Uma árvore nordestina Pesquisador reúne em volumosa coleção as ramificações familiares do povo do Nordeste. Hoje tem sessão de autógrafos no Teatro Eva Herz

Publicação: 10/12/2014 03:00

Cândido Pinheiro Koren ainda fará uma palestra durante o encontro de hoje (HAPVIDA/DIVULGACAO)
Cândido Pinheiro Koren ainda fará uma palestra durante o encontro de hoje

Em meados do século 18, o recifense Antônio Borges da Fonseca estudou por 30 anos as origens de 63 famílias nordestinas, cujas informações foram catalogadas no livro Nobiliarquia pernambucana. Inspirado pelo extenso levantamento, o médico cearense Cândido Pinheiro Koren de Lima se debruçou sobre o assunto nas últimas duas décadas para traçar uma pesquisa genealógica a mais completa possível, agora publicada em dez volumes pela Fundação Gilberto Freyre. O autor da Coleção Borges da Fonseca fará palestra sobre o assunto hoje, às 19h, no Teatro Eva Herz, na Cultura do RioMar.

Os primeiros troncos familiares a serem pesquisados são os Albuquerque, Lucena, Lira, Simões Colaço e Abraham Senior. As obras trazem mapas geográficos, poesias, documentos da época e fotos retiradas de acervos de várias instituições, entre elas a Fundação Joaquim Nabuco e a Biblioteca Nacional de Portugal. Entre as principais descobertas de Cândido Pinheiro, está a forte presença de sangue judeu no Nordeste, em 97% da população nordestina, do período colonial até a atualidade.

“É muito difícil se falar em famílias nordestinas de ‘sangue puro’, pois aqui sempre esteve presente a interculturalidade. A comunidade judaica é exemplo de valorização ancestral. Toda a história do povo é baseada na cultura oral, com adultos transmitindo as tradições religiosas para os jovens, e também há a preocupação com a ancestralidade. Por isso, judeus convertidos reforçaram muito os estudos genealógicos, na tentativa de comprovar as próprias raízes familiares”, pontua.

As informações genealógicas são também traduzidas por meio das biografias de personagens históricos, como Antônio Simões Colaço, Fernão Perez Coronel, Fernandes de Lucena e Jerônimo de Albuquerque. O último é considerado ascendente da maioria do povo pernambucano. Após chegar ao Brasil, em 1538, ao lado do cunhado, o donatário Duarte Coelho Pereira, teve 36 filhos com várias mulheres.

Para Cândido Pinheiro, as pesquisas sobre a origem nordestina possibilitam maior compreensão sobre características do povo, como a hospitalidade e a bondade. “A genealogia é apenas instrumento para mostrar que somos um povo só. Não existem raças, e, sim, povos separados por culturas”, conclui o pesquisador. Viabilizada com recursos da Lei Rouanet, a coleção terá 500 cópias de cada volume distribuídas gratuitamente para escolas, universidades, institutos históricos, de pesquisa e promoção dos estudos genealógicos.

Entrevista >> Cândido Pinheiro

Qual o nível de detalhamento do estudo?
Procuro repetir aquilo que o projeto genoma fez, mas usando a genealogia como arma. É um trabalho científico, que precisa ser detalhado o suficiente para que a análise de um tema tão difícil não leve a conclusões erradas. Dando valor às minúcias, o material fica com o mínimo de falha possível. São conclusões definitivas a respeito de troncos familiares, cores raciais, religiões.

Que descobertas a respeito da origem do povo o senhor considera mais importantes?
A de que 97% da população nordestina têm sangue judeu, do negro muçulmano da África do Norte e muçulmano semita. Essa população que chega no Nordeste do Brasil já vem miscigenada. Nós trazemos um caldo cultural em decorrência de nossa origem. A influência ibérica é fortíssima, com Portugal e Espanha, mas em algum momento adicionamos a isso uma cultura indígena muito forte.

Como se deu essa junção com a raça indígena?
Diferentemente da colonização norte-americana, quando famílias inteiras foram levadas para habitar a terra, as pessoas vieram para o Brasil solteiras. A maioria desses homens precisava de mulheres, fazer aliança com o povo da terra e, assim, ganhar terreno. Isso foi fácil, porque as mulheres indígenas não tinham a prisão da moral judaico cristã ou as dificuldades impostas pelo cristianismo. Por causa disso, mais de 80% dos nordestinos do período colonial têm sangue nativo, indígena.

O legado do rabino Abraham Senior
(333 páginas, R$ 45)
Abraham Senior, o último rabino-mor da Espanha, teve larga descendência, principalmente na Espanha, Portugal, Holanda e Brasil. Aqui principalmente em Pernambuco, Ceará, Bahia e Rio de Janeiro.


Lucenas
(645 páginas, R$ 45)
Aborda a origem dos Fernandes de Lucena em meados dos 1300, quando foram obrigados a se converter do judaísmo ao catolicismo. Um deles acompanhou Duarte Coelho Pereira até a capitania de Pernambuco.


Os crimes de Simões Colaço
(458 páginas, R$ 45)
Identifica em Antônio Simões Colaço a origem dessa família no Nordeste do país. Os filhos do português fugiram do país para escapar da prisão, alguns com destino a Pernambuco.


Albuquerque: a herança de Jerônimo, o Torto
(654 páginas, R$ 45)
Os Albuquerques de Pernambuco originam-se em dois irmãos - Brites e Jerônimo de Albuquerque. Brites veio para Pernambuco comomulher do donatário Duarte Coelho.


Os Liras, o nome e o sangue – uma charada familiar no Pernambuco colonial
(610 páginas, R$ 80).
Aborda a descendência da família Lira no Nordeste brasileiro desde a sua origem na Ilha da Madeira - Portugal. Parte do estudo se dedica a questionar se os Novos de Lira possuíam sangue judeu.