Custo de vida em alta, renda per capita em baixa
Pernambucanos da região metropolitana lidam com o paradoxo de viver com os custos de uma área urbana e uma das rendas médias mais baixas do país
TATIANA NOTARO E AIMÉ KYRILLOS
Publicação: 04/03/2024 03:00
Na última semana, o censo do IBGE apontou que a renda per capita domiciliar de Pernambuco é a quarta mais baixa do país, contabilizada em R$ 1.113 (frente ao valor médio nacional de R$ 1.893). Um parâmetro que chama atenção quando, no mesmo contexto econômico, há um custo de vida tão alto na região metropolitana do estado. Um exemplo: no início de 2024, o Recife tinha o terceiro metro quadrado mais caro do país para locação.
O custo da alimentação também onera a renda familiar. Segundo o Dieese, no último mês de janeiro, o valor médio da cesta básica no Recife foi de R$ 550,51, correspondendo a mais de 42% do salário mínimo, de R$ 1.412.
“Não sobra dinheiro”, conta a técnica de enfermagem Marta Maria da Silva, de 47 anos. Ela mora em Sirinhaém e trabalha no Hospital de Palmares e mesmo vivendo fora da região metropolitana, não dá conta do custo de vida. “Tenho que escolher entre lazer e comida e nem dá pra variar, comprar algo diferente como um queijo”, relata. Para tentar cobrir as despesas, Marta recorre ao cartão de crédito. “Todo mês escolho o que vou pagar e vou empurrando o resto”, diz. Segundo o Instituto Locomotiva, 60% das dívidas dos brasileiros são no cartão.
Já o enfermeiro Mateus dos Santos vive em Barreiros e trabalha no Recife. Apenas desse esforço, o salário não é suficiente. “Atualmente sou professor do ensino técnico e complemento a renda dando apoio a artigos científicos. Sem o bico, não consigo”.
CUSTO DE VIDA
São nos grandes conglomerados urbanos onde estão os maiores custos de vida. Na Região Metropolitana do Recife (RMR) vivem em torno de 1,5 milhão de pessoas e viver em áreas urbanizadas exige custos inerentes ao formato, como o transportes e o valor de aluguéis imobiliários em bairros mais procurados. Falando nisso, o economista e professor da Uninassau Sandro Prado explica que a demanda por moradia não para e como se trata de um dos metros quadrados mais caros do país, vive-se um paradoxo.
“A realidade é renda menor por membro da família e uma dificuldade grande para essas pessoas terem o básico. Os cursos são muito elevados. Em Brasília, por exemplo, o custo de vida é alto, mas a renda também é maior. No Recife, temos um custo elevado, um dos mais elevados, e esse paradoxo de uma renda per capita mais baixa. Uma discrepância muito grande. A classe médica quase não existe em Pernambuco: ou são pessoas que têm dinheiro ou muito empobrecidas”, analisa.
Prado chama atenção para a desigualdade social do Recife e de sua região metropolitana. Os grandes prédios da orla de Boa Viagem são uma realidade distante mas a apenas três quarteirões de comunidades em situação de pobreza. “Em casos assim, o poder público precisa ter mais condições de oferecer serviços. Saúde, educação, subsídios ao transporte, lazer acessível. Se você ganha menos, o estado precisa suprir. Quando se ganha mais, deixa de depender”.
O custo da alimentação também onera a renda familiar. Segundo o Dieese, no último mês de janeiro, o valor médio da cesta básica no Recife foi de R$ 550,51, correspondendo a mais de 42% do salário mínimo, de R$ 1.412.
“Não sobra dinheiro”, conta a técnica de enfermagem Marta Maria da Silva, de 47 anos. Ela mora em Sirinhaém e trabalha no Hospital de Palmares e mesmo vivendo fora da região metropolitana, não dá conta do custo de vida. “Tenho que escolher entre lazer e comida e nem dá pra variar, comprar algo diferente como um queijo”, relata. Para tentar cobrir as despesas, Marta recorre ao cartão de crédito. “Todo mês escolho o que vou pagar e vou empurrando o resto”, diz. Segundo o Instituto Locomotiva, 60% das dívidas dos brasileiros são no cartão.
Já o enfermeiro Mateus dos Santos vive em Barreiros e trabalha no Recife. Apenas desse esforço, o salário não é suficiente. “Atualmente sou professor do ensino técnico e complemento a renda dando apoio a artigos científicos. Sem o bico, não consigo”.
CUSTO DE VIDA
São nos grandes conglomerados urbanos onde estão os maiores custos de vida. Na Região Metropolitana do Recife (RMR) vivem em torno de 1,5 milhão de pessoas e viver em áreas urbanizadas exige custos inerentes ao formato, como o transportes e o valor de aluguéis imobiliários em bairros mais procurados. Falando nisso, o economista e professor da Uninassau Sandro Prado explica que a demanda por moradia não para e como se trata de um dos metros quadrados mais caros do país, vive-se um paradoxo.
“A realidade é renda menor por membro da família e uma dificuldade grande para essas pessoas terem o básico. Os cursos são muito elevados. Em Brasília, por exemplo, o custo de vida é alto, mas a renda também é maior. No Recife, temos um custo elevado, um dos mais elevados, e esse paradoxo de uma renda per capita mais baixa. Uma discrepância muito grande. A classe médica quase não existe em Pernambuco: ou são pessoas que têm dinheiro ou muito empobrecidas”, analisa.
Prado chama atenção para a desigualdade social do Recife e de sua região metropolitana. Os grandes prédios da orla de Boa Viagem são uma realidade distante mas a apenas três quarteirões de comunidades em situação de pobreza. “Em casos assim, o poder público precisa ter mais condições de oferecer serviços. Saúde, educação, subsídios ao transporte, lazer acessível. Se você ganha menos, o estado precisa suprir. Quando se ganha mais, deixa de depender”.