O direito de pensar

JOSÉ HUMBERTO PONTES DE MIRANDA
ADVOGADO E ESCRITOR
jhpontesdemiranda@hotmail.com

Publicação: 12/03/2014 03:00

Na constante busca de entretenimento e informação, as pessoas terminam por renunciar à liberdade de pensar, mais inalienável ainda que o tão proclamado direito de ir e vir.

Tão importante, que as igrejas cristãs consideram o “pecar por pensamento” e nisto até estão certas, na medida em que se prevê que mais adiante as pessoas irão comunicar-se de forma telepática, o pensamento podendo vir a significar a própria ação.

A questão que se coloca é que, a esse tempo, um reduzido número de pessoas permanecerá pensando. Sim, pois que a sua grande maioria busca, agora, decididamente, mesmo inconscientemente, o não pensar, na medida em que não se permitem o exercício desse direito fundamental.

As tevês, ligadas 24 horas por dia e as revistas semanais, com a análise dos fatos, pensam por elas. E os computadores de bolso já começam a fazer o resto do serviço, poupando-as do enorme esforço que representaria a comunicação oral.

Até mesmo nas caminhadas encetadas para cuidar do corpo físico, as pessoas as fazem com radinhos enfiados aos ouvidos, desprezando aquele raro momento em que poderiam se dar o direito de pensar, de refletir sobre as coisas à sua volta.

O certo é que, em dado momento da sua existência, o homem desviou-se do rumo que lhe permitiria viver num planeta melhor. Reiniciou seu caminhar na Terra a partir do zero, esquecido de conhecimentos técnicos e científicos que seus antepassados dominavam inteiramente e que foram perdidos ao ser submetidos a condições geofísicas extremas, o que levou a humanidade à quase extinção.

Em O Recomeço – Um itinerário de tempo cíclico, intento abordar este tema a partir do pensamento das civilizações pré-colombianas. O romance se passa entre 1987 e 1993, primeiros anos do último subciclo do calendário maia. É aí, de fato, que se desenvolve a trama ficcional. Mas evoca a Meso-América pré-colombiana, onde o casal romântico teria tido uma vida anterior.

No livro, os personagens se mostram ricos na capacidade que têm de pensar e questionar o porquê das coisas, como a existência de um mundo espiritual e a preservação da natureza. Que consequências assomaram à humanidade com a perda de todo um conhecimento acumulado anteriormente, quando se detinham informações astrológicas sobre as quais a ciência engatinhava ao fim do século passado? O cataclismo que acometeu a Terra voltará a repetir-se? É cíclico? Haveria um princípio universal único integrando a tudo e a todos?

Há quem diga que sim e que sobrevirá um tempo em que a Terra irá se afirmar como um planeta de paz, fraternidade e respeito absoluto ao meio ambiente. Caso esta previsão venha a se concretizar, certamente aqui não estarão aqueles que desaprenderam a pensar.