DIARIO NOS BAIRROS »
Uma galeria que vive 24 horas no ar
No período matinal, lojas e outros negócios movimentam os espaços na Joana D'Arc. Quando anoitece, os bares e restaurantes ganham destaque
ANDRÉ CLEMENTE
andre.clemente@diariodepernambuco.com.br
Publicação: 13/07/2018 03:00
Fazer negócios no Pina pode trazer um debate amplo de oportunidades: novos edifícios corporativos, shopping center e construção civil com o potencial imobiliário do local são exemplos. Mercado tradicional demais para a Galeria Joana D’arc, que funciona há 28 anos na Avenida Herculano Bandeira. O local se destaca por operar nos dois turnos, com negócios “comuns” durante o dia e vida ativa à noite. A economia por lá tem rota paralela. Os negócios prezam pela criatividade, pela arte, pelo conceito amplo de que dá para trabalhar dentro de um movimento cultural. Se acha que esse “ser diferente” não cabe mais no Pina, o pensamento é o oposto: não dava para ser em outro lugar.
Quem administra o lugar é Liliana Pinheiro, neta da proprietária da Escola Santa Joana D’arc, que ocupava o espaço antes da galeria. Ela é responsável pelo filtro do que pode funcionar na galeria e se orgulha do que consegue proporcionar à casa e ao seu bairro. “Minha família mora no Pina desde os tempos que era ‘vergonha’ ser do Pina”, brinca. “Mas minha tia-avó dizia: vocês ainda vão ver o Pina bem ‘emPinado’”, acrescenta.
Nos quase 30 anos da galeria, Liliana viu o espaço mais underground dos anos 1990 apostar numa virada comercial, mas tinha que se manter diferente. “No começo, ainda dava para funcionar de maneira mais informal. Hoje, não. Ficou mais organizada. Então o que a gente faz é manter a atividade na proposta de que a arte e a cultura prevaleçam, seja numa loja de roupas ou em uma festa na área de bares”.
A galeria tem capacidade instalada para operar 24 horas. É o tempo perfeito do fim da operação de bares noturnos com o início dos trabalhos das lojas e escritórios pela manhã. A lembrança de quem vivera tempos passados na galeria lista a Boate Boato, voltada mais para o público LGBT, assim como o bar Guitarras, famoso por lotar de gente que curtia o bairro ou vinha de outros lugares, como da Soparia. “Causavam um movimento muito grande. Mais recentemente funcionou na galeria o Boracho, que tinha uma proposta muito legal, onde aconteciam eventos interessantes, como lançamento de livros, pocket shows de artistas, entre outras atividades culturais. Era muito ligado à música e causava um movimento muito bom”, ressalta. “E não tem como falar da galeria sem citar o Anjo Solto, um restaurante que opera há mais de 20 anos no local e é a cara da galeria”.
Recentemente, a casa passou a receber a Terça do vinil, festa que é a principal programação do Recife nas terças-feiras.
O circuito Zona Sul
Assim como acontece em todas as edições do Diario dos Bairros, a reportagem ouviu personalidades que moram na Zona Sul do Recife, especificamente nos bairros de Boa Viagem e Pina. A mestre de maracatu Joana D’Arc, a designer Cris Lemos e o produtor de eventos Victor Carvalheira falaram sobre seus locais preferidos e quais são aqueles que indicam para quem está visitando a região. Também destacaram os restaurantes que precisam entrar no roteiro das pessoas que querem explorar os bairros, bem como os desafios enfrentados por quem mora na localidade.
Há quanto tempo você mora no bairro?
Mestre Joana
Nasci numa casa na Rua São Luís e me criei no Pina. Já me mudei diversas vezes, mas sempre dentro do Pina. Estou aqui há 39 anos.
Cris Lemos
A minha vida inteira. Já são 35 anos. Meu marido (o deputado estadual Silvio Costa Filho) era da Zona Norte, mas quando casamos conseguimos continuar morando na Zona Sul.
Victor Carvalheira
Há seis anos.
Quais os espaços, sejam eles comerciais ou não, marcaram a sua memória?
Mestre Joana
As ruas onde nasci e me criei sempre fazem parte das lembranças. Tem o antigo Polo Pina, onde havia grandes eventos. Infelizmente, hoje não tem mais eventos, apenas comércio. E tem a praia também, claro.
Cris Lemos
A praia, sem dúvidas. Adoro ter a proximidade com a orla. Não sou daquelas que me acostumei… Sempre valorizo o que tenho. No fim de tarde, adoro olhar a praia. Gosto de ir ao Segundo Jardim com meus filhos aos domingos para aproveitar o espaço. A avenida é fechada e eles amam: andam de bicicleta, brincam… É muito bom!
Victor Carvalheira
A revitalização do Segundo Jardim e a Avenida Boa Viagem. Também não dá para esquecer do Recifolia (carnaval fora de época que acontecia na avenida há mais de dez anos).
Quais os locais que você faz questão de indicar para amigos que estão visitando o bairro? Indica quais restaurantes?
Mestre Joana
Eu sempre indico para o pessoal conhecer onde moram os pescadores, o mangue… Sempre indico também os maracatus. O Pina é o único bairro com duas nações: a Porto do Rico e o Encanto do Pina. Tem restaurantes bons também, como o Biruta, que é o mais antigo e tradicional.
Cris Lemos
O Bargaço é um bom restaurante. Tem uma comida super saborosa e um ambiente muito bonito. O Riomar é outro lugar interessante. Eu era aversa a shoppings e demorei a ir, mas lá eu frequento tanto a trabalho quanto a lazer. Tem boas opções de lazer para as crianças e acho um ambiente super gostoso. Indico o Segundo Jardim para ir aos domingos, principalmente para quem tem filhos. Tem a Frisabor da (Avenida) Domingos Ferreira também. Uma padaria ótima é a Diplomata, que sempre tem produtos legais.
Victor Carvalheira
Indico o calçadão da Avenida Boa Viagem para uma caminhada. Com relação aos restaurantes, frequento muito o Kojima, Bargaço, Yoshi e Tasca. Para ir com os amigos durante o dia, recomento o Cia do Chopp e Alphaiate.
Existe algum hábito de consumo específico no bairro que você identifica?
Mestre Joana
Acredito que seja o consumo de frutos do mar, como marisco e sururu. Há muitos catadores locais aqui e eles vendem muito. Não apenas aqui, mas em outros bairros. Temos uma catadora que revende seus produtos no Centro do Recife há mais de 20 anos.
Cris Lemos
Há uma tendência grande de quem mora por aqui de ir no Café de Manu Tenório… É um local pequeno, charmoso e bem confortável. Outra tendência que observo aqui, e até pela infraestrutura do bairro, é o das pessoas fazerem tudo perto de casa. Infelizmente, a questão do trânsito é muito complicada hoje, e as pessoas sempre buscam qualidade de vida.
Victor Carvalheira
Uma boa caminhada na praia para tomar uma água de coco ou uma cerveja é um programa que não dá pra deixar de fazer num dia de sol.
Quais os desafios que podem afetar a vida comercial e econômica do bairro?
Mestre Joana
O primeiro é a falta de assistência e saneamento. Muitas ruas estão abandonadas. Também não temos área de lazer, já que o único espaço que temos é a praia. Por mais que a segurança seja um problema grande na cidade, aqui a gente não sente muito essa questão porque ninguém na comunidade mexe com quem vem de fora.
Cris Lemos
A principal questão é a falta de segurança. Voltei a me sentir insegura, como acontecia há alguns anos. Quando o meu filho mais velho nasceu, há sete anos, eu passeava pelo bairro, adorava fazer piquenique na praia. Hoje não me sinto segura para fazer isso em qualquer dia da semana, apenas aos domingos. Tem a questão da iluminação também, que é precária, e as calçadas, que são má conservadas.
Victor Carvalheira
O trânsito estava complicando muito, mas a Via Mangue melhorou bastante a vida comercial por aqui. Acredito que uma boa iluminação, policiamento e revitalização das calçadas traria uma vida ainda melhor para o bairro.
Quem administra o lugar é Liliana Pinheiro, neta da proprietária da Escola Santa Joana D’arc, que ocupava o espaço antes da galeria. Ela é responsável pelo filtro do que pode funcionar na galeria e se orgulha do que consegue proporcionar à casa e ao seu bairro. “Minha família mora no Pina desde os tempos que era ‘vergonha’ ser do Pina”, brinca. “Mas minha tia-avó dizia: vocês ainda vão ver o Pina bem ‘emPinado’”, acrescenta.
Nos quase 30 anos da galeria, Liliana viu o espaço mais underground dos anos 1990 apostar numa virada comercial, mas tinha que se manter diferente. “No começo, ainda dava para funcionar de maneira mais informal. Hoje, não. Ficou mais organizada. Então o que a gente faz é manter a atividade na proposta de que a arte e a cultura prevaleçam, seja numa loja de roupas ou em uma festa na área de bares”.
A galeria tem capacidade instalada para operar 24 horas. É o tempo perfeito do fim da operação de bares noturnos com o início dos trabalhos das lojas e escritórios pela manhã. A lembrança de quem vivera tempos passados na galeria lista a Boate Boato, voltada mais para o público LGBT, assim como o bar Guitarras, famoso por lotar de gente que curtia o bairro ou vinha de outros lugares, como da Soparia. “Causavam um movimento muito grande. Mais recentemente funcionou na galeria o Boracho, que tinha uma proposta muito legal, onde aconteciam eventos interessantes, como lançamento de livros, pocket shows de artistas, entre outras atividades culturais. Era muito ligado à música e causava um movimento muito bom”, ressalta. “E não tem como falar da galeria sem citar o Anjo Solto, um restaurante que opera há mais de 20 anos no local e é a cara da galeria”.
Recentemente, a casa passou a receber a Terça do vinil, festa que é a principal programação do Recife nas terças-feiras.
O circuito Zona Sul
Assim como acontece em todas as edições do Diario dos Bairros, a reportagem ouviu personalidades que moram na Zona Sul do Recife, especificamente nos bairros de Boa Viagem e Pina. A mestre de maracatu Joana D’Arc, a designer Cris Lemos e o produtor de eventos Victor Carvalheira falaram sobre seus locais preferidos e quais são aqueles que indicam para quem está visitando a região. Também destacaram os restaurantes que precisam entrar no roteiro das pessoas que querem explorar os bairros, bem como os desafios enfrentados por quem mora na localidade.
Há quanto tempo você mora no bairro?
Mestre Joana
Nasci numa casa na Rua São Luís e me criei no Pina. Já me mudei diversas vezes, mas sempre dentro do Pina. Estou aqui há 39 anos.
Cris Lemos
A minha vida inteira. Já são 35 anos. Meu marido (o deputado estadual Silvio Costa Filho) era da Zona Norte, mas quando casamos conseguimos continuar morando na Zona Sul.
Victor Carvalheira
Há seis anos.
Quais os espaços, sejam eles comerciais ou não, marcaram a sua memória?
Mestre Joana
As ruas onde nasci e me criei sempre fazem parte das lembranças. Tem o antigo Polo Pina, onde havia grandes eventos. Infelizmente, hoje não tem mais eventos, apenas comércio. E tem a praia também, claro.
Cris Lemos
A praia, sem dúvidas. Adoro ter a proximidade com a orla. Não sou daquelas que me acostumei… Sempre valorizo o que tenho. No fim de tarde, adoro olhar a praia. Gosto de ir ao Segundo Jardim com meus filhos aos domingos para aproveitar o espaço. A avenida é fechada e eles amam: andam de bicicleta, brincam… É muito bom!
Victor Carvalheira
A revitalização do Segundo Jardim e a Avenida Boa Viagem. Também não dá para esquecer do Recifolia (carnaval fora de época que acontecia na avenida há mais de dez anos).
Quais os locais que você faz questão de indicar para amigos que estão visitando o bairro? Indica quais restaurantes?
Mestre Joana
Eu sempre indico para o pessoal conhecer onde moram os pescadores, o mangue… Sempre indico também os maracatus. O Pina é o único bairro com duas nações: a Porto do Rico e o Encanto do Pina. Tem restaurantes bons também, como o Biruta, que é o mais antigo e tradicional.
Cris Lemos
O Bargaço é um bom restaurante. Tem uma comida super saborosa e um ambiente muito bonito. O Riomar é outro lugar interessante. Eu era aversa a shoppings e demorei a ir, mas lá eu frequento tanto a trabalho quanto a lazer. Tem boas opções de lazer para as crianças e acho um ambiente super gostoso. Indico o Segundo Jardim para ir aos domingos, principalmente para quem tem filhos. Tem a Frisabor da (Avenida) Domingos Ferreira também. Uma padaria ótima é a Diplomata, que sempre tem produtos legais.
Victor Carvalheira
Indico o calçadão da Avenida Boa Viagem para uma caminhada. Com relação aos restaurantes, frequento muito o Kojima, Bargaço, Yoshi e Tasca. Para ir com os amigos durante o dia, recomento o Cia do Chopp e Alphaiate.
Existe algum hábito de consumo específico no bairro que você identifica?
Mestre Joana
Acredito que seja o consumo de frutos do mar, como marisco e sururu. Há muitos catadores locais aqui e eles vendem muito. Não apenas aqui, mas em outros bairros. Temos uma catadora que revende seus produtos no Centro do Recife há mais de 20 anos.
Cris Lemos
Há uma tendência grande de quem mora por aqui de ir no Café de Manu Tenório… É um local pequeno, charmoso e bem confortável. Outra tendência que observo aqui, e até pela infraestrutura do bairro, é o das pessoas fazerem tudo perto de casa. Infelizmente, a questão do trânsito é muito complicada hoje, e as pessoas sempre buscam qualidade de vida.
Victor Carvalheira
Uma boa caminhada na praia para tomar uma água de coco ou uma cerveja é um programa que não dá pra deixar de fazer num dia de sol.
Quais os desafios que podem afetar a vida comercial e econômica do bairro?
Mestre Joana
O primeiro é a falta de assistência e saneamento. Muitas ruas estão abandonadas. Também não temos área de lazer, já que o único espaço que temos é a praia. Por mais que a segurança seja um problema grande na cidade, aqui a gente não sente muito essa questão porque ninguém na comunidade mexe com quem vem de fora.
Cris Lemos
A principal questão é a falta de segurança. Voltei a me sentir insegura, como acontecia há alguns anos. Quando o meu filho mais velho nasceu, há sete anos, eu passeava pelo bairro, adorava fazer piquenique na praia. Hoje não me sinto segura para fazer isso em qualquer dia da semana, apenas aos domingos. Tem a questão da iluminação também, que é precária, e as calçadas, que são má conservadas.
Victor Carvalheira
O trânsito estava complicando muito, mas a Via Mangue melhorou bastante a vida comercial por aqui. Acredito que uma boa iluminação, policiamento e revitalização das calçadas traria uma vida ainda melhor para o bairro.
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De volta às ruas da Zona Sul do Recife