Contadores na era digital Empresas e profissionais investem em tecnologias e conhecimento para se manter no mercado

Etiene Ramos
dpempresas@diariodepernambuco.com.br

Publicação: 01/06/2019 03:00

O universo  contábil é mais um a se render às novas tecnologias para continuar a existir. Grandes empresas de softwares estão ganhando o mercado dos escritórios tradicionais de contabilidade em todo o mundo, oferecendo soluções que reduzem custos, aumentam a produtividad e que traz mais clientes. Isso amplia a concorrência e obriga empresários a investir e mudar rápido. “Ou muda ou morre”, resume  o contador Ronaldo Fernandes, fundador da Agir Assessoria Empresarial, no Recife.

Professora do doutorado de  Ciências Contábeis da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Umbelina Lagioia, considera que, nos últimos 30 anos, a contabilidade deu um salto quântico – saiu da escrituração manual, dos livros-caixa, para os sistemas que interligam o escritório contábil aos  clientes e importam sistemas fiscais da Receita Federal. “É uma evolução da contabilidade repetitiva para a contabilidade pensante e consultiva, mais analítica. Contadores agora se dedicam à consultoria financeira e passam a ser mais parceiros dos clientes”. Mas o avanço tecnológico pode sair caro em nosso combalido mercado de trabalho. Fala-se em extinção de funções e da profissão de contador, mas a professora tem um outro olhar. “Temos que compreender e aceitar as mudanças, sair da zona de conforto e correr atrás de outras competências”, afirma, sugerindo a integração entre as disciplinas contábeis  e as de cursos como economia e estatística. “Os currículos de ciências contábeis não mudam há muitos anos. É preciso investir, criar laboratórios, a profissão é prática, não dá para ficar teorizando. Mas entre a percepção das necessidades e as mudanças, fica o abismo”, declara Umbelina.

A vez dos robôs
Enquanto a universidade patina, as empresas de tecnologia da informação desenvolvem sistemas e robôs customizados com aplicações de inteligência artificial para agilizar processos repetidos inúmeras vezes pelos contadores.

Recém-instalada no tecnológico Bairro do Recife, a Beyond Clound, formada pelos engenheiros da computação Levi Nóbrega e Victor Aurélio e o administrador Cláudio Castro, trouxe a parceria com o Google na área de Educação para novas áreas. “O Google viu um grande espaço para desenvolver produtos com sua plataforma de inteligência artificial entre  advogados e contadores, agregando novas aplicações  adaptadas às demandas do mercado”, explica Nóbrega.

Para ele, a contabilidade está precisando se reinventar, buscando inovação nos processos e melhores resultados. “Robôs de automação instalados nos sistemas contábeis reduzem erros nos trabalhos repetitivos e mecânicos. A precisão é de 100% nas atividades que ele aprendeu, eliminando falhas que podem ser muito graves – um zero a mais ou a menos traz um grande problema”, analisa Levi, ressaltando que com a inteligência artificial, a máquina passa a realizar tarefas que só o homem fazia. “Um computador pode aprender e executar atividades que requerem capacidade cognitiva como identificar vozes de pessoas, objetos em imagens ou vídeos e classificação de textos”, completa Nóbrega.

Ronaldo Fernandes, um dos clientes da Beyond Cloud,  contabiliza o aumento da produtividade da Agir a partir do uso do robô nos serviços de folha de pagamento, conciliação de cartões de crédito e classificação fiscal. “O que um funcionário fazia em dez horas, o robô faz em uma hora. Se não acompanhar esse ritmo, ficamos fora do mercado. A cada dia o setor público usa mais o contador para o cumprimento das obrigações fiscais das empresas. Sem tecnologia não conseguimos mais ser contadores”, afirma Fernandes, um consumidor voraz de livros sobre novas tecnologias que revelam oportunidades. A principal é o aumento da carteira de clientes com a mesma equipe.

Para o diretor de Tecnologia do Sindicato das Empresas de Serviços Contábeis de Pernambuco (Sescap-PE), Pedro Barros, o grande desafio dos contadores é desenvolver habilidades para interagir com tecnologias como, por exemplo, big data e machine learning – de onde deriva todo o aprendizado da máquina. “Contador é uma profissão do futuro. É o profissional mais apto a gerir informações financeiras e empresariais, o papel dele sempre foi esse. Foi o primeiro banco de dados da história empresarial e agora tem um ferramental que cresceu muito e amplia seu papel de gerar informações úteis para a tomada de decisões”, afirma Barros.