estratégia não-letal conduzida pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) apresentou-se como uma alternativa aos programas polêmicos da Austrália e África do Sul, os quais visam sacrificar as espécies potencialmente agressivas de forma a reduzir a sua abundância. O fato de os tubarões se encontrarem, de uma forma geral, ameaçados de extinção, levou a que esses programas sejam muito criticados globalmente, pelo que o método inédito desenvolvido no Brasil recebeu destaque internacional quando da publicação do artigo científico "A green strategy for shark attack mitigation off Recife, Brazil" na revista britânica Animal Conservation, em 2013. O método brasileiro consiste em interceptar tubarões potencialmente agressivos antes de os mesmos acessarem a área de risco utilizando equipamento de pesca altamente seletivo para essas espécies e otimizado para maximizar a sobrevivência dos espécimes capturados. Os tubarões capturados são então transportados para águas profundas longe da costa, onde são marcados com rastreadores eletrônicos e devolvidos ao mar. Uma vez que os tubarões não retornam para a área de risco após serem liberados, os mesmos deixam de representar risco para a população recifense. Com este método, inócuo para o ambiente, foi possível reduzir a taxa de incidentes em mais de 90% durante os períodos em que o programa se encontrava operacional, o que revela a sua eficácia na mitigação deste tipo de risco.
Os fatores que contribuem para o elevado número de incidentes com tubarão em Pernambuco não são totalmente conhecidos, mas é extremamente provável que as características específicas dessa região promovam o encontro e interação entre tubarões e humanos. A presença de infraestrutura portuária e a disponibilidade de ambientes estuarinos associada com a elevada carga de poluentes orgânicos, a turbidez da água e a topografia da orla costeira deverão, conjuntamente, favorecer a ocorrência de incidentes. Contudo, a recuperação do meio ambiente é um processo complexo e inevitavelmente demorado, pelo que a prevenção de incidentes com tubarão dependerá da utilização de ferramentas mitigadoras eficazes e adequadas.
O pleno entendimento do surto de incidentes em Recife e a otimização das medidas mitigadoras requerem que as pesquisas científicas possam ser enquadradas no longo prazo. Apesar das pesquisas com tubarões potencialmente agressivos da UFRPE prosseguirem em Fernando de Noronha, agora financiadas pela Fundação Boticário e pela National Geographic Society, urge recuperar e consolidar o projeto do Recife. Só assim deverá ser possível prevenir futuros incidentes e esclarecer o papel desempenhado não só pelas características ambientais, como também pelo comportamento humano, na questão dos incidentes de Recife, tendo em vista a otimização das estratégias de prevenção.
A solução para este problema não é simples nem imediata, obrigando a esforços prolongados e multidisciplinares por parte das autoridades e instituições pernambucanas. Nesse intuito, a constituição do Comitê Estadual de Monitoramento de Incidentes com Tubarões (Cemit), em 2004, veio proporcionar uma plataforma polivalente e promissora para abordar a situação. Incorporando instituições com competências complementares, incluindo pesquisa científica, educação, recuperação ambiental e segurança pública, o Cemit possibilitou a aquisição de conhecimento sobre as circunstâncias que contribuem para o elevado risco de incidente, como o desenvolvimento de estratégias mitigadoras desses incidentes, nomeadamente o Programa de Monitoramento de Tubarões de Recife (Protuba).
A implementação do Protuba veio revolucionar a ciência da mitigação do risco de incidente com tubarões no mundo. A estratégia não-letal conduzida pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) apresentou-se como uma alternativa aos programas polêmicos da Austrália e África do Sul, os quais visam sacrificar as espécies potencialmente agressivas de forma a reduzir a sua abundância. O fato de os tubarões se encontrarem, de uma forma geral, ameaçados de extinção, levou a que esses programas sejam muito criticados globalmente, pelo que o método inédito desenvolvido no Brasil recebeu destaque internacional quando da publicação do artigo científico "A green strategy for shark attack mitigation off Recife, Brazil" na revista britânica Animal Conservation, em 2013. O método brasileiro consiste em interceptar tubarões potencialmente agressivos antes de os mesmos acessarem a área de risco utilizando equipamento de pesca altamente seletivo para essas espécies e otimizado para maximizar a sobrevivência dos espécimes capturados. Os tubarões capturados são então transportados para águas profundas longe da costa, onde são marcados com rastreadores eletrônicos e devolvidos ao mar. Uma vez que os tubarões não retornam para a área de risco após serem liberados, os mesmos deixam de representar risco para a população recifense. Com este método, inócuo para o ambiente, foi possível reduzir a taxa de incidentes em mais de 90% durante os períodos em que o programa se encontrava operacional, o que revela a sua eficácia na mitigação deste tipo de risco.
Os fatores que contribuem para o elevado número de incidentes com tubarão em Pernambuco não são totalmente conhecidos, mas é extremamente provável que as características específicas dessa região promovam o encontro e interação entre tubarões e humanos. A presença de infraestrutura portuária e a disponibilidade de ambientes estuarinos associada com a elevada carga de poluentes orgânicos, a turbidez da água e a topografia da orla costeira deverão, conjuntamente, favorecer a ocorrência de incidentes. Contudo, a recuperação do meio ambiente é um processo complexo e inevitavelmente demorado, pelo que a prevenção de incidentes com tubarão dependerá da utilização de ferramentas mitigadoras eficazes e adequadas.
O pleno entendimento do surto de incidentes em Recife e a otimização das medidas mitigadoras requerem que as pesquisas científicas possam ser enquadradas no longo prazo. Apesar das pesquisas com tubarões potencialmente agressivos da UFRPE prosseguirem em Fernando de Noronha, agora financiadas pela Fundação Boticário e pela National Geographic Society, urge recuperar e consolidar o projeto do Recife. Só assim deverá ser possível prevenir futuros incidentes e esclarecer o papel desempenhado não só pelas características ambientais, como também pelo comportamento humano, na questão dos incidentes de Recife, tendo em vista a otimização das estratégias de prevenção.
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