País volta a registrar deflação Impulsionado pela crise econômica, o Brasil voltou a observar, depois de 11 anos, uma queda de preços de produtos e serviços

Publicação: 08/07/2017 03:00

Pela primeira vez em 11 anos, o Brasil registrou queda de preços de produtos e serviços, um movimento denominado deflação. O IPCA, índice oficial de inflação apurado pelo IBGE, recuou 0,23% em junho, a primeira variação negativa desde junho de 2006. O recuo ocorre em razão da recessão, com desemprego e endividamento das famílias, e também por quedas pontuais de preços da energia, dos combustíveis e dos alimentos.

O resultado veio abaixo do que esperava o mercado, que projetava deflação de 0,18%. O dado de junho é o mais baixo desde o -0,51% registrado em agosto de 1998.

Em 12 meses, o índice ficou em 3%, exatamente no piso da meta do governo, de 4,5%, com limite de tolerância de 1,5 ponto percentual, para cima ou para baixo.

A deflação é notícia que, a princípio, soa positiva, dado que o país viveu período recente de inflação alta e convive até hoje com a memória da superinflação dos anos 1980 e início dos 1990.

Um período grande de queda de preços, no entanto, pode ser prejudicial para a economia, já que o movimento desestimula o investimento e pode levar a desemprego.

Segundo analistas, porém, o resultado de junho é fora da curva, e o fenômeno não deve se repetir em julho. Segundo o economista Marcio Milan, da consultoria Tendências, a crise, que inibe o consumo, foi o que levou a inflação para seu patamar mais baixo, mas foram quedas pontuais de alimentos, combustíveis e energia que provocaram a deflação.

Os alimentos, que representam pouco mais de um quarto de todo o IPCA, caíram 0,50% no mês, sob influência de uma supersafra.

O índice de habitação, que verifica os custos que incidem sobre os lares, como serviços públicos, aluguéis e condomínios, recuou 0,77% no mês. O preço dos combustíveis recuou 2,84% em junho.

Em junho, o principal impacto sobre a inflação veio da conta de luz, com redução de 5,52%. A queda foi decorrente, sobretudo, da substituição da bandeira vermelha pela verde, o que eliminou a cobrança extra de R$ 3,00 a cada 100 kWh consumidos. Em julho, entretanto, a conta de luz volta a subir, com a incidência da bandeira amarela, que implicará numa cobrança extra de R$ 2 a cada 100 kWh. “A queda na energia elétrica é uma questão pontual, já vai subir agora em julho. Se não fosse por isso, talvez o IPCA tivesse ficado positivo. A deflação é um ponto fora da curva”, disse Salomão Quadros, superintendente adjunto para Inflação do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV).

Na opinião de André Perfeito, da corretora Gradual, “por mais que pesem questões sazonais no IPCA, está evidente que o ajuste recessivo em curso surtiu efeito”.

TETO DE GASTOS

O IPCA em 12 meses acumulado até junho vai corrigir o teto de gastos estabelecido pelo governo de Michel Temer. De acordo com a nova regra - que entrou em vigor neste ano, após a aprovação da chamada PEC do Teto -, a correção será limitada à inflação acumulada em 12 meses em junho do período anterior. A intenção do governo é que o mecanismo vigore até 2036, com possibilidade de revisão em 2026. (Da redação com agências)