Um homem de todas as artes Admirado pela competência musical, Naná Vasconcelos produziu trilhas sonoras para clássicos do cinema mundial e atuou pela educação cultural

Publicação: 10/03/2016 03:00

A presença de Naná Vasconcelos se estende às trilhas sonoras de mais de dez filmes, sejam eles brasileiros ou estrangeiros. A primeira trilha sonora foi para o filme Pindorama (1970), de Arnaldo Jabor. O mais recente deles é a animação brasileira O menino e o mundo (2013), indicada ao Oscar de Melhor Animação deste ano e dirigida por Alê Abreu. Além do percussionista, o rapper Emicida, o Barbatuques e o Grupo Experimental de Música - GEM também participam da obra. Com a trilha para o filme Quase dois irmãos (2004), ganhou o prêmio de Melhor Música no Festival de Cinema de Havana, em Cuba. A idade da terra, de Glauber Rocha, com quem o músico morou um ano em Nova York, também tem a marca distintiva do berimbau.

Nos Estados Unidos, o músico participou das trilhas sonoras de Procura-se Susan Desesperadamente (1985), de Susan Seidelman, estrelado por Madonna e Rosana Arquette, e do filme Down by law (1986), de Jim Jarmusch. O berimbau tocado por Naná também pode ser ouvido em duas vinhetas que fazem parte do filme O último tango em Paris, com Marlon Brando e Maria Schneider. Na época, Naná fazia parte da banda do argentino Gato Barbieri, responsável pelas músicas da obra. Ele ainda trabalhou em dois filmes com o diretor finlandês Mika Kaurismaki: Amazonas (1990) e Tigrero, o filme que nunca existiu (2004). Na Europa, chegou a compor trilha sonora com temas brasileiros para uma novela francesa. É, ainda, autor da música de O sertão das memórias (1996), de José de Araújo. O percussionista ganhou, em 2006, um documentário sobre ele, chamado O diário de Naná, de Paschoal Samora.

Os filmes pernambucanos também se serviram do talento de Naná. Com Entre paredes (2004), de Eric Laurence, ganhou o prêmio de Melhor Música no Festival de Cinema de Gramado (RS), um dos mais tradicionais do país. Em Tejucupapo (2001), curta-metragem de Marcílio Brandão sobre a batalha que foi protagonizada por mulheres e espantou os holandeses da vila de mesmo nome, ele assina a música e ainda faz uma ponta tocando, junto com o baixista Décio Rocha e Maciel Salú. Os diretores Leo Falcão e Fernando Weller também gravaram, em 2010, o filme Língua mãe, que registra uma iniciativa de Naná Vasconcelos para comemorar os 50 anos de Brasília, quando ele reuniu crianças do Brasil, de Portugal e de Angola na capital do país.

 

Educação

 

No anos 1990, ele desenvolveu, junto com o maestro Gil Jardim, o projeto ABC Brasil, no qual passou noções de música para crianças de 7 a 12 anos de vários países, entre eles EUA e Itália. A iniciativa passou pelo Recife em 2006. O objetivo era dar às crianças noções musicais, a partir de repertório baseado no folclore e nas raízes da cultura popular brasileira. Em 2010, viajou a Angola, na África, coordenou oficinas para crianças, como parte do projeto Língua mãe. A experiência virou DVD.  Na França, chegou a trabalhar música entre crianças com problemas psiquiátricos. E, no Brasil, priorizava crianças carentes. Em dezembro, revelou ao Viver um sonho: criar escola onde pudesse ensinar noções musicais. “Minha maneira de pensar a percussão vai continuar viva depois de mim", declarou.

 

Gastronomia

 

A curiosidade de Naná chegou até a gastronomia. Em 2014, o percussionista e a família abriram um restaurante em Santo Amaro, chamado Vasconcelos, que tinha como proposta realizar a fusão de três culturas com as quais o músico interagiu: a brasileira, a europeia e a norte-americana. O local foi concebido com uma cafeteria.