Execução de criança aterroriza famílias rurais Polícia Civil investiga assassinato de menino de nove anos que era filho do líder dos trabalhadores de uma área de engenho em Barreiros, na Zona da Mata Sul

Publicação: 12/02/2022 03:00

Uma criança de nove anos foi assassinada a tiros no Engenho Roncadorzinho, município de Barreiros, na Mata Sul, numa execução que estaria relacionada a questões agrárias. Jonatas de Oliveira Santos era filho de Geovane da Silva Santos, presidente da Associação dos Agricultores Familiares do local. O líder rural também foi baleado, mas sobreviveu. O menino foi enterrado na sexta-feira, sob clima de comoção e revolta na cidade, que está chocada com o crime brutal. De acordo com a Polícia Civil, o caso segue em investigação até que se identifiquem os culpados.

Segundo a Comissão Pastoral da Terra, organização ligada à Igreja Católica que atua para proteger famílias camponesas da região, o homicídio ocorreu às 21h da quinta-feira, quando sete homens encapuzados e armados invadiram a casa da família e atiraram no trabalhador rural. Em seguida, os homens balearam o filho do agricultor, que se escondia debaixo da cama com a mãe. A criança não resistiu aos disparos.

A CPT e a Federação dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares do Estado de Pernambuco (Fetape) denunciam que a comunidade vem sofrendo perseguição nos últimos anos. “A violência é promovida por empresas que exploram economicamente a área, com intimidações, destruição de lavouras e contaminação das fontes de água e cacimbas, por meio da aplicação direcionada e criminosa de agrotóxicos. Os casos de violência contra a comunidade vêm sendo denunciados há vários meses, sem que medidas efetivas sejam tomadas por parte do Estado para solucionar a tensão e a violência no local”, diz o comunicado.

As duas entidades acrescentaram que estão acompanhando o caso e prestando solidariedade à família e à comunidade. “As organizações sociais cobram com veemência que investigações sejam imediatamente realizadas para apurar a sua eventual relação com o conflito agrário instaurado no local, sendo certo que, independentemente da motivação, é inadmissível e repugnante a invasão da casa de uma família e o execução cruel de uma criança”, segue a nota.

A Polícia Civil, por meio da Delegacia Seccional de Palmares, registrou o caso como uma tentativa de homicídio e um homicídio. “De acordo com informações iniciais, homens encapuzados entraram na residência e dispararam contra as vítimas. O pai e o filho foram socorridos no Hospital de Barreiros, mas a criança não resistiu aos ferimentos. O caso segue em investigação até a completa elucidação do ocorrido”, diz a nota.

Conflitos e tensão

No Engenho Roncadorzinho, a ocupação das famílias que vivem da agricultura se consolidou após a falência das usinas onde trabalhavam ou eram credoras. As devidas indenizações nunca foram pagas, segundo os agricultores. A comunidade existe há cerca de 40 anos e abriga cerca de 400 trabalhadores rurais posseiros, sendo 150 crianças, num ambiente de constante tensão por causa da disputa por terra. O Engenho foi propriedade da Usina Central Barreiros, atualmente uma “massa falida” sob administração do Poder Judiciário.