Miriam Leitão
miriamleitao@oglobo.com.br
Publicação: 02/06/2015 03:00
Agonia industrial
A indústria de transformação encolheu ao menor nível dos últimos 20 anos, pelos dados do IBGE do primeiro trimestre: representa agora 10,11% do PIB, o percentual mais baixo da série que começou em 1996. Desde setembro de 2008, a indústria perdeu oito pontos de participação na economia. Hoje serão divulgados os dados da produção industrial de abril, e a expectativa é de mais um número negativo.
A política industrial foi equivocada nos últimos anos. A estratégia do governo foi dar crédito barato ao setor por meio do BNDES; aumentar tarifas de importação; e conceder subsídios. Nada disso conteve a queda. A indústria chegou a representar 18,55% do PIB, no terceiro trimestre de 2008, e caiu para 10,11% no primeiro trimestre deste ano. Em 1996, era 14% do PIB.
O gerente-executivo de política econômica da CNI, Flávio Castelo Branco, estima uma queda no PIB da indústria de transformação de 4,4% neste ano. Para a economia como um todo, a projeção é de retração de 1,2%, mas a entidade está refazendo os cálculos e pode chegar a números ainda piores.
- Não vou ficar surpreso se a indústria terminar o ano com uma participação menor que 10% do PIB.
A política industrial focou o curto prazo, não melhorou a competitividade e provocou distorções. Ao mesmo tempo, o mundo ficou com excesso de ociosidade, pela queda de consumo nos países desenvolvidos. Isso dificultou exportações e incentivou importações, explicou Flávio Castelo Branco.
O percentual acima é o da indústria de transformação, que fabrica bens manufaturados. Mas a constatação é a mesma quando se olha o percentual total da indústria, que incorpora a indústria extrativa, a construção civil e o segmento que presta serviços públicos. Juntos, eles caíram a 22,34% do PIB no primeiro trimestre, também o menor percentual em 20 anos. Em 1996, eram 25,14%. Em setembro de 2008, 29,89%.
Hoje, o IBGE divulga a produção industrial de abril, o primeiro indicador do segundo trimestre, e as projeções são de um novo número negativo, o terceiro consecutivo.
Mais custos para a indústria
O gargalo energético é um dos entraves para a recuperação da indústria. A Abegás calcula que, até o final do ano, o gás no país ficará 140% mais caro que o americano e 33% que o europeu. A Petrobras já reajustou a matéria-prima em 23% nos últimos meses e deve aumentar em mais 12% até dezembro. “A Petrobras se esquece da importância do gás para a indústria, que pode demitir com esse aumento de custos”, diz Augusto Salomon, presidente da Abegás.
Queda sobre queda
Segundo a Rosenberg Associados, as exportações em maio tiveram a nona queda consecutiva sobre o mesmo mês do ano anterior, enquanto as importações caíram pelo oitavo mês. A queda mais forte da importação (-26,6%) em relação a exportação (-15,2%) explica o saldo de US$ 2,6 bilhões em maio. “A dinâmica do comércio internacional brasileiro será uma combinação de quedas tanto das exportações quanto das importações, e a intensidade do saldo será reflexo de quem recuará mais”, disse a consultoria.
Rombo menor
O déficit da conta-petróleo caiu de US$ 1,7 bilhão, em maio de 2014, para US$ 304 milhões este ano. Exportação em alta e preço em queda ajudaram.
Alvaro Gribel e Marcelo Loureiro (interinos)
A indústria de transformação encolheu ao menor nível dos últimos 20 anos, pelos dados do IBGE do primeiro trimestre: representa agora 10,11% do PIB, o percentual mais baixo da série que começou em 1996. Desde setembro de 2008, a indústria perdeu oito pontos de participação na economia. Hoje serão divulgados os dados da produção industrial de abril, e a expectativa é de mais um número negativo.
A política industrial foi equivocada nos últimos anos. A estratégia do governo foi dar crédito barato ao setor por meio do BNDES; aumentar tarifas de importação; e conceder subsídios. Nada disso conteve a queda. A indústria chegou a representar 18,55% do PIB, no terceiro trimestre de 2008, e caiu para 10,11% no primeiro trimestre deste ano. Em 1996, era 14% do PIB.
O gerente-executivo de política econômica da CNI, Flávio Castelo Branco, estima uma queda no PIB da indústria de transformação de 4,4% neste ano. Para a economia como um todo, a projeção é de retração de 1,2%, mas a entidade está refazendo os cálculos e pode chegar a números ainda piores.
- Não vou ficar surpreso se a indústria terminar o ano com uma participação menor que 10% do PIB.
A política industrial focou o curto prazo, não melhorou a competitividade e provocou distorções. Ao mesmo tempo, o mundo ficou com excesso de ociosidade, pela queda de consumo nos países desenvolvidos. Isso dificultou exportações e incentivou importações, explicou Flávio Castelo Branco.
O percentual acima é o da indústria de transformação, que fabrica bens manufaturados. Mas a constatação é a mesma quando se olha o percentual total da indústria, que incorpora a indústria extrativa, a construção civil e o segmento que presta serviços públicos. Juntos, eles caíram a 22,34% do PIB no primeiro trimestre, também o menor percentual em 20 anos. Em 1996, eram 25,14%. Em setembro de 2008, 29,89%.
Hoje, o IBGE divulga a produção industrial de abril, o primeiro indicador do segundo trimestre, e as projeções são de um novo número negativo, o terceiro consecutivo.
Mais custos para a indústria
O gargalo energético é um dos entraves para a recuperação da indústria. A Abegás calcula que, até o final do ano, o gás no país ficará 140% mais caro que o americano e 33% que o europeu. A Petrobras já reajustou a matéria-prima em 23% nos últimos meses e deve aumentar em mais 12% até dezembro. “A Petrobras se esquece da importância do gás para a indústria, que pode demitir com esse aumento de custos”, diz Augusto Salomon, presidente da Abegás.
Queda sobre queda
Segundo a Rosenberg Associados, as exportações em maio tiveram a nona queda consecutiva sobre o mesmo mês do ano anterior, enquanto as importações caíram pelo oitavo mês. A queda mais forte da importação (-26,6%) em relação a exportação (-15,2%) explica o saldo de US$ 2,6 bilhões em maio. “A dinâmica do comércio internacional brasileiro será uma combinação de quedas tanto das exportações quanto das importações, e a intensidade do saldo será reflexo de quem recuará mais”, disse a consultoria.
Rombo menor
O déficit da conta-petróleo caiu de US$ 1,7 bilhão, em maio de 2014, para US$ 304 milhões este ano. Exportação em alta e preço em queda ajudaram.
Alvaro Gribel e Marcelo Loureiro (interinos)