Reação com indignação e protestos Funcionários da Chesf, da Eletrobras, sindicalistas, engenheiros e parlamentares se pronunciaram ontem contra a privatização e querem ampliar debate

Cláudia Eloi
claudia.eloi@diariodepernambuco.com.br

Publicação: 23/08/2017 03:00

Funcionários da Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf) e sua controladora, a Eletrobras, representantes de sindicatos e políticos de Pernambuco reagiram com indignação ao anúncio do governo federal de privatizar a empresa no próximo ano. As reações foram imediatas e diversas ações estão sendo programadas no estado e em Brasília para tentar barrar a decisão. No momento em que o ministro de Minas e Energia, Fernando Bezerra Filho, concedia entrevista em Brasília, no Recife, os servidores da Chesf promoveram ontem pela manhã um apitaço na sede da empresa para protestar contra a medida.

Uma frente parlamentar, liderada pela deputada federal Luciana Santos, está sendo criada no Congresso Nacional para debater a questão no dia 30 de setembro. Em 14 de setembro, o assunto entra na pauta da Câmara de Petrolina. O tema também repercutiu na Assembleia Legislativa de Pernambuco e na Câmara do Recife. A vereadora Marília Arraes convocou para hoje uma audiência pública. Ontem, a privatização foi criticada pelo deputado estadual Lucas Ramos, que fez discurso contrário à medida. O deputado Rodrigo Novaes avisou que convidará o ministro Fernando Bezerra Filho para dar explicações.

Preocupado com o novo formato de venda da Eletrobras, o diretor do Sindicato dos Engenheiros de Pernambuco (Senge-PE), Rômulo Vilela, fez um alerta sobre o impacto negativo que a venda das usinas elétricas ao longo do Rio São Francisco pode trazer para a população. “No Nordeste existe problema de geração de energia, especificamente por causa do Rio São Francisco. A geração de energia elétrica é feita a partir da água. Se vai passar para as mãos privadas e internacionais, na prática está se vendendo o rio. Os novos acionistas vão decidir como a água será usada, se para o consumo humano, para os pequenos agricultores e pecuaristas ou para produzir eletricidade. Quem comprar as usinas do rio vai comprar a água e ter o poder de decidir sobre seus múltiplos usos”, enfatizou o engenheiro. “A gestão de energia do país será no retorno do capital, e não na condição de vida da população. A mão invisível do capital vai mandar.”

Diante do risco real da privatização, os servidores da Chesf agendaram um debate itinerante para amanhã, às 9h, na portaria da empresa. “A direção não permitiu que os servidores fizessem um amplo debate no auditório da empresa, por isso vamos fazer em frente à portaria da empresa. Vender o patrimônio do povo não é a solução para acabar o déficit público. Ganhar R$ 20 bilhões com a privatização não vai pagar a dívida do país. É o desmonte da matriz energética no país”, condenou o integrante da comissão de base do Sindicato dos Urbanitários, João Figueiredo. A estimativa do governo é de que a oferta de ações poderá render cerca de R$ 13 bilhões à Eletrobras.