ADEUS AO PAPA - 17/12/1936 - 21/04/2025 » Buenos Aires em silêncio e vigília pelo papa Francisco, argentino de nascimento, foi mais que o líder da Igreja Católica para o povo, que agora o reverencia e homenageia na capital do país

João Carvalho
Especial para o Diario

Publicação: 23/04/2025 03:00

Escadaria da Catedral está repleta de velas e imagens (JUAN MABROMATA/AFP)
Escadaria da Catedral está repleta de velas e imagens
Buenos Aires - O coração de Buenos Aires pulsa mais lento desde a última segunda-feira . A morte do papa Francisco, argentino de nascimento e símbolo de orgulho nacional, mergulhou a cidade em uma comoção profunda. Desde então, a Catedral Metropolitana — onde Jorge Mario Bergoglio celebrava missas quando ainda era arcebispo da capital — tornou-se o epicentro de uma vigília que não cessa.

A escadaria principal do mais importante templo católico do país foi tomada por fotos do papa. Velas se acumulam à frente das imagens, formando um caminho de luz e devoção. É como se a cidade inteira quisesse cercar o papa de lembranças, em um gesto coletivo de gratidão.

Logo ali ao lado, na entrada da catedral, um artista de rua, às vezes deitado, às vezes sentado no chão, desenha com giz a imagem de Francisco sobre o asfalto. O traço é delicado e reverente. Os olhos do pontífice ganham forma diante de um público comovido, que assiste em silêncio ao retrato surgir, como se a rua ganhasse uma bênção especial através da arte. A homenagem improvisada se mistura ao cenário solene da vigília, num testemunho vivo da fé que pulsa nas ruas de Buenos Aires.

Para os argentinos, ele nunca foi apenas o líder da Igreja. Era “el papa nuestro”, como se diz por aqui. Um homem que levou o sotaque portenho ao Vaticano, que pedia orações com humildade e que nunca se afastou da linguagem do povo. Em plena crise econômica, Francisco permanecia uma referência ética e espiritual para muitos, especialmente os mais esquecidos.

Em meio a uma cidade acostumada ao barulho das ruas, reina agora um silêncio reverente.  Um silêncio que só se vê quando parte alguém que simbolizava muito mais que uma função ou cargo. A vigília deve seguir pelos próximos dias, enquanto o mundo se despede de Francisco. Mas em Buenos Aires, a despedida já começou — carregada de saudade, orgulho e uma fé que, neste momento, parece mais viva do que nunca