"Para João, Chiquinho"

Ira Oliveira
Coordenador de artes do Diario

Publicação: 22/04/2025 03:00

A Igreja Católica, antes de Francisco, tinha afastado muitos fiéis por não acompanhar as mudanças axiológicas naturais do mundo. Com o nascimento de João, meu filho, houve o dilema: batizamos ou não? Diante da imensa admiração por Francisco, por seu empenho diante das injustiças sociais, inclusão dos marginalizados e defesa daqueles a quem a própria Igreja virou as costas, eu e minha esposa resolvemos batizá-lo na Itália, próximo ao papa, confiando aos três padrinhos (essa é outra polêmica), ainda que à distância, sendo estes representados por minha mãe (também madrinha), essa homenagem.

Sabíamos que o Papa Francisco abençoaria João Antônio e os padrinhos que escolhemos para ensiná-lo o caminho do bem. Programamos a viagem à Itália, organizamos o batizado e seguimos. O ano era 2016, meu João tinha 11 meses, final de setembro. Chegamos às 7h na praça São Pedro. Já era tarde, mas conseguimos uma boa localização. Assim que o papa chegou, no papa móvel, eu gritei seu nome e pedi para ele pegar nosso filho. Ele olhou para mim e fez uma carinha negativa, mas bem simpática. Esperamos então acabar toda a cerimônia. Era por volta das 14h, já cansados, mas esperançosos, quando o Papa Francisco entrou no carro papal e na saída, como um último gesto, eu gritei e pedi: Francisco, pega meu filho? Ele olhou para mim e imediatamente pediu para o carro parar e apontou ao segurança que pegasse João. Ele saiu dos meus braços chorando e foi ao encontro dele, que o beijou. João voltou aos meus braços sem chorar mais. Agradeci, ele me olhou e sorriu. Muitos presentes foram falar com a gente. Foi um dia inesquecível. Para nós será sempre Francisco; para João, Chiquinho.