Aos 24 anos, Stephanie é inspiração

Silvia Bessa
silvia.bessa@diariodepernambuco.com.br

Publicação: 13/07/2018 03:00

Na rua onde Stephanie morava, no bairro de Brasília Teimosa, cercada de palafitas, tinha uma senhorinha de 80 anos sozinha que precisava de companhia para dormir à noite. Stephanie, com 16 anos, dava-lhe a presença em troca de R$ 50 por mês. Com a responsabilidade de não acordar a senhorinha, à noite, para estudar e ter luz, a jovem deixava a geladeira aberta. “Perto de descongelar, fechava. Aí, ligava a televisão até acabar o estudo”. Stephanie Skinner tinha uma “sede”, define ela: “Uma sede de dar exemplo a meus irmãos menores e de tirar minha mãe daquele lugar”, diz, lembrando das dificuldades.

A mãe sustentava seis filhos sozinha. A jovem conheceu os cursos profissionalizantes oferecidos pelo Instituto JCPM, no Pina. Fez aulas de informática básica, Português, Matemática e houve tempos que cursava mais de dois ao mesmo tempo no contraturno do ensino médio. Com 18 anos, passou na primeira seleção de emprego. De lá para cá, foram cinco promoções. “Eu estou aguardando a sexta”, diz, confiante. Começou vendendo pipocas no cinema do Shopping RioMar, foi promovida à técnica de projeção, atendente da área vip do cinema, à assistente operacional e à assistente de gerente. Por último, à gerente da rede Cinemark, cargo que ocupa hoje.

Stephanie tem 24 anos e é exemplo dentro e fora de casa e do Instituto JCPM. Na última quarta-feira, concluiu uma nova etapa da carreira dela: um programa de coaching. Foi uma das cinco alunas acompanhadas pelo programa Foco no futuro, que ofereceu coaching e mentoria com a ajuda da consultora convidada Eduarda Menelau. “Com as sessões, direcionei meus objetivos, consegui um equilíbrio maior entre o profissional e o pessoal e já vejo os primeiros resultados”, analisa.

O coach presta assessoria qualificada para alguém que busca desenvolver habilidades profissionais, repensar atitudes e refinir objetivos. O projeto do Instituto JCPM durou dois meses e meio com aulas semanais, individuais e eventualmente em grupos. “Os desejos desses jovens estão lá. O que fazemos é reconhecê-los, estruturá-los e ajudar cada um a definir as prioridades”, explica Marina Amorim, coordenadora de empregabilidade do Instituto JCPM.

O apoio profissional dado a Stephanie faz parte de uma filosofia do Instituto JCPM, que hoje atende jovens entre 16 e 24 anos moradores do Pina e vizinhança. “Nunca fomos cobrados para atender por volume”, diz a diretora de Desenvolvimento Social do Grupo JCPM, Lúcia Pontes. “Se transformarmos a vida de algumas famílias, nosso objetivo estará sendo cumprido”. Atuando em Recife, Salvador, Aracaju e Fortaleza desde 2007, o Instituto promoveu capacitações de 24 mil jovens desde a sua criação.

Para Stephanie, ter sido tratada com singularidade fez a diferença. “Consegui dar uma moradia melhor para minha mãe e o exemplo que eu queria. Mostrei a meus irmãos que eles podem seguir meu caminho”, diz a agora gerente do Cinemark. Esta é a lição de uma moça que vem crescendo no bairro do Pina e, aos 24 anos, é inspiração.